Browne com absoluta franqueza.

Ficou perplexo ao saber que os monges não falavam, acordavam às duas da manhã e dormiam em caixões. Quis saber por quê.

— É uma regra da ordem, disse a Tia Kate em tom firme.

— Tudo bem, mas por quê?, perguntou o sr. Browne.

A Tia Kate respondeu simplesmente que a regra era essa e não havia explicação. O sr. Browne continuou sem entender. Freddy Malins explicou, da melhor forma possível, que os monges estavam tentando expiar os pecados cometidos por todos os pecadores do mundo externo. A explicação não foi muito clara, porque ao fim o sr. Browne sorriu e disse:

— Gosto muito dessa ideia, mas um bom colchão de molas não serviria tão bem quanto um caixão?

— O caixão, explicou Mary Jane, é para que não se esqueçam do nosso destino final.

Como houvesse tomado um rumo lúgubre a conversa foi enterrada no silêncio dos convidados, durante o qual se escutou a sra. Malins dizer a meia-voz:

— Esses monges são homens muito bons, muito religiosos.

As passas e amêndoas e figos e maçãs e laranjas e doces e chocolates circularam ao redor da mesa e a Tia Julia ofereceu vinho do porto e xerez a todos os convidados. A princípio o sr. Bartell D’Arcy recusou, mas alguém o cutucou e cochichou alguma coisa que o levou a aceitar um copo. Aos poucos, enquanto os últimos copos eram servidos, a conversa se encerrou. Fez-se uma pausa, interrompida apenas pelo barulho do vinho e pelo rumor das cadeiras. As sras. Morkan, todas as três, olharam para a toalha de mesa. Alguém tossiu uma ou duas vezes e certos cavalheiros bateram delicadamente na mesa a fim de pedir silêncio. O silêncio veio e Gabriel empurrou a cadeira para trás e postou-se de pé.

As batidas de encorajamento tornaram-se mais audíveis e de repente cessaram. Gabriel apoiou dez dedos trêmulos na toalha de mesa e sorriu nervoso para a companhia. Ao defrontar-se com uma fileira de rostos atentos ergueu os olhos em direção ao lustre. O piano estava tocando uma valsa e ele conseguia ouvir o fru-fru das saias que roçavam a porta da sala de estar. Talvez houvesse pessoas em meio à neve do cais no lado de fora, olhando para as janelas iluminadas e escutando a valsa. Lá o ar era mais puro. Ao longe estava o parque com as árvores carregadas de neve. O Wellington Monument estava usando um cintilante chapéu de neve que reluzia acima do vasto campo de Fifteen Acres a oeste.

Então ele começou:

— Senhoras e senhores.

— Como em anos passados, coube a mim essa noite desempenhar uma tarefa muito agradável, que no entanto está muito além das minhas parcas habilidades como orador.

— Não, não!, exclamou o sr. Browne.

— Seja como for, resta-me apenas pedir a todos que levem em conta a minha intenção, mesmo que o resultado não seja dos melhores, e ouçam-me por uns breves instantes enquanto tento expressar em palavras os meus sentimentos relativos a essa ocasião.

— Senhoras e senhores. Não é a primeira vez que nos reunimos sob esse teto hospitaleiro, ao redor dessa mesa hospitaleira. Não é a primeira vez que somos beneficiários — ou talvez seja melhor dizer vítimas — da hospitalidade de certas boas senhoras.

Gabriel desenhou um círculo no ar com o braço e fez uma pausa. Todos riram ou sorriram para a Tia Kate e a Tia Julia e Mary Jane, que enrubesceram de satisfação. Gabriel prosseguiu com mais desenvoltura:

— A cada ano que passa aumenta a minha certeza de que o nosso país não tem nenhuma outra tradição que deva ser honrada e preservada com mais zelo do que a hospitalidade. Até onde sei, é uma tradição sem paralelo nos países modernos (e não foram poucos os lugares que visitei no estrangeiro).