O último magnata

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O ÚLTIMO MAGNATA

francis scott fitzgerald (1896-1940) estreou na literatura em 1920 com o romance Este lado do paraíso e publicou, entre outros, O grande Gatsby (publicado pela Penguin/Companhia das Letras), Suave é a noite, All the sad young men. Postumamente foram publicados o romance inacabado O último magnata e The crack-up (1945), uma seleção de ensaios, notas e cartas editada por Edmund Wilson. Os problemas com o alcoolismo e a degeneração mental de Zelda mais tarde o afastariam da literatura. Estava quase esquecido, trabalhando em Hollywood, quando sofreu um ataque do coração fatal em casa, em Los Angeles. A Companhia das Letras também publicou 24 contos de Scott Fitzgerald e Querido Scott, Querida Zelda.

christian schwartz nasceu em Curitiba, em junho de 1975. Formou-se em jornalismo pela Universidade Federal do Paraná (ufpr) em 1997 e trabalhou em revistas como Placar, Quatro Rodas e Veja, da qual foi correspondente na Amazônia. Estudou língua e literatura francesas na Universidade Paris iv (Sorbonne), na França, e cursou pós-graduação em literatura na University of Central England (uce), em Birmingham, Inglaterra, o que culminou num mestrado em estudos literários pela ufpr. Traduziu autores como Philip Pulmann, Xinran, Matt Haig, Lou Reed, Philip Roth e Sam Shepard. É professor de produção de texto, literatura e pesquisa em comunicação na Universidade Positivo (up), em Curitiba.

edmund wilson nasceu em 1872 em Red Bank, no estado de Nova Jersey. Graduado na Princeton em 1916, foi jornalista, editor, escritor e crítico literário, um dos primeiros a saudar autores como Joyce, Hemingway e Fitzgerald. Entre suas principais obras destacam-se O castelo de Axel (1931), estudo seminal sobre o simbolismo e as vanguardas literárias do início do século xx, Rumo à Estação Finlândia (1940), um relato da trajetória das ideias socialistas que culminaram na Revolução Russa, e Manuscritos do mar Morto (1955), sobre a descoberta que abalou o universo dos estudos das chamadas Escrituras sagradas. Wilson morreu em 1972.

f. scott
fitzgerald

O último magnata

Tradução de

christian schwartz

Edição, prefácio e notas de

edmund wilson

 

 

 

 

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Sumário

 

Prefácio — Edmund Wilson

O ÚLTIMO MAGNATA

Notas

Prefácio

edmund wilson

Scott Fitzgerald morreu subitamente de um ataque cardíaco, em 21 de dezembro de 1940, um dia depois de escrever o primeiro episódio do capítulo 6 deste romance. O texto apresentado aqui é um rascunho feito pelo autor — reescrito e retrabalhado pelo próprio —, mas que não pode ser considerado, de forma alguma, a versão final. Nas margens de praticamente todos os episódios, Fitzgerald deixou observações — algumas poucas estão presentes ao fim deste livro — que expressam sua insatisfação, ou que indicam que ainda pretendia revisar muitas passagens. A intenção do escritor era produzir um romance tão concentrado e cuidadosamente elaborado quanto O grande Gatsby, e teria, sem dúvida, refinado o efeito de várias cenas, editando-as ou realçando-as. Fitzgerald imaginava que o romance teria 60 mil palavras — conforme revela o planejamento deixado por ele —, mas à época de sua morte já havia escrito cerca de 70 mil, tendo coberto pouco mais de metade da história. Calculara, no início, deixar uma margem de 10 mil palavras para ser editadas, mas tudo indica que o romance acabaria ficando mais longo do que o autor previra originalmente. O assunto era mais complexo do que o proposto em O grande Gatsby — o retrato dos estúdios de Hollywood requeria, para sua apresentação, mais espaço do que o pano de fundo da vida boêmia em Long Island, e da mesma forma os personagens precisavam ser desenvolvidos mais extensamente.

Este rascunho de O último magnata representa, portanto, um estágio no trabalho do artista em que ele já reunira e organizara a matéria-prima e tinha sólido domínio do tema, mas ainda não dera à obra seus contornos finais. É notável que, diante de tais circunstâncias, o romance ofereça tamanha potência e que o personagem de Stahr sobressaia com tanta intensidade e realismo. Esse produtor de Hollywood, em sua grandeza e em seu sofrimento, é certamente uma das figuras centrais de Fitzgerald, um dos personagens mais elaborados e que o autor mais bem compreendeu. Suas anotações sobre o personagem mostram como Fitzgerald conviveu com Stahr por três anos ou mais, amadurecendo as idiossincrasias da figura e reconstituindo sua rede de relacionamentos nos vários departamentos da indústria do cinema. Amory Blaine e Antony Patch eram projeções românticas do escritor. Gatsby e Dick Diver foram concebidos de forma mais ou menos objetiva, mas não explorados muito a fundo. Monroe Stahr se criou a partir de dentro e, ao mesmo tempo que é criticado por uma inteligência que o torna muito seguro de si, o autor sabe como situá-lo em lugar próprio, colocá-lo num contexto mais amplo.

Assim, O último magnata, mesmo em seu estado imperfeito, é a obra mais madura de Fitzgerald. Distingue-se dos outros romances do autor pelo fato de ser o primeiro a abordar seriamente uma profissão ou um negócio. Os livros anteriores de Fitzgerald tratavam de debutantes e universitários, bem como da vida boêmia dos esbanjadores dos anos 1920. As atividades principais dos personagens dessas histórias pregressas, o contexto em que vivem, são grandes festas das quais participam como fogos de artifício e que, em geral, os deixam desestruturados. As festas em O último magnata são incidentais e pouco importantes. Monroe Stahr, ao contrário dos outros heróis de Fitzgerald, está inextricavelmente envolvido com uma indústria da qual foi um dos fundadores — e o destino dessa indústria será influenciado por sua tragédia pessoal.