Hoje há muito poucos vulcões, uns 250; mas no começo a superfície inteira da crosta era coalhadinha de vulcões.

     Como sabe?

     Porque pela superfície inteira da terra vemos sinais de vulcões extintos — as rochas derretidas que saíram deles, as rochas ígneas, ou eruptivas, como se diz em geologia. Temos, ainda, os gêiseres, que são repuxos de água quente. Se a água sai quente, de alguma parte recebe o calor.

     Mas como nós não sentimos esse calor aqui em cima?

     Porque já há uma espessa camada de rochas quase fria, entre nós e as zonas de calor ainda forte. Essa camada constitui a crosta da Terra. Resfriou-se; as rochas derretidas que a compunham solidificaram-se — e como são más condutoras do calor, evitam que morramos assados aqui em cima.

Nos vulcões ativos podemos ter uma prova de como a coisa é. A lava que escorre desses vulcões, sai candente, derretida, em forma de pasta mole; o calor é tanto que nem olhar para aquilo de perto a gente pode. Cega os olhos. Mas logo que se afasta da cratera, a lava começa a resfriar-se, muda de cor; perde o fulgor cegante e fica vermelha, depois vermelho-escuro e por fim preta. A massa endurece por cima e esfria a ponto de podermos passear sobre ela; mas dentro o calor continua bravo.

—    Muito bem, Visconde — disse Narizinho. Chega de calor. Já estou suando. Fale das rochas.

O Visconde falou.

—    Chamamos rocha a essa massa de minerais derretidos que se esfriaram e solidificaram. São compostas duma mistura de minerais simples, verdadeira salada. Existem nelas sílica, quartzo, mica, feldspato, ferro e todo os minerais que conhecemos.

A terra, portanto, aos resfriar-se, ficou uma bola com casca de pedra dura, ou de rochas ígneas, também chamadas eruptivas ou plutônicas.

—    Que quer dizer ígnea? — indagou Pedrinho. — Ígneo significa neste caso produzido pelo fogo. Essa bola de pedra dura regirava no espaço envolvida por uma camada de ar e uma imensa nuvem de vapores. Esses vapores, compostos de hidrogênio e oxigênio, formavam uma combinação de nome água, interessante por mil razões, entre as quais a de ser a nossa mãe — a mãe de todos os seres vivos, animais e plantas.

    Que engraçado! Nunca pensei nisso.

    Pois é. A água é a mãe da vida — e o pai é o calor. Sem água e calor não há vida possível. Mas no começo, não havia água. Só havia vapor de água, ou água em estado gasoso. O oxigênio e o hidrogênio quando se combinam ficam rebeldes ao calor excessivo. Por essa razão, em vez de permanecerem incorporados na massa candente da terra, fugiram, ficando suspensos no ar sob forma de grande nuvem a envolver a bola.

Assim, porém, que a crosta da terra entrou a resfriar-se e a consolidar-se, a água passou do estado gasoso para o estado líquido — e desceu sob forma de chuva para irrigar a crosta. A água acumulada nas partes mais baixas deu origem aos oceanos, mares e lagos. A que caiu nas partes mais altas deu origem aos rios. Ainda hoje a água sofre a ação do calor do sol e evapora-se, para cair de novo sob forma de chuva; mas daqui a milhões de anos o calor do sol não dará para evaporar a água e ela então ficará unicamente em estado líquido.

    Ou sólido — ajuntou Pedrinho.

    Perfeitamente. Quando por cima de toda a crosta da terra o calor do sol for tão pouco como já é hoje nas regiões polares, então toda a água do mundo se congelará. Os rios secarão, porque não havendo chuvas que os alimentem não pode haver rios — e os lagos e os mares se transformarão em imensas planícies de gelo.

    Que ótimo! — exclamou Emília. Poderemos ir daqui à Europa numa volada de patins.

    Ótimo, nada! — contestou Pedrinho. Nesse tempo estará extinta a vida na terra, como já se extinguiu nos pólos.