– Já que os senhores querem saber o que penso, eis minha resposta. Não festejo o Natal e não me dou ao luxo de alegrar vagabundos. Contribuo para o sustento das instituições de que falei antes, e isto é o bastante. Quem estiver passando necessidade, que procure por elas.

– Muitos não podem fazer isso, e outros preferem a morte.

– Que morram, então – disse Scrooge. – Ajudarão, ao menos, a evitar o excesso da população. E além do mais, desculpem, mas estou me lixando para tudo isso.

– Pois não deveria – observou o cavalheiro.

– Isso não é da minha conta. Já é mais do que o suficiente que um homem se ocupe de seus próprios negócios, sem atrapalhar os dos outros. Os meus ocupam todo o meu tempo. Boa-tarde, senhores!

Os dois cavalheiros, percebendo que seria inútil insistir, retiraram-se. Scrooge retomou seu trabalho ainda mais satisfeito consigo mesmo e com um humor melhor do que nunca.

Enquanto isso, a neblina e a escuridão tinham ficado tão densas que algumas pessoas surgiram com tochas, oferecendo-se para mostrar o caminho a quem estava a cavalo ou em carruagens. A antiga torre de uma igreja, cujo velho sino espiava disfarçadamente para Scrooge do alto de uma janela gótica, ficou invisível e deu as horas dentro das nuvens, com vibrações trêmulas, como se lá no alto a sua cabeça gelada estivesse batendo os dentes. O frio aumentava. Na esquina da rua principal, alguns operários que estavam consertando a tubulação de gás acenderam um grande fogo em um fogareiro, e logo se reuniu uma pequena multidão de homens e rapazes maltrapilhos em volta dele, esquentando as mãos e piscando os olhos, deliciados. Na fonte pública abandonada, uma gota prestes a pingar congelou-se e virou um pedaço solitário de gelo. O brilho das lojas iluminadas, com as vitrines decoradas com ramos de pinheiro e cerejinhas, avermelhava os rostos pálidos dos que passavam. As mercearias pareciam uma verdadeira festa, e era impossível acreditar que coisas tão fúteis quanto a compra, a venda e a pechincha tivessem alguma coisa a ver com elas. O prefeito, em sua poderosa prefeitura, dava ordens a seus cinquenta cozinheiros e empregados, para garantir que o Natal fosse comemorado com toda a fartura que merecia a casa oficial. E até o alfaiate, que havia sido multado por andar bêbado pelas ruas, preparava a massa para o bolo de Natal em sua pequena casa, enquanto sua esposa magrela saía com o filhinho para comprar carne.

E cada vez mais névoa e frio! Um frio cortante, agudo, penetrante! Se o bom São Dunstan, padroeiro dos ferreiros, tivesse salpicado o nariz do diabo com um pouco desse clima, em vez de usar suas armas habituais, aí sim o satã urraria com toda sua força.

O dono de um minúsculo e jovem nariz, corroído pelo esfomeado frio como um osso roído por um cão, parou na porta de Scrooge para alegrá-lo com um canto de Natal. Mas assim que ouviu os primeiros sons:

Deus o abençoe, feliz cavalheiro!

Que nada o faça desesperar!

Scrooge agarrou a régua com tanta raiva que o garoto fugiu apavorado, deixando a porta entregue à neblina e ao frio, bem mais acolhedores que o dono da casa.

Finalmente a hora de fechar o escritório soou. De má vontade, Scrooge desceu de seu alto tamborete e avisou o ansioso escrevente em seu cubículo, que tratou logo de soprar a vela e botar o chapéu na cabeça.

– Suponho que vá querer tirar uma folga amanhã, não é? – perguntou Scrooge.

– Se não for incomôdo...

– É incômodo e injusto – disse Scrooge. – Se eu quisesse descontar este dia do seu salário, você acharia errado, não é?

O empregado sorriu amarelo.

– Mas acha certo que eu lhe pague um dia de salário sem que você trabalhe – continuou Scrooge.

O empregado disse que isso acontecia somente uma vez por ano.

– Uma desculpa muito esfarrapada para meter a mão no bolso de um homem a cada 25 de dezembro! – exclamou Scrooge, abotoando o casacão até o queixo. – Mas não tem solução! Então trate de chegar bem cedo na manhã seguinte!

O empregado prometeu e Scrooge saiu para a rua, resmungando. Em um minuto o escritório estava fechado, e o empregado, com as longas pontas do cachecol branco que lhe iam até a cintura (pois não podia se dar ao luxo de ter um casacão), comemorou a véspera de Natal deslizando vinte vezes num escorregador, em um parque, antes de ir correndo para casa brincar de cabra-cega.

Scrooge comeu o seu triste jantar na não menos triste taberna de sempre e, depois de ler todos os jornais e examinar a sua conta bancária, foi para casa dormir. Ele morava em um lugar que tinha pertencido ao seu falecido sócio, uma série de quartos sombrios num prédio muito estranho, esquecido no fundo de um pátio. Não se podia deixar de imaginar que o prédio havia corrido para lá quando era um prédio-criança, brincando de esconde-esconde com os outros, e acabou esquecendo o caminho de volta, ficando lá para sempre. Agora estava velho e assustador, pois afora Scrooge, ninguém mais morava lá, e as outras peças serviam de escritório. O pátio estava tão escuro que até mesmo Scrooge, que conhecia cada pedra dele, se viu obrigado a tatear para achar o caminho. A bruma e o gelo se acumulavam de tal jeito sobre o velho e negro portão do prédio, que parecia que o Gênio das Estações tinha sentado na soleira da porta para ali fazer alguma fúnebre meditação.

A tranca da porta do prédio era muito grande. Scrooge a via todos os dias, de manhã e à noite, desde que tinha se mudado para lá. Ele era um homem totalmente sem imaginação, como qualquer homem do centro financeiro de Londres, incluindo-se aqui os membros da municipalidade, os assessores e os criados, o que não é pouca coisa.