Olalla (Coleção Góticos Livro 18)

Góticos II

Lúgubres mistérios

 

 

Olalla

Robert Louis Stevenson

logo

Este conto pertence ao livro Góticos II – Lúgubres mistérios, segundo volume da coleção "Góticos"

 

Lista completa de contos da coleção:

 

Os Góticos – Contos clássicos

- Lord Byron: A uma taça feita de um crânio humano (tradução: Castro Alves – em Espumas Flutuantes)

- John William Polidori: O Vampiro (tradução: Luiz Antonio Aguiar)

- W. W. Jacobs: A Pata do Macaco (tradução: Sandra Pina)

- J. W. Goethe: Poemas macabros - Catalepsia/A dança da morte (tradução: Claudia Abeling)

- Arthur Conan Doyle: Lote 249 (tradução: Oscar Mendes/copidesque: Luiz Antonio Aguiar)

- Bram Stoker: O Hóspede de Drácula (tradução: Luiz Antonio Aguiar)

- Mary Shelley: Transformação (tradução: Domingos Demasi)

- Edgar Allan Poe: A queda da casa de Usher (tradução: Domingos Demasi)

- Théophile Gautier: A Amante Morta (tradução: Margaret Sobral)

- Sheridan Le Fanu: Dickson, o Diabo (tradução: Sandra Pina)

- Robert Louis Stevenson: Janet, a Maligna (tradução: Sandra Pina)

- Coletânea de ensaios: "Histórias para sentir medo", Pedro Bandeira; "O fascínio do medo", Luiz Raul Machado; "Sombras da adolescência", Daniel Piza; "O terror diz: 'até breve!'", Luiz Antonio Aguiar.

 

Góticos II – Lúgubres mistérios

- Augusto dos Anjos: 4 Poemas - “O caixão fantástico”, “O coveiro”, “O morcego”, “Vozes da morte”

- Bram Stoker: A casa do juiz (tradução: Luiz Antonio Aguiar)

- Charles Dickens: A noiva do enforcado (tradução: Sandra Pina)

- Rudyard Kipling: A marca da besta (tradução: Sandra Pina)

- Mary Shelley: O olho maligno (tradução: Domingos Demasi)

- Robert Louis Stevenson: Olalla (tradução: Sandra Pina)

- Machado de Assis: Um esqueleto

- Henry James: Sir Edmund Orme (tradução: Domingos Demasi)

- Johann Wolfgang von Goethe: A noiva de Corinto (tradução: Claudia Abeling)

- Daniel Defoe: O fantasma de todas as salas (tradução: Luiz Antonio Aguiar)

- Bram Stoker: A corrente do destino (tradução: Luiz Antonio Aguiar)

- Coletânea de ensaios: "Presença do gótico", Laura Sandroni; "O sangue de Drácula", Rodrigo Lacerda; "Lúgubres mistérios", Luiz Antonio Aguiar.

abertura

O terror está de volta!

Apresentação de Luiz Antonio Aguiar

Em Góticos: Vampiros, múmias, fantasmas e outros astros da literatura de terror, o terror se despediu do leitor dizendo: “Até breve!”. E a promessa (ou ameaça) foi cumprida. Para tornar seu sono mais sobressaltado e a escuridão da casa habitada por sugestões ainda mais pronunciadas, aqui está Góticos II: Lúgubres mistérios.

O subtítulo foi escolhido bem a propósito de uma ênfase especial que se deu a esta coletânea. Primeiro por seu protagonista, o autor que a abre e encerra, Bram Stoker, o genial criador de Drácula, o Vampiro Maior, símbolo do gótico do Romantismo, sintetizando o misto de fascinação e horror tão característico (e intrigante) do gênero. Os contos escolhidos, A casa do juiz e A corrente do destino, comprovam que é difícil superar Stoker – um autor com inúmeros descendentes literários até hoje – na arte de produzir arrepios.

Em segundo lugar porque a reunião de autores explora algumas variações do terror gótico, propondo uma incursão sutil à sombra das histórias mais tradicionais. É o caso do conto de Mary Shelley, a autora de Frankenstein, que se serve do que não se vê no primeiro plano, das sombras fugidias, ocultas nos recantos tanto de nossos temores quanto das novelas e contos góticos mais conhecidos... Os quais, por assim dizer, se tornam pressupostos da trama de O Olho Maligno.

Ao mesmo tempo, nenhum dos contos listados aqui é uma história de terror tradicional. Cada qual traz a marca do genial autor que a compôs, buscando ampliar o gênero – e invadir outros meandros da mente. Assim, temos o poema de Goethe, prenúncio do terror vampiresco, e os contos de Daniel Defoe, Henry James, Rudyard Kipling, Robert Louis Stevenson e Charles Dickens, que se valem de recursos técnicos e patrimônios temáticos comentados ao final de cada um, na seção “Autor e Obra”. Os contos são seguidos de notas que facilitam a compreensão de palavras, personalidades e lugares mencionados, além de algumas informações contextuais. O conjunto de textos é enriquecido ainda pelos ensaios de Laura Sandroni e Rodrigo Lacerda e por algumas questões que levanto no texto "Lúgubres Mistérios".

Outra marca desta colêtanea é a aproximação mais explícita do gênero gótico com autores brasileiros – e aqui estão sonetos de Augusto dos Anjos como comissão de frente e um conto de Machado de Assis, o nosso maior escritor, para representar os ecos das tendências literárias europeias entre nós.

Se não conseguisse tocar nos dilemas e conflitos humanos universais, o gótico do Romantismo não teria tamanha influência. Nem teria se reproduzido em tantas literaturas nacionais, nem persistido no tempo, depois de séculos, com seu poder perturbador intacto. Entretanto, os lúgubres mistérios que corporificam os temas das histórias de terror clássicas estão presentes também em nossos embates com a vida e o mundo. Cada história de terror é uma versão da incompreensão humana diante de parte do Universo – ou da aceitação do fato de que há momentos nos quais a compreensão e a racionalidade não são pertinentes, o que em si é também um de nossos dilemas/conflitos cruciais. A racionalidade e o conhecimento (o lógico e o conhecido) são os passos do ser mortal e humano, seu rastro deixado no mundo, suas realizações; o insólito, o inconcebível é esse domínio ainda não conquistado, por vezes nem sequer percorrido, mas no qual somos lançados durante uma queda nos abismos do sono, ou em meio às angústias indecifráveis que fazem nosso espírito se contorcer. Ou mesmo antecipando, em nossos temores, vicissitudes, acasos, viradas da sorte, o inesperado a surgir cortando abruptamente nosso caminho.

É esta uma das matérias-primas essenciais do medo. Lúgubres mistérios que a literatura transforma em ficção de modo a nos tornar capazes de vivenciá-lo. É o que se esconde nas páginas a seguir para quem ousar penetrá-las. Nem que seja a custo de alguns calafrios e pesadelos.

Sejam bem-vindos de volta ao terror!

abertura

Olalla

Robert Louis Stevenson

Tradução: Sandra Pina

– Agora – disse o doutor –, minha parte está feita e, devo dizer com certa vaidade, bem-feita. Falta apenas tirar você desta cidade fria e insalubre e lhe dar dois meses de ar puro e consciência tranquila. Esta última depende de você. No caso da primeira, acho que posso ajudar. Parece até meio estranho, e foi, mas outro dia o padre veio do interior e, como somos velhos amigos, apesar de exercermos profissões opostas, recorreu a mim acerca de um problema com alguns de seus paroquianos. Era uma família, mas como você não conhece a Espanha e os nomes dos nossos nobres não lhe são familiares, basta então dizer que eles foram grandes e que agora estão à beira da penúria. Nada mais lhes pertence além da residência e de algumas léguas de montanha deserta, onde nem mesmo as cabras sobreviveriam. Mas a casa é antiga e requintada e fica num lugar alto e extremamente agradável nas colinas.