Deus sabe que era com o mais gentil e sincero interesse que eu agora a estudava; e mesmo quanto a Felipe, e agora quanto à mãe, eu tinha consciência de um crescente afeto de tolerância. E ainda me perguntava. Mesmo enquanto eu falava, ela dormitava e acordava novamente sem qualquer embaraço; e essa serenidade me surpreendia. E mais uma vez observei-a realizando mudanças infinitesimais na posição do seu corpo, saboreando o prazer dos seus movimentos; e fui levado a imaginar sobre a profundidade dessa sensualidade passiva. Ela vivia em seu corpo e toda a sua consciência estava afundada nele e disseminada por seus membros, os quais habitava luxuriosamente. Mas eu não conseguia me acostumar àqueles olhos. A cada vez que ela virava na minha direção aquelas órbitas grandes, belas e vazias, abertas para o dia, mas fechadas para as questões humanas, eu observava mudanças nas pupilas, que se expandiam ou contraíam rapidamente. Não sabia o que havia se apoderado de mim, não consigo encontrar um nome para os sentimentos de desapontamento, irritação e repulsa que jorravam de meus nervos. Tentei-a com uma variedade de assuntos, igualmente em vão. Finalmente, me ocorreu falar sobre sua filha. Mas, mesmo assim, ela se manteve indiferente; disse que era bonita, o que (como fazem as crianças) foi seu principal comentário, mas era completamente incapaz de qualquer pensamento mais distinto. E, quando comentei que Olalla parecia calada, simplesmente bocejou na minha cara e respondeu que falar não era importante quando não se tem nada a dizer.

– As pessoas falam demais, demais – acrescentou, olhando-me com as pupilas dilatadas, e então bocejou novamente e mais uma vez mostrou-me a boca tão delicada quanto a de uma boneca. Dessa vez, entendi o recado e, deixando-a em seu repouso, subi aos meus aposentos para aquietar-me diante da janela aberta, olhando as montanhas, mas não as vendo, afundado em sonhos radiantes e profundos e ouvindo na imaginação o tom de uma voz que eu nunca havia escutado.

Acordei na quinta manhã com uma luz profética que parecia desafiar o destino. Estava seguro de mim, leve de coração e pés e resolvido a colocar sem demora o meu amor em contato com o conhecimento. Não deveria mais repousar nas raias do silêncio, uma coisa muda, vivendo apenas pelo olhar como o amor dos animais. Deveria agora colocar-se no espírito e penetrar nas alegrias da completa intimidade humana. Pensava nisso com esperanças infundadas, como um viajante a El Dorado, naquele país desconhecido e adorável que era a sua alma; não mais temer a aventura. Ainda assim, quando finalmente a encontrei, o mesmo ímpeto de paixão me invadiu e inundou minha mente de imediato, a fala pareceu ter fugido de mim como numa cena infantil, e me aproximei dela como um homem tonto se aproxima de um abismo. Ela deu um ligeiro passo atrás enquanto eu me aproximava, mas seus olhos não se desviaram dos meus, e isso me atraiu. Por fim, quando eu já a estava quase alcançando, parei. As palavras me fugiram. Se eu avançasse, a apertaria junto ao meu coração em silêncio, e tudo isso era natural para mim, e tudo ainda estava indomado, revoltado contra a ideia dessa abordagem. Assim ficamos por um segundo, toda a nossa vida em nossos olhos, trocando olhares de atração e ainda resistindo. Então, com um grande esforço, e ao mesmo tempo consciente de um súbito amargor de desapontamento, virei-me e retornei ao mesmo silêncio.

Que poder tomou conta de mim me impedindo de falar? E ela, por que também estava em silêncio? Por que se afastou de mim sem dizer coisa alguma, mas com os olhos fascinados? Seria amor? Ou mera atração bruta, negligente e inevitável, como a do ímã sobre o ferro? Nunca havíamos nos falado, éramos totalmente estranhos, e ainda assim uma influência forte como o aperto de um gigante nos manteve em silêncio. De minha parte, isso me deixou impaciente, mas, ainda assim, eu tinha certeza de que ela valia a pena. Eu tinha visto seus livros, lido seus versos e, portanto, de certa forma, desvendado a alma de minha amada. Mas, de sua parte, ela me parecia um tanto fria. Sobre mim, não sabia nada além de minha aparência. Sentia-se atraída por mim como pedras caem ao chão; as leis que regem a Terra a conduzem à revelia para os meus braços; voltei à ideia de núpcias e comecei a sentir ciúmes de mim mesmo. Não era assim que desejava ser amado.