O astrônomo repetiu a demonstração em 1920, usando um fraque muito elegante. E dessa vez todos concordaram com ele.
Se lhes contei esses pormenores sobre o asteroide B 612 e lhes revelei seu número, é por causa da gente grande. Gente grande gosta de números. Quando falamos de um novo amigo, gente grande nunca indaga sobre o essencial. Nunca diz: “Como é o som da voz dele? Quais são seus jogos preferidos? Ele coleciona borboletas?”. Pergunta: “Que idade tem? Quantos irmãos tem? Quanto pesa? Quanto ganha o pai dele?”. Só aí acha que o conhece. Se disserem aos grandes: “Vi uma bela casa de tijolos cor-de-rosa, gerânios nas janelas e pombas no telhado...”, eles não conseguirão imaginar essa casa. É preciso dizer: “Vi uma casa de cem mil francos”. Então dirão: “Que lindo!”.
Assim, se lhes dissermos: “A prova de que o principezinho existiu é que ele era encantador, ria e queria uma ovelha. Querer uma ovelha é prova de que alguém existe”, os grandes darão de ombros e nos chamarão de criança! Mas se dissermos: “O planeta de onde ele vinha é o asteroide B 612”, todos ficarão convencidos e nos deixarão tranquilos com suas perguntas. Gente grande é assim. Não devemos querer-lhe mal. As crianças precisam ser muito compreensivas com a gente grande.
Mas, claro, nós que entendemos a vida não ligamos para números! Eu teria adorado começar esta história ao modo dos contos de fadas. Teria adorado dizer:
“Era uma vez um pequeno príncipe que morava num planeta pouco maior que ele; esse príncipe precisava de um amigo...” Para quem entende a vida, isso teria muito mais jeito de verdade.
Pois não gosto que leiam meu livro levianamente. Sinto tanto pesar quando conto essas lembranças. Já faz seis anos que meu amigo se foi com sua ovelha. Se tento descrevê-lo aqui, é para não o esquecer. É triste esquecer um amigo. Nem todo mundo teve um amigo. E eu posso ficar como as pessoas que depois de grandes só se interessam por números. Também foi só por isso que comprei uma caixa de tintas e lápis. É duro voltar a desenhar na minha idade, quando as únicas tentativas foram uma jiboia fechada e uma jiboia aberta, aos seis anos de idade! Claro que vou tentar fazer os retratos mais parecidos possíveis com ele. Mas não estou totalmente seguro de que vou conseguir. Um desenho é razoável, o outro não se parece nada. Além disso, eu me engano um pouco no tamanho. Uma hora o pequeno príncipe é muito grande. Outra, é muito pequeno. Também não tenho muita certeza da cor da roupa dele. Então fico tentando, de um jeito ou de outro, como posso.
1 comment