Como já li esta Geologia inteira, proponho-me a ser o professor.
— Ótimo! — exclamou Pedrinho levantando-se. Vou avisar o pessoal que as aulas começam hoje mesmo. Otimíssimo...
Foi assim que começou o petróleo no Brasil.

O primeiro serão
Pedrinho arrumou a sala como um anfiteatro de escola superior. Um tamborete em cima da mesa ficou sendo a cátedra do mestre. Na primeira fila de cadeiras sentaram-se Narizinho, Emília e ele. Na segunda, Dona Benta e tia Nastácia. Pedrinho fez questão de que a pobre negra também se formasse em geologia.
Naquela noite, logo que todos se reuniram, Pedrinho plantou o geólogo na cátedra.
— Nivele as extremidades e comece, Senhor Visconde.
O sábio assim fez; depois de apoiar os pés na geologia, erguendo-os ao nível da cartolinha, cuspiu o pigarro e começou:
— A Geologia é a história da Terra. Tudo que aconteceu desde o nascimento deste nosso Planeta se acha escrito nas rochas que o formam. A terra é uma rocha, uma bola de pedra.
Como nasceu? Temos de adivinhar, porque nenhum de nós assistiu a isso. Uns imaginam que foi dum jeito. Outros imaginam que foi de outro jeito. Vou contar como nós, sábios, imaginamos o nascimento da terra.
Em certo instante do Tempo Infinito, destacou-se do Sol um pedaço da massa de fogo que ele é e ficou regirando no espaço. A Terra, portanto, começou sendo uma bolota de fogo no espaço...
— Espécie de bomba de pistolão! — gritou Emília.
— Sim. Tal qual bomba de pistolão. Mas as bombas de pistolão descrevem uma curva e caem. A bolinha de fogo de nome Terra, em vez de cair, ficou toda a vida a regirar em torno do canudo do pistolão, que era o Sol. E foi se resfriando. Quando eu digo bola de fogo, é um modo de dizer. Era uma bola de minerais derretidos, ou pedra derretida. Dessa massa candente escapou mais tarde o espirro que formou a Lua.
— E por que motivo a Terra foi se esfriando? — perguntou Narizinho.
— Porque a tendência do calor é espalhar-se. Tudo que é quente esfria porque o calor se espalha — sai do corpo quente espalha-se pelo espaço. O calor irradia-se, como dizem os sábios. De modo que o calor da bola de minerais derretidos que chamamos Terra foi se irradiando — e até hoje está se irradiando.
— Como isso? Pois então já não está totalmente fria a Terra?
— Não. Já que esfria de fora para dentro, só está fria na crosta, ou na casca onde nós, e todos os animais e plantas, vivemos. Mas à medida que vamos afundando dentro da terra, o calor cresce.
— Como sabe disso?

Depois de apoiar os pés na geologia, cuspiu o pigarro e começou: — A Geologia é a história da Terra.
— Em qualquer perfuração profunda observa-se muito bem esse fato. O termômetro, que é o instrumento de medir a temperatura, sobe de um grau a cada 25 metros de descida. Nessa marcha a dois ou três quilômetros de fundo temos a temperatura da água em ebulição; e a trinta ou quarenta quilômetros temos a temperatura em que os metais se derretem.,
— Que horror! Quer dizer então que lá bem no centro da terra o calor é de nem se fazei idéia?...
— Exatamente. Não podemos fazer idéia dele. Além desse aumento do calor com a fundura, ainda existem muitas outras provas do calor central da terra.
— Os vulcões! — gritou Emília.
— Sim os vulcões. São aberturas por onde o fogo interno jorra.
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