Consultei também alguns bons observadores, e depois de maduras reflexões têm partilhado da minha opinião. A este respeito, pois, as espécies dos géneros ricos assemelham-se às variedades mais que as espécies dos géneros pobres. Por outros termos, pode dizer-se que para os géneros ricos em que se produz actualmente um número de variedades, ou espécies nascentes, maior que a média, muitas das espécies já
produzidas parecem-se ainda com as variedades, porque diferem menos umas das outras, o que não é comum.
Demais, as espécies dos géneros ricos oferecem entre si as mesmas relações que se constatam entre as variedades da mesma espécie. Nenhum naturalista ousaria sustentar que todas as espécies de um género são igualmente distintas umas das outras; podem ordinariamente dividir-se em subgéneros, em secções ou em grupos inferiores. Como Fries o fez notar muito bem, alguns pequenos grupos de espécies reúnem-se ordinariamente como satélites à volta de outras espécies. Ora, o que são as variedades, senão grupos de organismos desigualmente aparentados uns com os outros e reunidos em torno de certas formas, isto é, à volta de espécies tipos? Há, sem dúvida, uma diferença importante entre as variedades e as espécies, quer dizer que a soma das diferenças que existem entre as variedades
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comparadas entre si, ou com a espécie tipo, é muito menor que a soma das diferenças que existem entre as espécies do mesmo género. Quando, porém, tornarmos a discutir o princípio da divergência dos caracteres, encontraremos a explicação deste facto, e veremos também como se faz com que as pequenas diferenças entre as variedades tendam a crescer e a atingir gradualmente o nível das diferenças maiores que caracterizam as espécies. Ainda um ponto digno de atenção. As variedades têm geralmente uma distribuição muito restrita; é quase uma banalidade esta asserção, porque se uma variedade tivesse uma distribuição maior do que a espécie que se lhe atribui como origem, a sua denominação seria reciprocamente inversa. Mas há razão para acreditar que as espécies muito próximas de outras espécies, e que sob tal relação se parecem com as variedades, oferecem também muitas vezes uma distribuição limitada. Assim, por exemplo, M. H. C. Watson quis bem indicar-me, no excelente Catálogo das Plantas de Londres (4.a edição), 63 plantas que aí se encontram mencionadas como espécies, mas que considera como duvidosas por causa da sua estreita analogia com outras espécies. Estas sessenta e três espécies estendem-se em média a 69 das províncias ou distritos botânicos em que M. Watson dividiu a Grã-Bretanha. Neste mesmo catálogo, encontram-se 53 variedades reconhecidas estendendo-se a 77 destas províncias, enquanto que as espécies a que se ligam estas variedades se estendem a 143
províncias. Resulta destes números que as variedades, reconhecidas como tais, têm pouco mais ou menos a mesma distribuição restrita que estas formas muito próximas que M. Watson me indicou como espécíes duvidosas, mas que são universalmente consideradas pelos botânicos ingleses como boas e verdadeiras espécies.
RESUMO
Em resumo, podem distinguir-se as variedades das espécies: 1º, pela descoberta de anéis intermediários; 2º, por uma certa soma pouco definida de diferenças que existem entre umas e outras. Com efeito, se duas formas diferem muito pouco, classificam-se ordinariamente como variedades, posto que se não possam reatar directamente entre si; mas não se saberia definir a soma das diferenças necessárias para dar às duas formas a categoria de espécies. Entre os géneros apresentados, num país qualquer, um número de espécies superior à média, as espécies
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apresentam também uma média de variedades mais considerável. Entre os grandes géneros, as espécies estão frequentemente, ainda que num grau desigual, muito próximas umas das outras, e formam pequenos grupos em volta de outras espécies. As espécies muito próximas têm ordinariamente uma distribuição restrita. Atendendo a estas diversas razões, as espécies dos grandes géneros apresentam grandes analogias com as variedades. Ora é fácil dar-se conta destas analogias, se se parte deste princípio que cada espécie existiu primeiro como variedade, sendo a variedade a origem da espécie; estas analogias, ao contrário, ficam inexplicáveis se se admitir que cada espécie foi criada separadamente. Temos visto também o que são as espécies mais florescentes, isto é, as espécies dominantes, dos maiores géneros de cada classe que produzem em média o maior número de variedades; ora, estas variedades, como veremos mais tarde, tendem a converter-se em espécies novas e distintas. Assim, os géneros mais ricos têm uma tendência a tornar-se mais ricos ainda; e, em toda a natureza, as formas vivas, hoje dominantes, manifestam esta tendência cada vez mais, porque produzem muitos descendentes modificados e dominantes. Mas, por uma marcha gradual que explicaremos mais tarde, os maiores géneros tendem também a fraccionar-se em géneros menores.
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