Só há um.

– Não gosto de condenar à morte – respondeu o principezinho. – Acho que já vou indo mesmo.

– Não – disse o rei.

Mas o principezinho, terminados os preparativos, não quis deixar pesaroso o velho monarca:

– Vossa Majestade, se quisesse ter pronta obediência, poderia me dar uma ordem sensata. Poderia, por exemplo, me ordenar que parta dentro de um minuto. Parece-me que as condições são favoráveis...

Como o rei não respondia, o principezinho primeiro hesitou e depois, com um suspiro, começou a ir embora...

– Faço-o meu embaixador – apressou-se então o rei a gritar.

Tinha um tremendo jeito de autoridade.

– Gente grande é bem estranha – disse o principezinho com seus botões durante a viagem.

25

26

XI

O segundo planeta era habitado por um vaidoso:

– Ah! Ah! Recebo a visita de um admirador! – exclamou de longe o vaidoso assim que avistou o principezinho.

Pois, para os vaidosos, os outros são admiradores.

– Bom dia – disse o principezinho. – Que chapéu gozado o seu.

– É para fazer a saudação – respondeu o vaidoso. – É para fazer a saudação quando me aclamam. Infelizmente nunca passa ninguém por aqui.

– Ah é? – disse o principezinho sem entender.

– Bata as mãos uma contra a outra – aconselhou o vaidoso.

O principezinho bateu as mãos uma na outra. O vaidoso fez modestamente uma saudação levantando o chapéu.

“Isso é mais divertido que a visita ao rei”, pensou o principezinho. E recomeçou a bater as mãos uma na outra. O vaidoso recomeçou a fazer saudações levantando o chapéu.

Depois de cinco minutos de exercício, o principezinho se cansou da monotonia da brincadeira:

– E para o chapéu cair, o que se deve fazer? – perguntou.

Mas o vaidoso não ouviu. Os vaidosos só ouvem elogios.

– Você me admira de verdade? – perguntou ele ao principezinho.

– O que significa “admirar”?

– “Admirar” significa reconhecer que sou o homem mais bonito, mais bem-vestido, mais rico e mais inteligente do planeta.

– Mas está sozinho no planeta!

– Faça-me esse favor. Admire-me assim mesmo!

– Admiro, sim – disse o principezinho, erguendo um pouco os ombros. – Mas por que isso poderia interessá-lo?

E o principezinho foi embora.

“Decididamente, gente grande é bem esquisita”, pensou simplesmente com seus botões durante a viagem.

XII

O planeta seguinte era habitado por um beberrão. Essa visita foi curtíssima, mas deixou o principezinho muito melancólico:

– Que está fazendo aí? – perguntou ao beberrão, que ele encontrou sentado em silêncio diante de uma coleção de garrafas vazias e uma coleção de garrafas cheias.

– Bebendo – respondeu o beberrão, de um jeito lúgubre.

– Por que bebe? – perguntou o principezinho.

– Para esquecer – respondeu o beberrão.

– Esquecer o quê? – inquiriu o principezinho, já com pena dele.

– Para esquecer que tenho vergonha – confessou o beberrão, abaixando a cabeça.

– Vergonha de quê? – inquiriu o principezinho, querendo ajudá-lo.

– Vergonha de beber! – concluiu o beberrão, fechando-se de vez no silêncio.

E o principezinho foi embora, perplexo.

“Decididamente, gente grande é bem esquisita”, foi ele pensando com seus botões durante a viagem.

pgint

XIII

O quarto planeta era do homem de negócios. Esse homem estava tão ocupado que nem sequer levantou a cabeça quando o principezinho chegou.

– Bom dia – disse este. – Seu cigarro está apagado.

– Três mais dois são cinco. Cinco mais sete, doze. Doze mais três, quinze. Bom dia. Quinze mais sete, vinte e dois. Vinte e dois mais seis, vinte e oito. Sem tempo pr’acender. Vinte e seis mais cinco, trinta e um. Ufa! Portanto são quinhentos e um milhões, seiscentos e vinte e dois mil, setecentos e trinta e um.

– Quinhentos milhões de quê?

– Hein? Ainda está aí? Quinhentos e um milhões de... já não sei... tenho tanto trabalho! Sou uma pessoa séria, não me distraio com bobagens! Dois mais cinco, sete...

– Quinhentos milhões de quê? – repetiu o principezinho, que nunca na vida tinha desistido de uma pergunta depois de fazê-la.

O homem de negócios levantou a cabeça:

– Faz cinquenta e quatro anos que moro neste planeta, só fui perturbado três vezes. A primeira faz vinte e dois anos, por um besouro que caiu Deus sabe de onde. Fazia uma barulheira infernal, e cometi quatro erros numa soma. A segunda foi há onze anos, por uma crise de reumatismo. Não faço exercício.