Major continuou:

-Pouco mais tenho a dizer. Apenas quero repetir:

...

13

...

GEORGE ORWELL

...

recordem sempre o vosso dever de hostilidade para com o Homem

e todos os seus métodos. Tudo o que ande com dois pés é

inimigo. Tudo o que ande com quatro pés, ou tenha asas, é

amigo. E lembrem-se também de que, ao lutarmos contra o Homem,

não devemos vir a parecer-nos com ele. Mesmo quando o

vencermos, não devemos adoptar os seus vícios. Nenhum animal

deverá viver numa casa, dormir numa cama, usar roupas, beber

álcool, fumar, tocar em dinheiro ou comerciar. Todos os

hábitos do Homem são maus. E, principalmente, nenhum animal

deve tiranizar os da sua espécie.

Fracos ou fortes, espertos ou estúpidos, somos todos irmãos.

Nenhum animal deve matar qualquer outro animal. Todos os

animais são iguais. E agora, camaradas, vou falar-vos do meu

sonho da noite passada. Não vos posso descrevê-lo. Sonhei como

será a Terra quando o Homem desaparecer. Mas isso fez-me

recordar uma coisa que há muito tinha esquecido. Há muitos

anos, quando eu era ainda leitão, a minha mãe e as outras

porcas costumavam cantar uma velha cantiga, da qual sabiam

apenas a música e as três primeiras palavras.

Conheci essa música na minha infância, mas já a tinha

esquecido. Na noite passada, contudo, voltei a recordá-la no

meu sonho. E o que é curioso é que me ocorreram as palavras da

cantiga, palavras que, tenho a certeza, eram cantadas pelos

animais há muito tempo e estiveram esquecidas durante

gerações. Vou agora cantar-vos essa cantiga, camaradas. Estou

velho e a minha voz está rouca, mas, quando vos ensinar a

música, vocês próprios

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14

O TRIUNFO DOS PORCOS

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poderão cantá-la melhor que eu. Chama-se Animais de

Inglaterra.

O velho Major aclarou a garganta e começou a cantar. Como

ele dissera, a sua voz era rouca, mas cantou razoavelmente bem

e a melodia era arrebatadora, qualquer coisa entre Clementine

e Lã Cururacha.