A sra. Vauquer melhorara os três quartos desse apartamento mediante uma indenização prévia que, segundo se diz, teria pago o preço de um péssimo mobiliário composto de cortinas de algodão amarelo, poltronas de madeira envernizada estofadas com veludo de Utrecht, algumas pinturas malfeitas e papéis indignos de uma taberna de arrabalde. Talvez a displicente generosidade com que se deixou lograr o pai Goriot, que nessa época era respeitosamente chamado de sr. Goriot, tenha feito com que o considerassem um imbecil que nada entendia de negócios. Goriot chegou munido de um guarda-roupa abundante, o magnífico enxoval de um negociante que não quer se privar de nada ao retirar-se do comércio. A sra. Vauquer admirara dezoito camisas de meia-holanda, cuja finura era ainda mais notável porque o fabricante de massas usava no peitilho dois alfinetes unidos por uma correntinha, e cada um dos quais tinha engastado um grande diamante. Habitualmente vestido com um traje azul-claro, usava todos os dias um colete de piquê branco, sob o qual flutuava seu ventre piriforme e proeminente, que punha em destaque uma pesada corrente de ouro cheia de berloques. Sua tabaqueira, igualmente de ouro, continha um medalhão cheio de cabelos que o tornavam aparentemente culpável de algumas aventuras amorosas. Quando sua hospedeira o acusou de namorador, ele deixou errar sobre os lábios o alegre sorriso do burguês lisonjeado no seu fraco. Seus almários (ele pronunciava essa palavra à maneira da arraia-miúda) encheram-se com a numerosa prataria que trouxera de casa. Os olhos da viúva acenderam-se ao ajudá-lo prazenteiramente a desencaixotar e a pôr em ordem as conchas, as colheres de servir, os talheres, galhateiros, molheiras, vários pratos, aparelhos de chá de prata dourada, enfim, peças mais ou menos belas, pesando um certo número de marcos e de que ele não se queria desfazer, porque eram presentes que lhe recordavam as solenidades de sua vida doméstica.

— Isto — disse à sra. Vauquer, apertando contra o peito um prato e uma tigelinha cuja tampa representava duas pombas beijando-se — é o primeiro presente que minha mulher me deu, no dia de nosso aniversário. Pobrezinha! Guardou suas economias de solteira para comprá-la. Veja, eu preferiria cavar a terra com as unhas a separar-me disto. Graças a Deus! Poderei tomar meu café nesta tigela todas as manhãs, durante o resto dos meus dias. Não tenho de que me queixar, estou com meu pão garantido por muito tempo.

Finalmente, a sra. Vauquer viu muito bem, com seu olho de pega, algumas inscrições do Estado que, vagamente somadas, asseguravam ao excelente Goriot uma renda de oito a dez mil francos. Desde esse dia, a sra. Vauquer, nascida de Conflans, que tinha então quarenta e oito anos feitos e não admitia mais que trinta e nove, passou a ter certas ideias. Embora os olhos de Goriot estivessem sempre vermelhos, inchados, lacrimosos, o que o obrigava a enxugá-los frequentemente, ela o achou com uma expressão agradável e distinta. Além disso, suas panturrilhas musculosas, salientes, prognosticavam, como seu longo e volumoso nariz, qualidades morais que a viúva muito apreciava e que eram confirmadas pelo rosto lunar e ingenuamente simples do velhote. Devia ser um animal de sólida constituição, capaz de gastar em afeição todo o seu espírito. Seus cabelos em asas de pombo, que o cabeleireiro da Escola Politécnica vinha empoar todas as manhãs, desenhavam cinco pontas sobre sua testa fina e ornavam-lhe o rosto. Embora um pouco rústico, vestia-se com tamanho apuro, tomava tão elegantemente o rapé e o aspirava como um homem seguro de ter sempre a tabaqueira cheia de macuba que, no dia em que o sr. Goriot se instalou em sua casa, a sra. Vauquer foi deitar-se assando-se, como uma perdiz com as penas, ao fogo do desejo que a assaltou de deixar a mortalha do Vauquer para renascer com Goriot. Casar-se, vender a pensão, dar o braço a essa fina flor da burguesia, tornar-se uma senhora respeitável no bairro, pedir esmolas para os pobres, fazer pequenos passeios dominicais a Choisy, Soissy, Gentilly; ir ao teatro a seu bel-prazer, em camarote, sem esperar as entradas de favor que alguns pensionistas lhe davam, no mês de julho... Sonhou com todo o eldorado das pequenas famílias parisienses. Ela não revelara a ninguém que possuía quarenta mil francos, economizados soldo a soldo. Julgava-se, assim, no que se referia à fortuna, um bom partido.

— Quanto ao resto, valho tanto como ele! —, disse para si mesma, voltando-se no leito, como para certificar-se dos encantos que a gorda Sílvia via todos os dias amoldados em depressões no colchão.

Desde esse dia, durante cerca de três meses, a viúva Vauquer serviu-se do cabeleireiro do sr.