Olhando atentamente, achou que eram os dois que haviam chegado até ele antes do Sargento Willis.

— O que estão fazendo aqui? — perguntou Sandokan, com uma voz gutural e estropiando o inglês.

— Descansando um pouco — respondeu um dos dois. — Procuramos a noite inteira e não aguentamos mais.

— Vocês também estão procurando o pirata?...

— Estamos, e posso dizer com certeza, sargento, que descobrimos a pista dele.

— Ora essa! — fez Sandokan, fingindo espanto. — E onde acharam?

— No bosque que acabamos de atravessar.

— E depois perderam a pista?

— Perdemos, e não conseguimos mais encontrar — disse o soldado com raiva.

— Para onde estava indo?

— Para o mar.

— Então estamos completamente de acordo.

— O que quer dizer com isso, sargento? — perguntaram os dois soldados, ficando em pé.

— Que eu e o Willis...

— Willis!... Você encontrou com ele?

— Encontrei, há umas duas horas.

— Continue, sargento.

— Estou querendo contar a vocês que eu e o Willis tínhamos descoberto algumas pistas perto da colina vermelha. O pirata está tentando chegar à costa setentrional da ilha, não há mais como se enganar.

— Então nós seguimos uma pista falsa!...

— Não, amigos — disse Sandokan, — acontece que o pirata enganou vocês com a maior habilidade.

— De que jeito? — perguntou o mais velho dos dois.

— Primeiro subiu de novo para o norte e seguiu o leito de um rio, depois o espertalhão deixou as armas nos bosques, fingindo que estava indo para leste e em seguida, fez o contrário, voltou para trás.

— E o que devemos fazer agora?

— Onde estão os seus companheiros?

— Dando uma batida na floresta a duas milhas daqui, indo em direção ao leste.

— Voltem imediatamente e deem a ordem para que se dirijam, sem perda de tempo, às praias setentrionais da ilha. E corram; o Lorde prometeu cem libras esterlinas e um posto superior a quem descobrir o pirata.

Não era preciso mais nada para convencer os dois soldados. Rapidamente cataram os fuzis do chão, guardaram no bolso os cachimbos que estavam fumando e, despedindo-se de Sandokan, se distanciaram depressa, desaparecendo por baixo das árvores.

O Tigre da Malásia os acompanhou com os olhos enquanto foi possível; depois voltou a se embrenhar no mato, murmurando:

— Já que estou com o caminho livre, posso dormir algumas horas. Mais tarde eu vejo o que devo fazer.

Bebeu uns goles do uísque que estava no cantil do sargento, comeu algumas bananas que recolhera na floresta, apoiou a cabeça em um maço de ervas e adormeceu profundamente, sem se preocupar mais com os inimigos.

Quanto tempo dormiu? Com certeza três ou quatro horas no máximo, pois, no instante em que abriu os olhos, o sol ainda estava alto. Quando ia se levantar para recomeçar a marcha, ouviu um tiro de fuzil ser disparado a pouca distância de onde estava, seguido do galope acelerado de um cavalo.

— Será que me descobriram? — murmurou Sandokan, se escondendo de novo entre os arbustos.

Armou rapidamente a carabina, abriu com cuidado as folhas e olhou.

No começo não viu nada, mas continuava ouvindo o galope que se aproximava rapidamente.

Pensou que se tratasse de algum caçador seguindo as pegadas de uma babirrussa, mas logo percebeu que estava enganado. A caça era um homem.

De fato, pouco tempo depois, um indígena ou um malaio, a julgar pelo tom negro-avermelhado da pele, atravessava correndo a pradaria, tentando chegar a um grupo compacto de bananeiras.

Era um homem baixo, forte, quase nu, usando apenas um saiote esfarrapado e um chapéu feito de fibras de ratã, empunhando na mão direita um bastão nodoso e, na esquerda, um kriss com a lâmina serpenteante.

A corrida dele foi tão rápida que Sandokan não teve tempo de ver melhor.

Mas notou que ele se embrenhou, com um último salto, no meio das bananeiras e desapareceu embaixo das folhas gigantescas.

— Quem será? — perguntou Sandokan a si mesmo, espantado. — Com certeza um malaio.

De repente uma suspeita atravessou o seu cérebro.

— E se for um dos meus homens? — perguntou. — Será que Yanez desembarcou alguém para me procurar? Ele sabia que eu estava vindo para Labuan.

Estava prestes a sair da mata para procurar o fugitivo quando um cavaleiro apareceu na margem do bosque.

Era um soldado de cavalaria do regimento de Bengala.

Parecia furibundo, pois amaldiçoava e maltratava o cavalo, esporeando e atormentando o animal com violência.

A cerca de cinquenta passos da mata de bananeiras, saltou agilmente para o chão, amarrou o cavalo na raiz de uma planta, armou o mosquete e ficou escutando e observando atentamente as árvores vizinhas.

— Com todos os raios do universo! — exclamou. — Por acaso ele desapareceu da face da terra?... Deve estar escondido em algum lugar e, por Deus, não vai escapar pela segunda vez do meu mosquete. Sei muito bem que encontrei o Tigre da Malásia, mas John Gibbis nada teme. Se este cavalo danado não tivesse empinado, a esta hora aquele pirata não estaria mais vivo.

Com esse monólogo, o cavaleiro desembainhou o sabre e se embrenhou em uma mata de arecas e de arbustos, abrindo os ramos com cuidado.

Aquelas árvores faziam fronteira com a mata de bananeiras, mas era de se duvidar que ele conseguisse desentocar o fugitivo, já a uma distância bem maior. Depois de atravessar rastejando as lianas e as raízes, o indígena encontrara um esconderijo perfeito que o deixava a salvo de qualquer busca.

Sandokan, que não abandonara os arbustos, tentava em vão descobrir onde aquele malaio estava escondido. Por mais que se esticasse e olhasse embaixo e em cima das folhas enormes, não conseguia encontrá-lo em lugar nenhum.

Mas tomava cuidado para evitar que o cavaleiro encontrasse o caminho certo, com medo de trair aquele pobre indígena que estava sendo perseguido por sua culpa.

— Vamos lá, tenho que tentar salvá-lo — murmurou. — Pode ser um dos meus homens ou algum explorador enviado até aqui por Yanez.

Preciso fazer aquele cavaleiro ir procurar em outro lugar ou vai acabar por descobri-lo.

Estava prestes a se mover quando viu um festão de lianas se agitar a poucos passos.

Virou depressa a cabeça para aquela parte e viu aparecer o malaio. O pobre homem, apavorado, com medo de ser encontrado, estava trepando naqueles cipós para chegar ao alto de uma mangueira, em cuja folhagem compacta poderia encontrar um ótimo esconderijo.

— Muito esperto! — murmurou.

Esperou até que chegasse aos ramos e se virasse. Assim que viu aquele rosto, mal conseguiu segurar um grito de alegria e de espanto.

— Giro-Batol! — exclamou. — Ah! o meu valente malaio!... Como é que ainda está vivo?... Contudo, lembro bem de tê-lo visto no navio que estava afundando, morto ou moribundo.

Mas que sorte!... Esse aí deve ter uma alma bem pregada no corpo. Mas vamos lá, está na hora de salvá-lo!...

Armou a carabina, circundou a mata e apareceu bruscamente na margem do bosque, gritando:

— Ei, amigo!... O que é que você está procurando com tanto esforço? Conseguiu ferir alguma babirrussa?...

Ao ouvir aquela voz, o cavaleiro saltou com agilidade para fora dos arbustos, com o mosquete apontado para frente e soltou um grito de susto:

— Caramba! Um sargento! — exclamou.

— Está surpreso, amigo?

— De onde é que você saiu?

— Da floresta. Ouvi um tiro de fuzil e corri para chegar até aqui e ver o que estava acontecendo. Você atirou em alguma babirrussa?

— É, sim. Uma babirrussa mais perigosa que um tigre — disse o cavaleiro, com uma cólera malcontida.

— Mas então que tipo de animal era?

— Você também não estava procurando uma pessoa? — perguntou o soldado.

— Estava.

— O Tigre da Malásia, não é verdade, sargento?

— Exatamente.

— Chegou a ver aquele pirata terrível?

— Não, mas descobri a sua pista.

— Pois eu, sargento, encontrei o pirata em pessoa.

— Impossível!...

— Cheguei a atirar nele.

— E...