Não tolero indisciplina.

Tamanho poder deixou o principezinho maravilhado. Fosse dele tanto poder, ele poderia assistir não a quarenta e quatro, mas a setenta e dois ou até a cem ou mesmo a duzentos pores do sol no mesmo dia, sem nunca precisar puxar a cadeira! E, como se sentia um pouco triste por causa da lembrança de seu planetinha abandonado, atreveu-se a solicitar uma graça ao rei:

– Gostaria de ver um pôr do sol... Concedei-me essa graça... Ordenai ao sol que se ponha...

– Se eu ordenasse a um general que voasse de uma flor a outra como uma borboleta, ou que escrevesse uma tragédia, ou que se transformasse em gaivota, e se o general não cumprisse a ordem, quem, ele ou eu, estaria errado?

– Vossa majestade – disse com firmeza o principezinho.

– Exato. Deve-se exigir de cada um o que cada um pode dar – continuou o rei. – A autoridade baseia-se em primeiro lugar na razão. Se você ordenar a seu povo que se jogue no mar, ele fará uma revolução. Tenho o direito de exigir obediência porque minhas ordens são sensatas.

– E o meu pôr do sol? – lembrou o principezinho que nunca esquecia uma pergunta que fizesse.

– Você terá o pôr do sol. Exigi-lo-ei. Mas, com minha ciência governativa, esperarei que as condições sejam favoráveis.

– E quando vai ser? – inquiriu o principezinho.

– Hum! hum! – respondeu o rei, consultando antes um grande calendário – Hum! hum! Vai ser, por volta de... por volta de... vai ser esta noite por volta de sete e quarenta! E você verá como sou obedecido.

O principezinho bocejou. Lamentava ter perdido o pôr do sol. E também já estava um tanto entediado:

– Não tenho mais nada para fazer aqui – disse ao rei. – Vou embora!

– Não vá – respondeu o rei, que estava tão orgulhoso de ter um súdito. – Não vá, eu o faço ministro!

– Ministro de quê?

– De... da Justiça!

– Mas não há ninguém para julgar!

– Nunca se sabe – disse o rei. – Ainda não dei uma volta completa no meu reino. Estou muito velho, não tenho espaço para uma carruagem, e andar me deixa cansado.

– Oh! Mas eu já vi – disse o principezinho, inclinando-se para dar mais uma olhada do outro lado do planeta. – Ali também não há ninguém...

– Então você vai julgar a si mesmo – respondeu o rei. – É o mais difícil. É bem mais difícil julgar a si mesmo do que julgar as outras pessoas. Se conseguir julgar-se bem, é porque é um verdadeiro sábio.

– Eu posso me julgar em qualquer lugar – disse o principezinho. – Não preciso morar aqui.

– Hum! hum! – disse o rei. – Acho que em algum lugar do meu planeta existe um rato velho. Eu o ouço à noite. Você poderá julgar o rato velho. Poderá de vez em quando condená-lo à morte. Assim, a vida dele dependerá de sua justiça. Mas você o indultará todas as vezes para poupá-lo.