Porém, se o dão, falso que seja, a dádiva

É verdadeira. Aceito,

Cerro olhos: é bastante.

Que mais quero?

Não Tenhas

Não tenhas nada nas mãos

Nem uma memória na alma,

Que quando te puserem

Nas mãos o óbolo último,

Ao abrirem-te as mãos

Nada te cairá.

Que trono te querem dar

Que Átropos to não tire?

Que louros que não fanem

Nos arbítrios de Minos?

Que horas que te não tornem

Da estatura da sombra

Que serás quando fores

Na noite e ao fim da estrada.

Colhe as flores mas larga-as,

Das mãos mal as olhaste.

Senta-te ao sol. Abdica

E sê rei de ti próprio.

Nem da Erva

Nem da serva humilde se o Destino esquece.

Saiba a lei o que vive.

De sua natureza murcham rosas

E prazeres se acabam.

Quem nos conhece, amigo, tais quais fomos?

Nem nós os conhecemos.

Negue-me tudo a sorte, menos vê-la

Negue-me tudo a sorte, menos vê-la,

Que eu, estóico sem dureza,

Na sentença gravada do Destino

Quero gozar as letras.

Ninguém a outro Ama senão se ama

Ninguém a outro ama, senão que ama

O que de si há nele, ou é suposto.

Nada te pese que não te amem. Sentem-te

Quem és, e és estrangeiro.

Cura de ser quem és, amam-te ou nunca.

Firme contigo, sofrerás avaro

De penas.

Ninguém, na vasta selva virgem

Ninguém, na vasta selva virgem

Do mundo inumerável, finalmente

Vê o Deus que conhece.

Só o que a brisa traz se ouve na brisa

O que pensamos, seja amor ou deuses,

Passa, porque passamos.

No Breve Número

No breve número de doze meses

O ano passa, e breves são os anos,

Poucos a vida dura.

Que são doze ou sessenta na floresta

Dos números, e quanto pouco falta

Para o fim do futuro!

Dois terços já, tão rápido, do curso

Que me é imposto correr descendo, passo.

Apresso, e breve acabo.

Dado em declive deixo, e invito apresso

O moribundo passo.

No Ciclo Eterno

No ciclo eterno das mudáveis coisas

Novo inverno após novo outono volve

À diferente terra

Com a mesma maneira.

Porém a mim nem me acha diferente

Nem diferente deixa-me, fechado

Na clausura maligna

Da índole indecisa.

Presa da pálida fatalidade

De não mudar-me, me infiel renovo

Aos propósitos mudos

Morituros e infindos.

No Magno Dia

No magno dia até os sons são claros.

Pelo repouso do amplo campo tardam.

Múrmura, a brisa cala.

Quisera, como os sons, viver das coisas

Mas não ser delas, conseqüência alada

Em que o real vai longe

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