Pertence à minha filha Sally, casada apenas há um ano, e seu marido é criado de bordo de um navio da Union, e nem me atrevo a pensar no que ele diria se voltasse para casa e descobrisse que ela perdeu o anel, ele já é muito rude no melhor dos seus dias, mas muito mais rude quando bebe. Se quiserem saber, ela foi ao circo na noite passada junto com...

– Esta é a sua aliança? – perguntei.

– Deus seja louvado! – gritou a velha. – Sally vai ser uma mulher feliz hoje à noite. É a aliança.

– E qual é o seu endereço – perguntei pegando um lápis.

– Duncan Street, no 13, Houndsditch. Muito longe daqui.

– A Brixton Road não fica no caminho entre nenhum circo e Houndsditch – disse Sherlock Holmes rispidamente.

A velha voltou o rosto e olhou atentamente para ele com seus olhinhos orlados de vermelho.

– O cavalheiro me pediu o meu endereço – disse ela. – Sally mora num quarto em Mayfield Place, 3, Peckham.

– E o seu nome é...?

– O meu nome é Sawyer... o dela é Dennis, foi Tom Dennis que se casou com ela. Um garoto inteligente, limpo, quando está no mar, nenhum criado de bordo na companhia é mais respeitado que ele. Mas quando está em terra, a confusão que arma com mulheres e nos bares...

– Aqui está a sua aliança, sra. Sawyer – interrompi, obedecendo a um sinal de meu companheiro. – Ela claramente pertence à sua filha, e me alegro de poder restituí-la ao seu legítimo dono.

Com muitas bênçãos resmungadas e juras de gratidão, a velha guardou a aliança na bolsa e desceu a escada arrastando os pés. Sherlock Holmes deu um pulo assim que ela saiu e entrou correndo no seu quarto. Voltou poucos segundos depois embrulhado num casacão e numa gravata.

– Vou segui-la – disse apressadamente. – Ela deve ser uma cúmplice, e vai me levar até o assassino. Espere por mim. – A porta do corredor ainda nem tinha batido atrás de nossa visita, e Holmes já chegava ao pé da escada. Olhando pela janela, pude vê-la caminhando com dificuldade ao longo do outro lado da rua, enquanto o seu perseguidor a seguia a uma pequena distância. “Ou toda a sua teoria está errada”, pensei comigo mesmo, “ou ele será levado agora até o coração do mistério.” Ele nem precisava pedir que eu o aguardasse, pois eu sentia que o sono seria impossível antes de saber o resultado da sua aventura.

Eram quase nove horas quando ele partiu. Eu não tinha ideia de quanto tempo se demoraria, mas fiquei impassivelmente sentado, fumando meu cachimbo e folheando as páginas de Vie de Bohème, de Henri Murger. Soaram as dez horas, e ouvi os passos da criada seguindo apressados para a cama. Onze horas, e o caminhar mais imponente da proprietária passou pela minha porta rumo ao mesmo destino. Já era quase meia-noite quando ouvi o som estridente da sua chave na porta da frente. No instante em que entrou, vi pela sua cara que não tivera sucesso. Divertimento e pesar pareciam estar lutando para dominá-lo, até que o primeiro de repente ganhou a parada, e ele explodiu numa sonora gargalhada.

– Não gostaria que os policiais da Scotland Yard soubessem disso por nada deste mundo – gritou, deixando-se cair na poltrona. – Tenho caçoado tanto deles que nunca me deixariam em paz. Posso me dar ao luxo de rir, porque sei que no final vou acertar contas com eles.

– O que aconteceu? – perguntei.

– Oh, não me importo de lhe contar uma história que me desabona. Aquela criatura já andara um pouco, quando começou a mancar e a dar todos os sinais de que tinha o pé machucado. Ela então parou e chamou um carro de quatro rodas que estava passando. Consegui me postar bem perto dela para ouvir o endereço, mas não precisava ser tão ansioso, pois ela o pronunciou em voz bem alta a ponto de ser ouvida no outro lado da rua: “Vá para Duncan Street, no 13, Houndsditch”, gritou. Isso começa a parecer genuíno, pensei, e depois de vê-la segura dentro do carro, eu me empoleirei na parte detrás.