“Há dois dias que ele aguarda a chegada de um cavalheiro.”

– “Onde é que ele está agora?”, perguntei.

– “Está lá em cima na cama. Pediu que o chamassem às nove horas.”

– “Vou subir e vê-lo imediatamente”, disse eu. – Tinha a ideia de que a minha chegada repentina poderia abalar seus nervos e levá-lo a fazer alguma declaração desavisada. O engraxate do hotel se ofereceu para me mostrar o quarto: era no segundo andar, e tinha-se que cruzar um pequeno corredor para chegar até lá. O engraxate me apontou a porta e estava prestes a descer de novo, quando vi algo que me causou náusea, apesar dos meus vinte anos de experiência. Por debaixo da porta corria um pequeno fio de sangue, que fizera meandros pela passagem e formara uma pequena poça ao longo da beirada no outro lado. Dei um grito, que fez o engraxate voltar. Ele quase desmaiou quando viu o sangue. A porta estava trancada pelo lado de dentro, mas nós a forçamos com os ombros e entramos. A janela do quarto estava aberta, e ao lado da janela, todo amontoado, estava o corpo de um homem vestido com a camisa de dormir. Estava bem morto, e já por algum tempo, pois seus membros estavam rígidos e frios. Quando o viramos, o engraxate o reconheceu imediatamente, afirmando que era o mesmo cavalheiro que alugara o quarto com o nome de Joseph Stangerson. A causa da morte era uma profunda punhalada no lado esquerdo, que devia ter penetrado o coração. E agora vem a parte mais estranha do caso. O que vocês acham que havia acima do assassinado?

Senti um arrepio em todo corpo e o pressentimento de um futuro horror, mesmo antes de Sherlock Holmes responder.

– A palavra RACHE, escrita com letras de sangue – disse ele.

– Exatamente – disse Lestrade com uma voz aterrorizada. Ficamos todos em silêncio por algum tempo.

Havia algo metódico e incompreensível nos atos desse assassino desconhecido que conferia a seus crimes um renovado horror. Os meus nervos, bastante firmes no campo de batalha, tremiam só de pensar.

– O homem foi visto – continuou Lestrade. – Um menino leiteiro, a caminho da leitaria, descia por acaso o beco que começa no pátio dos fundos do hotel. Ele notou que uma escada de mão, que normalmente ficava por ali, estava erguida contra uma das janelas do segundo andar, que se achava bem aberta. Depois de passar, olhou para trás e viu um homem descer pela escada. Ele descia tão tranquila e manifestamente que o menino imaginou que fosse um carpinteiro ou marceneiro fazendo algum trabalho no hotel. Não prestou atenção no indivíduo, apenas pensou com seus botões que era muito cedo para que estivesse trabalhando. Ele tem a impressão de que o homem era alto, tinha uma face avermelhada, e estava vestido com um casaco longo e amarronzado. Ele deve ter se demorado no quarto depois do assassinato, pois encontramos água ensanguentada na bacia, onde lavara as mãos, e marcas nos lençóis onde deliberadamente limpara a sua faca.

Olhei para Holmes ao escutar a descrição do assassino, que correspondia tão exatamente à sua. Não havia, entretanto, nenhum traço de júbilo ou satisfação na sua face.

– Você não encontrou nada no quarto que pudesse fornecer uma pista do assassino? – perguntou.

– Nada. Stangerson tinha a carteira de Drebber no bolso, mas parece que isso era normal, pois ele fazia todos os pagamentos. Havia umas oitenta e poucas libras na carteira, mas nada fora tirado. Quaisquer que sejam os motivos desses crimes extraordinários, roubo certamente não está entre eles. Não havia documentos, nem lembretes no bolso do homem, exceto um único telegrama, remetido de Cleveland há mais ou menos um mês, e contendo as seguintes palavras: “J. H.