O senhor faz muito forte.
HOVSTAD — Deu aula na escola hoje, senherita?
PETRA — Sim, duas horas.
BILING — E quatro no Instituto, pela manhã.
PETRA — Cinco.
CATARINA — Pelo que estou vendo tem muitos cadernos pra corrigir.
HOVSTAD — A senhorita trabalha demais, sendo tão moça ainda... vai acabar no jornalismo.
PETRA — Não me queixo, Hovstad. Durmo melhor depois de um dia de trabalho.
CATARINA — Filha do pai.
(Prefeito e Stockman)
PREFEITO — Tomas, eu soube, por minhas fontes, que há um novo artigo teu em vias de ser publicado no “Mensageiro do Povo”?
STOCKMAN — Sim, é verdade. Há uma coisa que escrevi no inverno, sobre as características e propriedades das nossas águas. Mas não vai ser publicado agora, prefiro esperar mais um pouco.
PR*EFEITO — Ótimo... mas por quê? É início da temporada, seria oportuno uma boa propaganda. Do ponto de vista da Prefeitura...
STOCKMAN — Vou esperar uns dias. Tenho meus motivos.
PREFEITO — Que motivos?
STOCKMAN — Escuta Peter, não posso te dizer, pelo menos por enquanto. Provavelmente não é nada, bobagem minha.
PREFEITO — Não gosto quando começam estes teus ares misteriosos. De um modo ou de outro espero que contraindicações ou mesmo novas indicações das águas me sejam informadas em primeiro lugar. Afinal são as Termas, e numa sociedade organizada o particular deve ser subordinado ao geral, ou seja, às autoridades encarregadas de zelar pelo bem geral.
STOCKMAN — Mas ô, Peter, não é só você... Eu sou o médico-chefe das termas, eu, eu... (contendo-se) .. .me recuso a brigar. A última vez que briguei com você eu tinha quatorze anos, desde então jurei nunca mais cometer essa tolice.
PREFEITO — Justamente por ser seu irmão é que é preciso esclarecer bem certos pontos...
CATARINA — Acho que posso mandar botar a mesa, o assado está no ponto.
PREFEITO (para ela) — Infelizmente não poderei ficar.
CATARINA — Não janta conosco?
PREFEITO — Faço refeições leves à noite. Além do que já há muitos à mesa... Boa-noite a todos.
ALACKSEN — Boa-noite, senhor Prefeito. (O Prefeito sai.)
STOCKMAN (para Catarina) — Peter não simpatiza muito com nossos amigos da imprensa.
CATARINA — Hovstad é tão simpático, tem futuro. Viu o jeito que ele olha para a Petra?
STOCKMAN — Vi mas não vi. Não te mete, amor.
PETRA — Ah, pai! Quando eu ia entrando o carteiro me entregou esta carta para o senhor, e eu esqueci.
STOCKMAN — Então me dê. (Pega a carta e bota os óculos.)
CATARINA — É essa que você estava esperando, Tomás?
Stockman — Ê, é, com licença. Preciso ler isso com atenção. (Sai.)
PETRA — Que é, mamãe?
CATARINA — Não sei, mas ele não parava de perguntar pelo carteiro nos últimos dias.
ALACKSEN — Deve ser algum doente que mora no campo. (Para o Capitão.) Como vai passando nosso lobo do mar?
CAPITÃO — Bem! Nesta casa se está sempre bem.
CATARINA — Vou lhe trazer mais sangria... gostou? E sente-se. Esta não é a sua poltrona predileta? Não pense que não reparei. (Biling e Hovstad jogam xadrez.)
HOVSTAD — Cheque.
BILING — Eu não tinha visto. Eu nunca vejo.
HOVSTAD — Biling... parece que o doutor recebeu a tal carta que estava esperando, a carta da capital.
BILING — Sim, a novidade que ele anda anunciando sem dizer o que é.
HOVSTAD — E sobre a qual ando curiosíssimo. Segundo o doutor, é uma coisa que pode mudar a vida da cidade, não imagino o que possa ser...
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