Uma de suas pernas estava tão erguida que o soldadinho de chumbo não conseguia vê-la. Então pensou que, como ele, ela também tinha uma perna só.

“Ela seria uma boa esposa para mim”, ele pensou. “Mas é tão nobre e vive num castelo, enquanto eu vivo em uma caixa, que divido com vinte e quatro camaradas. Não é lugar para ela. Ainda assim, preciso conhecê-la!” Então ele se escondeu atrás de uma caixa de rapé que estava sobre a mesa. Dali podia observar muito bem aquela senhorita.

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Quando a noite chegou, todos os outros soldadinhos de chumbo foram guardados na caixa, e as pessoas da casa foram para a cama. Então os brinquedos começaram a brincar. Era nessa hora que eles guerreavam e faziam visitas e festas.

Os soldados de chumbo remexiam-se na caixa, mas não conseguiam mover a tampa. O quebrador de nozes dava cambalhotas, e o giz fazia cálculos em uma lousa.

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O barulho era tanto que o papagaio acordou e começou a falar, e em verso! Os únicos que não se mexiam eram o soldadinho de chumbo e a bailarina. Ela continuava firme em uma única perna, na ponta do pé, com os braços estendidos. Ele também continuou firme em sua perna, sem tirar os olhos dela nem por um instante.

Então o relógio bateu meia-noite e... surpresa! A tampa da caixa de rapé se abriu. Só que não havia rapé dentro dela, mas um mago de mola. Ele era muito bem-feito.

– Soldadinho de chumbo! – disse o mago. – Cuide da sua vida!

Mas o soldadinho fingiu não ter ouvido.

– Tudo bem, espere até amanhã – disse o mago.

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Quando amanheceu e as crianças se levantaram, o soldadinho de chumbo foi colocado na janela. De repente, não sabemos se por obra do mago ou do vento, a janela se fechou e o soldadinho caiu de cabeça para baixo lá do quarto andar. Tudo aconteceu muito rápido. Ele ficou jogado no chão, quase embaixo de um grande arbusto.

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A empregada e o garotinho desceram imediatamente para procurá-lo e, embora quase tenham pisado nele, não o encontraram. Se o soldadinho tivesse gritado “Estou aqui!”, eles saberiam onde ele estava. Mas ele achou inapropriado gritar assim, já que estava de uniforme.

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Então começou a chover. E logo a chuva se transformou num aguaceiro. Quando parou, dois garotos se aproximaram.

– Ei, olhe! – disse um deles. – É um soldadinho de chumbo. E ele vai navegar.

Os dois fizeram um barco de papel e puseram o soldadinho a bordo. O barquinho saiu navegando pela sarjeta. A enxurrada era forte. O barco subia, descia e rodopiava, sacudindo o soldadinho. Mas ele permanecia ereto e sequer piscava. Mantinha o olhar fixo para a frente e o mosquete sobre o ombro.

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De repente, o barco foi levado para dentro de uma boca de lobo, e tudo ficou escuro.

“Para onde será que estou sendo levado?”, pensou o soldadinho. “Tudo isso é culpa do mago! Ah, se a bailarina estivesse comigo neste barco, poderia escurecer ainda mais que eu não ligaria.”

Foi então que apareceu um rato-de-esgoto, que vivia por ali.

– Você tem passaporte? – perguntou o rato.