A letra era assim:

Animais de Inglaterra, animais da Irlanda Animais de todas as

terras e climas, Escutai as minhas alegres notícias Do tempo

futuro, que será dourado.

Cedo ou tarde virá o dia, O Homem tirano será destronado, E os

férteis campos da Inglaterra Serão percorridos só por animais.

As argolas desaparecerão dos nossos focinhos E os arreios das

nossas costas, Freio e espora enferrujarão para sempre.

Os chicotes cruéis não mais estalarão.

Mais ricos que o imaginável, Trigo e cevada, aveia e feno,

Trevo, feijão e beterraba, Tudo será nosso nesse dia.

Vivamente brilharão os campos da Inglaterra, Mais límpidas

serão as suas águas, As suas brisas soprarão mais doces, No

dia em que formos livres.

...

15

GEORGE ORWELL

...

Por esse dia devemos todos trabalhar, Mesmo morrendo

antes que desponte;

Vacas e cavalos, gansos e perus,

Todos têm de lutar pela liberdade.

Animais da Inglaterra, animais da Irlanda,

Animais de todas as terras e climas,

Escutai bem e espalhai a notícia

Do tempo futuro, que será dourado.

A cantiga provocou nos animais uma grande excitação. Antes

que Major tivesse acabado, começaram a cantá-la eles próprios.

Mesmo os mais estúpidos já tinham apanhado a música e algumas

palavras e, quanto aos mais inteligentes, como os porcos e os

cães, ao fim de poucos minutos sabiam a cantiga de cor. E

então, depois de umas ensaiadelas prévias, toda a quinta

desatou a cantar Animais da Inglaterra em uníssono. As vacas

mugiam, os cães ganiam, os carneiros batiam, os cavalos

relinchavam, os patos grasnavam. Estavam tão contentes com a

cantiga que a repetiram cinco vezes sucessivas e teriam

continuado durante toda a noite se não tivessem sido

interrompidos.

Infelizmente, a algazarra acordou o Sr. Jones, que saltou da

cama, certo de que andava uma raposa no pátio. Agarrou na

espingarda que tinha sempre a um canto do quarto e descarregou

uma série de seis tiros na escuridão. Os grãos de chumbo

cravaram-se na parede do celeiro e a assembléia dispersou

apressadamente. Cada um fugiu para o seu dormitório. Os

pássaros saltaram para os poleiros, os outros animais

instalaram-se na palha e, daí a pouco, toda a quinta dormia.

...

16

CAPITULO II

...

Três noites depois, o velho Major morreu serenamente

durante o sono. O seu corpo foi enterrado ao fundo do pomar.

Estes acontecimentos deram-se no princípio de Março.

Durante os três meses seguintes, houve muita actividade

secreta. O discurso de Major dera aos animais mais

inteligentes da quinta uma visão completamente diferente da

vida. Não sabiam quando teria lugar a Revolta vaticinada

porMajor, nem tinham motivos para pensar que aconteceria

durante a própria vida, mas entendiam que era seu dever

prepararem-se para ela.