Um bom lugar para quem é casca-grossa, mas cheguei lá vindo de Savannah, Geórgia. No primeiro dia fui a uma festa no jardim de um cara. Ele apertou minha mão e me largou ali. Tinha de tudo naquele lugar — piscina, musgo verde comprado a dois dólares a polegada, lindas gatas bebendo e se divertindo… e ninguém falava comigo. Nem uma única alma. Abordei um monte de gente, mas nenhuma respondia. Uma hora, duas, a mesma coisa — então levantei de onde estava sentado e corri dali no trote de um cão, feito um louco. Só tive certeza de que ainda era uma pessoa com identidade própria quando voltei ao hotel e o atendente me entregou uma carta endereçada a mim, com meu nome nela.”

Naturalmente eu nunca havia experimentado algo assim, mas, relembrando as festas a que já fora, me dei conta de que coisas como aquela podiam mesmo acontecer. A gente não se aproxima de estranhos em Hollywood, a não ser que fique bem claro que seu machado ficou bem guardado em outro canto e que, haja o que houver, não descerá sobre nosso pescoço — em outras palavras, a não ser que se trate de uma celebridade. E mesmo assim é melhor ter cuidado.

“Você não deveria se importar com isso”, falei, muito satisfeita. “Essa falta de educação não é uma coisa direcionada a você — é só um reflexo da relação que essas pessoas estabeleceram com quem conheceram antes.”

“Uma menina tão linda… dizendo coisas tão sábias.”

Para os lados do sol nascente, o céu se perturbava um pouco, impaciente, e Wylie podia me enxergar com clareza — magra, traços bem-feitos, muito estilo, e uma inteligência que dava os primeiros sinais de vida. Eu me pergunto que figura fazia eu naquele amanhecer, cinco anos atrás. A cara meio amassada e pálida, imagino, mas na minha idade àquela altura, quando se tem a ilusão juvenil de que todas as aventuras são boas, só precisava tomar um banho e trocar de roupa para seguir em frente por horas.

Wylie me encarou com uma admiração realmente lisonjeira — e de repente não estávamos mais sozinhos. O sr. Schwartz entrou, sem jeito, naquela bela cena.

“Bati num trinco enorme de metal”, disse, apalpando o canto do olho.

Wylie se sobressaltou.

“Bem na hora, sr. Schwartz”, falou. “O tour acaba de começar. O lar do décimo presidente americano. O conquistador de Nova Orleans, opositor feroz do sistema bancário nacional, inventor do apadrinhamento.”

Schwartz me olhou como se encarasse um júri.

“O que você tem aí é um escritor”, disse. “Sabe tudo e ao mesmo tempo não sabe nada.”

“Como é que é?”, falou Wylie, indignado.

Meu primeiro palpite havia sido mesmo de que ele era um escritor. Apesar de eu gostar de escritores — porque, se a gente pergunta qualquer coisa a um escritor, geralmente recebe uma resposta —, ainda assim aquilo o diminuía um pouco aos meus olhos. Escritores não são exatamente pessoas. Ou, quando são bons no que fazem, um pouco que seja, se tornam várias pessoas se esforçando muito para ser uma só. São como os atores, patéticos, tentando não se olhar em espelhos, inclinando-se para trás para não fazer isso — só para no fim se verem refletidos nos lustres.

“Não são assim os escritores, Cecilia?”, inquiriu Schwartz. “Não sei o que dizer deles. Só sei que é verdade.”

Wylie olhava para ele, e lentamente sua indignação crescia. “Já ouvi essa história antes”, falou. “Escuta, Manny, eu tenho muito mais senso prático do que você em todos os sentidos! Passei horas sentado num escritório ouvindo um tipo místico pra lá e pra cá a regurgitar um besteirol que, em qualquer lugar que não fosse a Califórnia, seria suficiente pro cara ir parar num manicômio — e, no final, ainda o ouvi me dizer que era um sujeito muito prático, e eu um sonhador — e eu só pensando em sair dali e ir dar algum sentido ao que ele tinha dito.”

A cara do sr. Schwartz ganhou contornos os mais desfigurados. Um olho apontava para cima, mirando por entre os olmos muito altos.