Os nervos daqueles que sentiam o seu açoite ficaram sensíveis e abalados; seus olhos ardiam com a poeira; as pernas doíam sob o fardo do corpo; e o toque de uma mão sobre a outra tornou-se detestável. O vento ainda desceu as ravinas das montanhas e rodopiava pela casa com um vazio rumor e um assovio que era entediante para os ouvidos e extremamente depressivo para a mente. Soprava em rajadas como as batidas constantes de uma cachoeira, de modo que não houve sossego enquanto soprava. Mas lá no alto, na montanha, provavelmente tinha uma força mais variável, e com acessos de fúria vinham, de tempos em tempos, como lamentos dolentes, infinitamente dolorosos de ouvir. Às vezes, em alguma das prateleiras ou terraços mais altos, começava, e então dispersava uma torre de poeira, como a fumaça de uma explosão.

Logo, acordado na cama, eu estava ciente da tensão nervosa e da depressão causadas pelo clima, e esse efeito ficou mais forte à medida que o dia seguia. Minha resistência foi em vão. Também, de nada serviu me preparar para a costumeira caminhada matinal, pois a fúria irracional da tempestade logo venceria minha força e quebraria meu equilíbrio. Retornei à casa brilhando de calor e coberto de poeira. O pátio tinha uma aparência desolada, algumas vezes um raio de Sol fugia sobre ele; outras vezes, o vento batia baixo sobre as romãzeiras, espalhava as flores e fazia as persianas das janelas baterem contra as paredes. Em seu recanto, a senhora andava de um lado para o outro com o rosto corado e olhos brilhantes; pensei também que estivesse falando consigo mesma, como alguém com raiva. Mas, quando me dirigi a ela com a costumeira saudação, respondeu apenas com um gesto ríspido e passou direto por mim. O clima havia perturbado até mesmo essa criatura impassível. Quando subi para meus aposentos, me senti menos envergonhado de minha própria descompostura.

Durante o dia todo, o vento continuou. Sentado em meu quarto, fiz uma tentativa de leitura, andei para cima e para baixo e ouvi o tumulto lá fora. A noite caiu, e eu não tinha muito mais do que uma vela. Veio-me o desejo de companhia e desci para o pátio, que fora tomado pela bruma azul do anoitecer, mas a alcova tinha a luz avermelhada do fogo. A lenha empilhada estava alta e coroada pelas chamas que, projetadas pela chaminé, se agitavam para lá e para cá. Nessa claridade forte e faiscante, a senhora continuava andando de parede a parede com gestos desconexos, batendo as mãos, esticando os braços, jogando a cabeça para trás num apelo aos céus. Nesses movimentos desordenados, a beleza e a graça da mulher se mostraram com mais clareza, mas havia uma luz em seus olhos que me tocou desagradavelmente. Tendo-a observado por um tempo em silêncio, aparentemente sem ser notado, virei as costas e tomei o caminho de volta para o meu aposento.

Quando Felipe trouxe o jantar e as velas, meu ânimo havia desaparecido completamente, e, se o rapaz tivesse sido aquele com o qual estava acostumado, eu o teria retido (até mesmo à força se necessário) para abrandar minha desagradável solidão. Mas também em Felipe o vento exercera sua influência. Estivera febril todo o dia e agora, com a chegada da noite, havia caído em depressão e demonstrava um humor instável, o que também me aborrecia. A visão de seu rosto aterrorizado, seus tremores, sua palidez e a pouca atenção com que me ouvia me irritaram. Quando deixou cair e quebrar um prato, dei um pulo da cadeira.

– Acho que todos estamos loucos – eu disse, desatando a rir.

– É o vento negro – ele respondeu tristemente. – A gente sente como se precisasse fazer algo, mas não sabe o que é.

Percebi a pertinência da descrição, mas, na verdade, Felipe tinha algumas vezes um estranho costume de representar em palavras as sensações do corpo.

– E sua mãe também – eu disse. – Ela parece ser muito sensível a esse tempo. Você não teme que ela não esteja bem?

Ele me encarou por um instante e falou:

– Não – num tom quase desafiante.

No momento seguinte, levando a mão à testa, gritou se lamentando do vento e do barulho que fazia sua cabeça girar como a roda de um moinho.

– Quem pode ficar bem? – exclamou.

E, de fato, eu apenas poderia concordar com sua pergunta, pois eu também estava bastante incomodado.

Fui para a cama cedo, fatigado pela agitação daquele longo dia, mas a natureza insalubre do vento e sua agitação impiedosa e intermitente não me deixariam dormir. Fiquei ali, nervos e sentidos à flor da pele. Às vezes dormitava, tinha pesadelos e acordava novamente, e esses fragmentos de esquecimento confundiram-me em relação ao tempo. Mas era tarde da noite quando fui subitamente surpreendido por lamentos e gritos horrorosos.