Goriot e fez algumas despesas em vestidos, justificadas pela necessidade de dar à casa um certo decoro em harmonia com as respeitáveis personagens que a frequentavam. Empregou todos os meios para melhorar a categoria de seus pensionistas, alardeando a pretensão de não aceitar, daí por diante, senão pessoas das mais distintas sob todos os aspectos.
Se aparecia um estranho, ela exaltava a preferência que o sr. Goriot, um dos negociantes mais notáveis e mais respeitáveis de Paris, lhe havia conferido. Distribuiu prospectos em cujo cabeçalho se lia: Casa Vauquer. Era, dizia ela, uma das mais antigas e estimadas pensões burguesas do mundo latino. Oferecia uma vista das mais agradáveis sobre o vale dos Gobelins (podia ser visto do terceiro andar) e um encantador jardim, ao fundo do qual se estendia uma alameda de tílias. Falava, ainda, do ar puro e da solidão que o jardim proporcionava. Esse prospecto trouxe para sua casa a condessa d’Ambermesnil, mulher de trinta e seis anos que esperava o fim da liquidação e da regularização de uma pensão que lhe era devida, na qualidade de viúva de um general morto nos campos de batalha. A sra. Vauquer passou a cuidar da mesa, acendeu o fogo nas salas durante quase seis meses e cumpriu as promessas dos prospectos tão bem que até fez despesas. A condessa dizia à sra. Vauquer, chamando-a de querida amiga, que procuraria levar para lá a baronesa de Vaumerland e a viúva do conde Picquoiseau, duas amigas que iam completar três meses de permanência numa pensão do Marais mais cara que a Casa Vauquer. Aquelas senhoras, além disso, ficariam muito desafogadas quando os escritórios da guerra tivessem terminado seu trabalho.
— Mas — acrescentava ela —, os escritórios não terminam nunca.
As duas viúvas, após o jantar, subiam juntas ao quarto da sra. Vauquer e lá ficavam a tagarelar bebendo cassis e comendo gulodices, reservadas à boca da dona da casa. A sra. d’Ambermesnil aprovou entusiasticamente as pretensões de sua hospedeira, relativamente ao sr. Goriot, excelentes pretensões que, aliás, havia percebido desde o primeiro dia. Considerava-o um homem perfeito.
— Ah! Minha querida senhora, um homem são como meu olho — dizia-lhe a viúva —, um homem perfeitamente conservado e que ainda pode dar muito prazer a uma mulher.
A condessa fez generosamente observações à sra. Vauquer sobre seu vestuário, que não estava em harmonia com suas aspirações.
— Precisa colocar-se em pé de guerra — disse-lhe.
Após muitos cálculos, as duas viúvas foram juntas ao Palais-Royal, onde compraram, nas Galerias de Madeira, um chapéu de plumas e uma touca. A condessa levou a viúva à loja da Pequena Jeannette, na qual escolheram um vestido e um xale. Quando essas munições foram postas em uso e a viúva se viu de armas na mão, ficou perfeitamente parecida com a tabuleta do Boeuf à la mode. Apesar disso, ela se considerou tão melhorada que se sentiu obrigada para com a condessa e, embora pouco amiga de dar, pediu-lhe que aceitasse um chapéu de vinte francos. Ela tinha em vista, na verdade, pedir-lhe o serviço de sondar o sr. Goriot e de elogiá-la diante dele. A sra. d’Ambermesnil prestou-se muito amavelmente a essa manobra e assediou o velho fabricante de massas, conseguindo ter uma conferência com ele; mas, após tê-lo achado pudibundo, para não dizer refratário às tentativas que lhe sugeriu seu desejo particular de seduzi-lo por conta própria, ela saiu revoltada com sua grosseria.
— Meu anjo — disse ela à querida amiga —, não tirarás nada daquele homem! Ele é de uma desconfiança ridícula, um usurário, um animal, um tolo, que só te dará desgostos.
Houve entre o sr. Goriot e a sra. d’Ambermesnil tais coisas que a própria condessa não quis mais encontrar-se a sós com ele. No dia seguinte, ela partiu, esquecendo-se de pagar seis meses de pensão e deixando um vestido velho avaliado em cinco francos. Por maiores esforços que a sra.
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