34), que os naturalístas terão de procurar, por exemplo, como os bois e carneiros adquiriram os cornos, e não para que servem, É um caso bastante singular a aparição quase simultânea de opiniões semelhantes, porque se vê que Goethe na Alemanha, o Dr. Darwin na Inglaterra, e Geoffroy Saint-Hilaire em França, chegam, nos anos de 1794-1795 à mesma conclusão sobre a origem das espécies. IX

Um pouco tímido nas suas conclusões, não acreditava que as espécies existentes estivessem em via de modificação; e, como seu filho diz, «é pois um problema reservado inteiramente ao futuro, supondo mesmo que o futuro pode tomar conta dele». O Dr. W. C. Wells, em 1813, dirigiu à Sociedade Real uma

memória sobre «uma mulher branca, cuja pele, em certos pontos, se assemelha à de um negro», memória que só foi publicada em 1818 com os seus famosos Two Essays upon Dew and Single Vision. Admite distintamente nesta memória o princípio da selecção natural, e foi a primeira vez que publicamente a sustentou; mas aplica-a apenas às raças humanas e a certos caracteres particulares. Depois de ter notado que os negros e os mulatos escapam a certas doenças tropicais, verifica primeiramente que todos os animais tendem a variar num certo grau, e secundariamente que os agricultores aperfeiçoam os animais domésticos pela selecção. Em seguida acrescenta que o que, neste último caso, é efectuado pela «arte», parece sê-lo igualmente, mas mais lentamente, pela natureza, para a produção de variedades humanas adaptadas às regiões que habitam; assim, em meio das variedades acidentais que puderam surgir entre alguns habitantes disseminados nas partes centrais da África, algumas eram sem dúvida mais aptas que outras para suportar as doenças do país. Esta raça devia, por conseguinte, multiplicar-se, enquanto que as outras desapareceriam, não só porque não podiam resistir às doenças, mas ainda porque lhes era impossível lutar contra os seus vigorosos vizinhos. Depois das minhas notas precedentes, não se pode duvidar que esta raça enérgica não fosse uma raça escura. Ora, persistindo sempre a mesma tendência para a formação de variedades, deviam surgir, no decorrer do tempo, raças cada vez mais negras; e a raça mais negra, sendo a mais própria para adaptar-se ao clima, devia tornar-se a raça predominante, senão a única, no país particular onde tomou origem. O autor estende em seguida estas mesmas considerações aos

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habitantes brancos dos climas mais frios. Devo agradecer a M. Rowley, dos Estados Unidos, ter chamado, por intermédio de M. Brace, a minha atenção para esta passagem da memória do Dr. Wells.

O venerável e reverendo W. Herbert, mais tarde deão de Manchéster, escrevia em 1822, no 4., volume das Horticultural Transactions, e na sua obra as Amaryllidacées (1837, p. 19, 339), que «as experiências de horticultura têm estabelecido, sem refutação possível, que as espécies botânicas não são mais que uma classe superior de variedades mais permanentes». Aplica a mesma opinião aos animais e vê que as espécies únicas de cada género foram criadas num estado primitivo muito plástico, e que estes tipos produziram ulteriormente, principalmente pelo cruzamento e também por variação, todas as nossas espécies existentes.

Em 1826, o professor Grant, no último parágrafo da sua memória sobre as espongilas (Edinburgh Philos. Journal, 1826, t. xiv, p. 283), declara nitidamente que acredita que as espécies derivam de outras espécies, e que se aperfeiçoam no correr das modificações que vão sofrendo. Apoiou-se nesta mesma opinião na sua 55.ª conferência, publicada em 1834

no jornal The Lancet.

Em 1831, M. Patrick Matthew publicou um tratado com o título Naval Timber and Arboriculture, no qual emite exactamente a mesma opinião que M. Wallace e eu expusemos no Linnean Journal, e que vou desenvolver na presente obra.