Não tema nada. Um novo hedonismo – isso é o que nosso século deseja. Você poderia ser seu símbolo visível. Com a sua personalidade, não há nada que você não possa fazer. O mundo pertence a você por uma temporada. No momento em que o conheci, vi que você estava bem inconsciente do que realmente é, do que poderia ser. Há tanto em você que me encanta que eu senti o dever de lhe falar tudo sobre si mesmo. Pensei em como seria trágico se você fosse desperdiçado. Pois será por um tempo muito pequeno que sua juventude durará – um tempo muito pequeno. As comuns flores da montanha murcham, mas florescem novamente. O laburno será tão dourado em junho quanto o é hoje. Em um mês, haverá estrelas púrpuras nas clematis e, ano após ano, a verde noite de suas folhas ganhará suas estrelas púrpuras. Mas nós nunca recuperamos nossa juventude. O pulso da alegria que reverbera em nós aos vinte anos se torna letárgico. Nossos membros falham, nossos sentidos apodrecem. Degeneramo-nos em marionetes horrendas, assombrados pela memória das paixões das quais tivemos tanto medo e as intensas tentações às quais não ousamos ceder. Juventude! Juventude! Não há absolutamente nada no mundo além de juventude!”

Dorian Gray ouvia, com olhos escancarados e maravilhados. O ramalhete de lilás caiu de sua mão sobre o cascalho. Uma abelha peluda se aproximou e zumbiu ao redor por um momento. Depois, começou a se arrastar sobre a púrpura corroída das pequenas florescências. Ele observava a cena com aquele estranho interesse nas coisas triviais que tentamos desenvolver quando assuntos de alta importância nos assustam ou quando somos eriçados por alguma nova emoção, para a qual não conseguimos encontrar expressão, ou quando algum pensamento que nos amedronta arma um cerco súbito ao cérebro e nos convoca a capitular. Depois de um tempo, a abelha voou. Ele a viu trepando em uma trombeta manchada de uma corriola de Tiro. A flor pareceu tremer e, então, se inclinou gentilmente para frente e para trás.

De súbito Hallward apareceu à porta do estúdio e fez sinais frenéticos para que eles entrassem. Viraram-se um para o outro e sorriram.

“Estou esperando”, exclamou Hallward. “Entrem. A luz está bastante perfeita e vocês podem trazer suas bebidas”.

Eles se ergueram e saracotearam pelo passeio juntos. Duas borboletas verdes e brancas revolutearam atrás deles, e na pereira ao final do jardim, um melro começou a cantar.

“Você está feliz por me conhecer, senhor Gray”, disse lorde Henry, olhando para ele.

“Sim, estou feliz agora. Pergunto-me se sempre ficarei feliz”.

“Sempre! Esta é uma palavra assustadora. Faz-me tremer quando a ouço.