As mulheres gostam tanto de usá-la. Elas estragam cada romance ao tentá-lo fazer durar para sempre. É, também, uma palavra sem sentido. A única diferença entre um capricho e uma paixão para a toda vida é que o capricho dura um pouco mais”.
Assim que entraram no estúdio, Dorian Gray colocou sua mão sobre o braço de lorde Henry. “Neste caso, deixe que nossa amizade seja um capricho”, ele murmurou, corando com sua própria ousadia e então pisou sobre a plataforma, retomando sua pose.
Lorde Henry jogou-se em uma grande poltrona de vime e o observou. O mover e a arremetida do pincel sobre a tela faziam os únicos sons que quebravam o silêncio, exceto quando Hallward recuava, de vez em quando, para olhar seu trabalho à distância. Nos raios inclinados que corriam pelo corredor aberto, o pó dançava e era dourado. O forte perfume das rosas parecia dar origem a tudo.
Depois de uns quinze minutos, Hallward parou de pintar, olhou por um bom tempo para Dorian Gray e depois por muito tempo para a pintura; e mordendo a ponta de um de seus enormes pincéis, sorriu. “Está completamente terminado”, ele exclamou, por fim, e inclinando-se, escreveu seu nome em pequenas letras bem vermelhas no canto esquerdo da tela.
Lorde Henry se aproximou e examinou o retrato. Certamente era um trabalho de arte maravilhoso e uma maravilhosa semelhança também.
“Meu caro amigo, eu lhe felicito efusivamente”, ele disse. “Senhor Gray, venha e olhe você mesmo”.
O rapaz pulou, como se despertado de algum sonho. “Está realmente terminado?”, ele murmurou, descendo da plataforma.
“Completamente terminado”, disse Hallward. “E você posou esplendidamente hoje. Devo-lhe muito”.
“Isto é totalmente um mérito meu”, interrompeu lorde Henry. “Não é, senhor Gray?”
Dorian não respondeu, mas passou indiferentemente defronte ao seu retrato e voltou-se para ele. Quando o viu, recuou, e seu rosto corou de prazer por um momento. Um ar de alegria chegou-lhe aos olhos, como se ele se reconhecesse pela primeira vez. Ele permaneceu imóvel e maravilhado, pouco consciente de que Hallward falava com ele, mas não apreendia o significado de suas palavras. A sensação de sua própria beleza lhe viera como uma revelação. Ele nunca a sentira antes. Os elogios de Basil Hallward lhe pareciam ser somente os encantadores exageros da amizade. Ele os ouvia, ria deles e os esquecia. Não haviam influenciado sua natureza. Então chegara lorde Henry, com sua estranha apologia sobre sua juventude e o seu terrível alerta sobre sua brevidade. Isso o eriçara naquele momento e agora, enquanto permanecia fitando à sombra de seu próprio encanto, a realidade plena da descrição relampejava através dele. Sim, haveria um dia quando seu rosto ficaria enrugado e decaído, seus olhos obscuros e sem cor, a graça de sua figura quebrada e disforme. O escarlate morreria em seus lábios e o ouro eliminado de seus cabelos. A vida que deveria fazer sua alma, arruinaria seu corpo. Ele se tornaria ignóbil, horrível e rude.
Enquanto ele pensava nisso, uma aguda pontada de dor atingiu-lhe como uma faca e fez cada delicada fibra de sua natureza tremer. Seus olhos afundaram em ametistas e uma névoa de lágrimas veio até eles.
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