Infelizmente M. Matthew enunciou as suas opiniões laconicamente e em passagens disseminadas num apêndice a uma obra tratando de assunto muito diverso; passariam até despercebidas se M. Matthew não chamasse a atenção para elas no Guardener’s Chronicle (7 Abril 1860). As diferenças em os nossos modos de ver não têm grande importância. Parece crer que o mundo foi quase despovoado em períodos sucessivos e povoado de novo em seguida; admite, a título de alternativa, que novas formas podem produzir-se «sem auxílio de molde ou germe anterior». Julgo não compreender bem algumas passagens; parece-me, todavia, que dá muita importância à acção directa das condições da existência. Contudo, estabeleceu claramente todo o poder do princípio da selecção natural.
Na sua Description Physique des Iles Canaries (1836, p. 147), o célebre geólogo e naturalista von Buch exprime nitidamente a opinião de que as variedades se modificam pouco a pouco e se tornam espécies permanentes que não mais são capazes de cruzar-se. Na Nouvelle Flore de l’Amérique du Nord (1836, p. 6), Rafinesque XI
exprimia-se assim: «Todas as espécies podiam ser outrora variedades, e muitas variedades tornaram-se gradualmente espécies, adquirindo caracteres permanentes e particulares»; e um pouco mais adiante (pág. 18) acrescenta: «exceptuando os tipos primitivos ou ancestrais do género».
Em 1843 a 44, no Boston Journal of Nat. Hist. U. S. (t. rv, pág. 468), o professor Haldeman expôs com talento os argumentos pró e contra a hipótese do desenvolvimento e da modificação da espécie; parecia pender para o lado da variabilidade. Os Vestiges of Creation apareceram em 1844. Na 10.a edição, muito melhorada (1853), o autor anónimo diz (p. 155): «A proposição na qual se pode parar após numerosas considerações, é que as diversas séries de seres animados, desde os mais simples e mais antigos até aos mais elevados e mais recentes, são, pela providência de Deus, o resultado de duas causas: primeiramente, de uma impulsão comunicada às formas da vida; impulsão esta que as arremessa num tempo dado, por via de geração regular, através de todos os graus de organização, até às Dicotiledóneas e Vertebrados superiores; estes graus são, além disso, pouco numerosos e geralmente marcados por intervalos no seu carácter orgânico, o que torna muito difícil na prática a apreciação das afinidades; secundariamente, de uma outra impulsão respeitante às forças vitais, tendendo, na série das gerações, a
apropriar, modificando-as, as conformações orgânicas às circunstâncias exteriores, como a nutrição, a localidade e as influências meteóricas; são essas as Adaptações do teólogo natural». O autor parece acreditar que a organização progride por saltos, mas que os efeitos produzidos pelas condições de existência são graduais. Sustenta com bastante força, baseando-se sobre razões gerais, que as espécies não são produções imutáveis, mas não vejo como as duas supostas «impulsões» possam explicar cientificamente as numerosas e admiráveis coadaptações que se notam na natureza; como, por exemplo, podemos tomar nota da marcha que devia seguir o picanço para se adaptar aos seus hábitos particulares. O
estilo brilhante e enérgico deste livro, ainda que apresentando nas primeiras edições poucos conhecimentos exactos e uma grande falta de prudência científica, assegurou-lhe logo um grande êxito; e, em minha opinião, prestou serviços chamando a atenção para o assunto, combatendo os prejuízos e preparando os espíritos para a adopção de ideias análogas. Em 1846, o veterano da zoologia, M. J. d’Omalius d’Halloy, publicou (Bull. de l’Acad. roy.
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