Preciso de uma ovelha. Desenhe uma ovelha para mim.

Então desenhei.

05

Ele olhou atentamente e:

– Não! Essa já está muito doente. Faça outra.

Desenhei:

06

Meu amigo sorriu amável, indulgente:

– Veja bem... isso não é uma ovelha, é um carneiro. Tem chifres...

Portanto, refiz o desenho:

07

Mas foi recusado, como os anteriores:

– Essa está velha demais. Quero uma ovelha que viva ainda muito tempo.

Então, já sem paciência, como eu tinha pressa de começar a desmontar o motor, rabisquei este desenho aqui:

E arrisquei:

08

– Isto é um caixote. A ovelha que você quer está aí dentro.

Mas qual não foi minha surpresa ao ver o rosto de meu jovem juiz se iluminar:

– Era exatamente assim que eu queria! Você acha que essa ovelha precisa de muito capim?

– Por quê?

– Porque lá em casa é bem pequeno...

– Vai ser suficiente, sem dúvida. Eu lhe dei uma ovelha bem pequenininha.

Ele inclinou cabeça para o desenho:

– Nem tão pequena assim... Olhe! Pegou no sono...

E foi assim que fiquei conhecendo o pequeno príncipe.

pgint

Vejam aí o melhor retrato que consegui fazer dele, depois.

09

III

Precisei de muito tempo para entender de onde ele vinha. O principezinho, que me fazia muitas perguntas, nunca parecia entender as minhas. Palavras ditas por acaso, pouco a pouco, foram me revelando tudo. Assim, quando notou meu avião pela primeira vez (não vou desenhar o avião, é um desenho complicado demais para mim), perguntou:

– Que coisa é essa?

– Não é uma coisa. Isso voa. É um avião. É meu avião.

Estava orgulhoso de lhe informar que eu voava. Então ele exclamou:

– Como assim! Você caiu do céu?!

– Sim – disse eu com modéstia.

– Ah! Que gozado!...

E o principezinho soltou uma linda gargalhada que me deixou muito irritado. Gosto que levem minhas desgraças a sério. Depois ele acrescentou:

– Então você também está vindo do céu! De que planeta você é?

Logo tive um lampejo sobre o mistério de sua presença e perguntei de repente:

– Então você vem de outro planeta?

Mas ele não respondeu. Ficou balançando a cabeça devagar, enquanto olhava para o meu avião:

– A verdade é que, desse jeito, você não deve ter vindo de muito longe...

E abismou-se num devaneio que durou muito tempo. Depois, tirando minha ovelha do bolso, mergulhou na contemplação de seu tesouro.

Imaginem como fiquei intrigado com aquela semiconfidência sobre “os outros planetas”. Por isso, fazia de tudo para saber mais:

– De onde você vem, garotinho? Onde fica “lá em casa”? Para onde você quer levar minha ovelha?

Ele respondeu depois de meditar em silêncio:

– O bom do caixote que você me deu é que, de noite, pode servir de casa para ela.

– Claro. E, se você for bonzinho, também vou lhe dar uma corda para amarrá-la durante o dia. E uma estaca.

A proposta pareceu chocar o principezinho:

– Amarrar? Que ideia maluca!

– Mas, se você não a amarrar, ela vai sair por aí e se perder.

E meu amigo soltou outra gargalhada:

– Mas você acha que ela vai para onde?

– Qualquer lugar. Vai indo reto em frente...

Então o principezinho observou, sério:

– Não faz mal, é tão pequeno lá em casa!

E, talvez com certa melancolia, acrescentou:

– Reto em frente ninguém pode ir muito longe...

pgint

O principezinho no asteroide B 612.

11

IV

Assim, fiquei sabendo de outra coisa importantíssima: o planeta de origem dele era pouco maior que uma casa!

Isso não me causava grande espanto. Eu sabia muito bem que, afora os grandes planetas como Terra, Júpiter, Marte, Vênus, que têm nomes, há centenas de outros às vezes tão pequenos que mal podem ser avistados no telescópio. Quando descobre um deles, o astrônomo lhe dá um número por nome. Chama-o, por exemplo, de “asteroide 325”.

Tenho sérias razões para acreditar que o planeta de onde vinha o principezinho é o asteroide B 612. Esse asteroide só foi avistado uma vez no telescópio, em 1909, por um astrônomo turco.

Então ele fez uma grande demonstração de sua descoberta num congresso internacional de astronomia. Mas ninguém acreditou nele por causa de seus trajes. Gente grande é assim.

12

Felizmente para a reputação do asteroide B 612, um ditador turco obrigou seu povo a vestir-se como os europeus, sob pena de morte.