Mas a segurança e elegância que geralmente marcavam as suas maneiras e modo de vestir tinham desaparecido. O seu rosto estava perturbado e preocupado, enquanto as roupas estavam desalinhadas e sujas. Tinha evidentemente vindo com a intenção de consultar Sherlock Holmes, pois ao perceber seu colega pareceu embaraçado e confuso. Ficou parado no centro da sala, manuseando nervosamente o chapéu e sem saber o que fazer.
– Este é um caso muito extraordinário – disse por fim. – Um caso muito incompreensível.
– Ah, é o que você acha, sr. Lestrade! – gritou Gregson triunfantemente. – Achei que você chegaria a essa conclusão. Conseguiu encontrar o secretário, o sr. Joseph Stangerson?
– O secretário, o sr. Joseph Stangerson – disse Lestrade gravemente –, foi assassinado no Hotel Halliday mais ou menos às seis horas da manhã de hoje.
[1]“Um imbecil sempre encontra outro ainda mais imbecil que o admira.” (N.T.)
Capítulo 7
Luz na escuridão
A notícia que Lestrade nos deu era tão grave e tão inesperada que ficamos todos os três bastante estarrecidos. Gregson pulou de sua cadeira e derrubou o resto de seu uísque com água. Fitei em silêncio Sherlock Holmes, que tinha os lábios comprimidos e as sobrancelhas cerradas sobre os olhos.
– Stangerson também! – murmurou. – A trama se complica.
– Já estava bastante complicada antes disso – resmungou Lestrade, tomando uma das cadeiras. – Tenho a impressão de que cheguei no meio de uma espécie de conselho de guerra.
– Você tem... você tem certeza dessa informação? – gaguejou Gregson.
– Acabo de vir do seu quarto – disse Lestrade. – Fui o primeiro a descobrir o que ocorreu.
– Nós estivemos escutando a visão de Gregson sobre o caso – observou Holmes. – Você se importaria de nos contar o que viu e fez?
– Nenhuma objeção – respondeu Lestrade, sentando-se. – Confesso de bom grado que achava que Stangerson estivesse envolvido com a morte de Drebber. Essa nova ocorrência me mostrou que estava redondamente enganado. Com essa ideia na cabeça, me pus a verificar o que acontecera com o secretário. Eles tinham sido vistos juntos em Euston Station lá pelas oito e meia da noite do dia três. Às duas da madrugada, Drebber fora encontrado em Brixton Road. O problema que tinha diante de mim era descobrir como Stangerson empregara o seu tempo entre as 8h30 e a hora do crime, e o que lhe acontecera depois. Telegrafei para Liverpool, dando uma descrição do homem, e pedindo que vigiassem os navios americanos. Depois comecei a verificar todos os hotéis e pensões nos arredores de Euston. Vejam, eu achava que se Drebber e seu companheiro tinham se separado, a atitude natural do último seria pernoitar em algum lugar por perto, para voltar à estação na manhã seguinte.
– Eles provavelmente tinham um ponto de encontro marcado de antemão – observou Holmes.
– Foi o que se descobriu. Passei toda a tarde de ontem fazendo investigações inteiramente sem resultados. Hoje de manhã comecei muito cedo, e às oito horas cheguei ao Halliday’s Private Hotel, em Little George Street. Quando perguntei se ali estava hospedado um certo sr. Stangerson, logo me reponderam afirmativamente.
– “Sem dúvida, o senhor é o cavalheiro que ele está esperando”, disseram.
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