O último dos moicanos

Título original: The Last of the Mohicans: A Narrative of 1757
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Capa e ilustração: Rafael Nobre
CIP-Brasil. Catalogação na publicação
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
C788u
Cooper, James Fenimore, 1789-1851
O último dos moicanos [recurso eletrônico] / James Fenimore Cooper; tradução Ruy Jungmann. – 3. ed. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2018.
recurso digital (Biblioteca áurea)
Tradução de: The last of the mohicans: a narrative of 1757
Formato: ebook
Requisitos do sistema: Adobe Digital Editions
Modo de acesso: World Wide Web
ISBN 9788520943601 (recurso eletrônico)
1. Romance americano. 2. Livros eletrônicos. I. Jungmann, Ruy. II. Título. III. Série.
18-53379
CDD: 813
CDU: 82-31(73)
Vanessa Mafra Xavier Salgado – Bibliotecária – CRB-7/6644
Sumário
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Capítulo XIII
Capítulo XIV
Capítulo XV
Capítulo XVI
Capítulo XVII
Capítulo XVIII
Capítulo XIX
Capítulo XX
Capítulo XXI
Capítulo XXII
Capítulo XXIII
Capítulo XXIV
Capítulo XXV
Capítulo XXVI
Capítulo XXVII
Capítulo XXVIII
Capítulo XXIX
Capítulo XXX
Capítulo XXXI
Capítulo XXXII
Capítulo XXXIII
Capítulo I
“Meus ouvidos estão abertos, e o meu coração preparado:
O pior não podes piorar, e é apenas perda profana:
Dize-me, meu reino está perdido?”
Shakespeare
Constituía um aspecto peculiar das guerras coloniais da América do Norte que as labutas e perigos do ermo bravio tivessem que ser enfrentados antes que ocorresse o choque com hostes inimigas. Uma larga e aparentemente impenetrável fronteira composta de florestas separava as possessões das províncias hostis da França e da Inglaterra. O valente colono e o europeu treinado que combatia a seu lado muitas vezes passavam meses lutando contra as corredeiras dos rios ou cruzando os passos alcantilados das montanhas em busca de uma oportunidade de exibir coragem em conflito mais marcial. Mas, imitando a paciência e o espírito de sacrifício dos experientes guerreiros nativos, aprenderam a superar todas as dificuldades. E pareceu que, no devido tempo, não havia esconderijo tão escuro nos bosques, nem lugar secreto tão belo, que pudesse alegar ter ficado livre da invasão daqueles que empenhavam seu sangue para saciar a sede de vingança ou manter a fria e egoística política dos distantes monarcas da Europa.
Talvez nenhum distrito em toda a vasta extensão de fronteira intermediária pudesse fornecer um quadro mais vivo da crueldade e ferocidade das guerras com os índios nesse período do que o território que se estende entre as cabeceiras do Hudson e os lagos vizinhos.
As facilidades que a natureza ali oferecia à marcha dos combatentes eram óbvias demais para serem negligenciadas. O extenso lençol de água do Champlain descia desde as fronteiras do Canadá até bem dentro da província vizinha de Nova York, formando uma passagem natural através de metade da distância que os franceses eram obrigados a cruzar para atacar seus inimigos. Perto de sua extremidade sul, o Champlain recebia a contribuição de outro lago, cujas águas eram límpidas a ponto de terem sido escolhidas com exclusividade pelos missionários jesuítas para cumprir a purificação típica do batismo e de darem a ele o título de lago “du Saint Sacrement”. Os ingleses, menos fanáticos, acharam que conferiam honra suficiente às suas fontes imaculadas quando lhe deram o nome de seu príncipe reinante, o segundo da casa de Hanover. E os dois povos se uniram para roubar os donos ignorantes do cenário coberto de árvores de seu direito nativo de perpetuar o nome original do lugar, “Horican”.1
Serpenteando através de incontáveis ilhas e engastado nas montanhas, o “lago sagrado” prolongava-se ainda por mais 12 léguas na direção sul. Com o alto platô que aí se interpunha à continuação da viagem por água, começava o transporte por terra, por muitos quilômetros, das embarcações que conduziam o aventureiro até as margens do Hudson em um ponto em que, com as obstruções habituais das corredeiras, ou águas pedregosas, como eram conhecidas na linguagem da terra, o rio se tornava navegável no sentido da corrente.
Muito embora, na execução de seus ousados planos de fustigamento, os incansáveis e ativos franceses tentassem mesmo chegar às gargantas distantes e difíceis do Alleghany, pode-se facilmente imaginar que, com sua proverbial esperteza, eles não ignorariam as vantagens do distrito que acabamos de descrever. Essa zona tornou-se, e nisso não estamos exagerando, uma arena sanguinolenta, na qual foi travada a maioria das batalhas pelo domínio das colônias. Em diversos pontos, foram construídos fortes que dominavam os acessos à rota, que eram tomados e retomados, nivelados com o chão e reconstruídos, à medida que a vitória contemplava as bandeiras rivais. Enquanto os lavradores recuavam dos passos perigosos para as fronteiras mais seguras de povoados mais antigos, exércitos mais numerosos do que aqueles que com frequência haviam conduzido os cetros das mães-pátrias se enterravam nessas florestas, de onde raramente voltavam, salvo em bandos dizimados, encovados pelas preocupações ou deprimidos pela derrota. Embora as artes da paz fossem desconhecidas nessa região fatídica, suas florestas borbulhavam de homens, suas depressões escuras e ravinas vibravam com sons de música marcial, enquanto suas montanhas devolviam o eco de risos ou repetiam o grito debochado de muitos corajosos e temerários jovens que passavam apressados por elas, no meio-dia da coragem, para dormir a longa noite do esquecimento.
E foi nesse cenário de luta e sangueira que ocorreram os incidentes que tentarei relatar, no terceiro ano da guerra que Inglaterra e França travavam pela posse de um país que nenhuma das duas estava destinada a conservar.
A imbecilidade de seus chefes militares no exterior e a fatal carência de energia de seus conselhos de estado no país haviam rebaixado o caráter da Grã-Bretanha da alta posição em que fora colocada pelo talento e pelo espírito de iniciativa de seus antigos guerreiros e estadistas. Não mais temida pelos inimigos, seus filhos estavam perdendo rápido a confiança do autorrespeito.
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