– Supera tudo o que já vi, e não sou inexperiente.
– Não há pistas! – disse Gregson.
– Absolutamente nenhuma! – ecoou Lestrade.
Sherlock Holmes se aproximou do corpo e, ajoelhando-se, examinou-o atentamente.
– Vocês têm certeza de que não há ferimento? – perguntou, apontando para as inúmeras gotas e salpicos de sangue que havia por toda parte.
– Absoluta! – gritaram os dois detetives.
– Então, sem dúvida, este sangue pertence a um segundo indivíduo... presumivelmente ao assassino, se é que foi cometido um assassinato. Isso me lembra as circunstâncias em torno da morte de Van Jansen, em Utrecht, no ano de 34. Você se lembra do caso, Gregson?
– Não, senhor.
– Leia a respeito... realmente deveria ler. Não há nada de novo embaixo do Sol. Tudo já foi feito antes.
Enquanto falava, seus dedos ligeiros voavam aqui, ali e por toda parte, sentindo, pressionando, desabotoando, examinando, enquanto seus olhos mantinham a mesma expressão sonhadora que já observara neles. Tão rápido foi o exame que ninguém teria imaginado a precisão com que foi feito. Por fim, ele cheirou os lábios do morto, e depois deu uma olhada nas solas das botas de verniz.
– Ele não foi mexido de modo algum? – perguntou.
– Apenas o necessário para fins de exame.
– Podem levá-lo para a casa mortuária – disse. – Não há mais nenhuma informação a ser obtida.
Gregson tinha a maca e quatro homens à mão. Ao ouvir o seu chamado, eles entraram na sala, pegaram o estranho e o carregaram embora. Enquanto o levantavam, um anel caiu tilintando e rolou pelo chão. Lestrade o agarrou e fitou-o com olhos perplexos.
– Havia uma mulher então – gritou. – É a aliança de uma mulher.
Ele a mostrou, enquanto falava, sobre a palma de sua mão. Todos nós o rodeamos e fitamos o anel. Não havia dúvida de que o aro de ouro puro enfeitara outrora o dedo de uma noiva.
– Isso complica o caso – disse Gregson. – Meu Deus, já estava bastante complicado.
– Tem certeza de que não o simplifica? – observou Holmes. – Não vai se aprender nada olhando para o anel. O que você encontrou nos bolsos dele?
– Temos tudo aqui – disse Gregson, apontando para um monte desordenado de objetos sobre um dos primeiros degraus da escada. – Um relógio de ouro, no 97163, feito por Barraud, de Londres. Corrente de ouro Albert, muito pesada e sólida. Anel de ouro, com emblema maçônico. Pregador de ouro: cabeça de buldogue com rubis no lugar dos olhos. Caixa de cartões de couro russo com os cartões de Enoch J. Drebber, de Cleveland, nome que corresponde ao E. J. D. sobre o lenço. Nenhuma carteira, mas dinheiro solto no montante de sete libras e treze. Edição de bolso do Decameron de Boccaccio, com o nome de Joseph Stangerson sobre a guarda.
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