E então comecei a sentir grande pena da garota. Pensava no quanto seu tormento deveria ser agudo. Ela, a estudante reclusa, a santa mentora de Felipe, deveria confessar uma arrogante fraqueza por um homem com quem nunca havia trocado sequer uma palavra. E, com a compaixão, todos os outros pensamentos foram engolidos. Eu apenas ansiava por encontrá-la, consolá-la e encorajá-la; dizer-lhe o quanto o seu amor era correspondido de minha parte e quanto sua escolha, mesmo tendo sido feita às cegas, não era desmerecida.
O dia seguinte foi de um clima glorioso; de um azul profundo sobre os picos das montanhas; o Sol brilhava amplo, o vento soprava nas árvores e as muitas torrentes das montanhas enchiam o ar com uma música delicada e cativante. Mesmo assim, eu estava prostrado de tristeza. Meu coração chorava pela visão de Olalla como uma criança chora por sua mãe. Sentei-me numa pedra à beira de um pequeno penhasco voltado para o norte. Então, baixei o olhar para um vale arborizado onde corria um riacho. Não havia ninguém por lá. No humor em que estava, me comovia contemplar aquele lugar inabitado. Faltava Olalla. E pensei na alegria e na glória de uma vida plena com ela naquele clima forte, entre aqueles arredores rochosos e adoráveis. Primeiramente com um sentimento de lamúria, mas depois com uma alegria desmedida que parecia crescer em força e estatura, como Sansão.
E então, subitamente, eu tive certeza de que Olalla estava por perto. Ela surgiu por entre um bosque de sobreiros e veio em minha direção. Levantei-me e esperei. Por seu andar, parecia uma criatura cheia de vida, e fogo, e brilho, o que me alegrou. Mas, mesmo assim, ela chegou calma e lentamente. Sua energia estava na lentidão, mas com força inimitável senti que ela corria, que ela voava para mim. E, enquanto se aproximava, mantinha seus olhos baixos fixos no chão.
Quando já estava bem perto, dirigiu-se a mim sem me olhar. Ao primeiro tom de sua voz, eu me espantei. Era por isso que eu vinha esperando, esse seria o último teste do meu amor. E... ora! Sua dicção era precisa e clara, não estranha e incompleta como a do restante da família. E a voz, mais grave do que as mulheres costumam ter, era jovem e madura ao mesmo tempo. Ela falou num tom rico, um contralto dourado mesclado à rouquidão, como se fios vermelhos se entrelaçassem em suas tranças castanhas. Não era apenas uma voz que falava diretamente ao meu coração, ela me falava dela. Mas suas palavras me levaram ao desespero.
– Você vai embora – ela disse. – Hoje.
Sua atitude quebrou as amarras da minha fala. Senti-me livre de um peso, ou como se um encanto tivesse sido quebrado.
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