Não decorrera de nenhuma intenção de torcer o tornozelo ou provocar em si qualquer outro ferimento em benefício de tal médico, nem (como Mr. Heywood estivera propenso a supor) de qualquer intenção de formar uma sociedade. Fora apenas consequência de seu desejo de levar algum médico a se estabelecer em Sanditon, cuja natureza do anúncio o induzira a esperar que se realizasse em Willingden. Estava convencido de que a vantagem de ter um médico à disposição promoveria materialmente o desenvolvimento e a prosperidade do lugar, e, na verdade, tenderia a trazer uma afluência prodigiosa – não queria nada mais que isso. Tinha fortes razões para acreditar que uma família tinha sido dissuadida de ir a Sanditon no ano anterior por causa disso, e provavelmente haveria muitas mais, e até suas próprias irmãs, que eram pobres enfermas a quem estava bastante ansioso para levar a Sanditon naquele verão, dificilmente poderiam se aventurar num lugar onde não pudessem dispor de uma assistência médica imediata.
De um modo geral, era evidente que Mr. Parker era um amável homem de família, que adorava a esposa, os filhos, os irmãos e irmãs; normalmente bondoso, liberal, cavalheiresco, fácil de agradar; otimista ao pensar, com mais imaginação do que discernimento. E Mrs. Parker era também evidentemente uma mulher gentil, amável, de temperamento dócil, a esposa apropriada para um homem de espírito forte, mas incapaz de prover a reflexão mais moderada de que seu próprio marido às vezes necessitava; e tão inteiramente à espera de ser guiada em todas as ocasiões que, estivesse ele arriscando sua fortuna ou torcendo o tornozelo, ela permanecia igualmente inútil.
Sanditon era uma segunda esposa e quatro filhos para ele, algo pouco menos querido, mas sem dúvida mais atraente. Podia falar dela pelo resto da vida. De fato possuía os mais altos direitos, não apenas os de ser seu local de nascimento, sua propriedade e seu lar; era também sua mina, sua loteria, seu investimento e seu tema favorito; sua ocupação, sua esperança e seu futuro. Estava extremamente desejoso de carregar seus bons amigos de Willingden para lá; e seus esforços nesse sentido eram tão gratos e desinteressados quanto calorosos.
Desejava a promessa duma visita, levar tantos da família quanto sua própria casa poderia acomodar; para acompanhá-lo a Sanditon o quanto antes; e, saudáveis como inegavelmente eram, previu que todos se beneficiariam com o mar. De fato, tinha como certo que ninguém poderia estar realmente bem de saúde, ninguém (ainda que sustentado no momento pela ajuda fortuita de exercícios e moral, numa aparência de saúde) poderia na verdade estar num estado de saúde plena e permanente sem passar pelo menos seis semanas à beira-mar todo ano. O ar marinho, associado aos banhos de mar, era praticamente infalível, tanto um quanto o outro sendo um rival para qualquer distúrbio do estômago, dos pulmões ou do sangue. Eram antiespasmódicos, antipulmonares, antissépticos, antibiliares e antirreumáticos. Ninguém se resfriava ou sentia falta de apetite à beira-mar; a ninguém faltaria ânimo; ninguém se sentiria fraco. O ar marinho era curativo, calmante, relaxante, fortificante e estimulante, conforme fosse preciso, ora de um jeito, ora de outro. Se a brisa marítima falhasse, os banhos de mar eram o corretivo certo; e onde os banhos não funcionassem, o ar marinho somente era sem dúvida projetado pela natureza para curar.
Sua eloquência, porém, não prevaleceu. Mr. e Mrs. Heywood nunca deixaram a casa. Casando cedo e constituído uma numerosa família, seus deslocamentos há muito se limitavam a um pequeno círculo; e eram mais antigos em hábitos que em idade. Exceto duas viagens a Londres por ano para receber os dividendos, Mr. Heywood não ia mais longe do que seus pés ou seu velho e experiente cavalo podiam levá-lo; e as aventuras de Mrs. Heywood se limitavam a visitar os vizinhos de vez em quando na velha carruagem que fora nova quando se casaram e sofrera uma reforma quando o primogênito se tornou maior de idade dez anos antes. Tinham uma propriedade muito bonita; tivesse a família se mantido em limites razoáveis, seria suficiente para ter lhes permitido uma cota bastante generosa de luxos e variedades; suficiente para que se permitissem comprar uma carruagem nova e estradas melhores, ocasionalmente um mês em Tunbridge Wells, e, nos sintomas de gota, um inverno em Bath[1]. Mas o sustento, educação e manutenção de 14 filhos exigiu um estilo de vida calmo, firme e cuidadoso e obrigou-os a ficarem fixados e saudáveis em Willingden.
O que a princípio fora ordenado pela prudência agora era agradável com o hábito. Nunca deixaram a casa e sentiam satisfação em dizê-lo. Mas, longe de desejar que os filhos fizessem o mesmo, ficavam contentes de promover a saída deles sempre que possível. Ficaram em casa para que os filhos pudessem sair; e, embora tornando aquela casa extremamente confortável, acolhiam com prazer qualquer mudança que pudesse fornecer relações úteis ou conhecidos respeitáveis para os filhos e filhas. Quando Mr. e Mrs.
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