Biling, você está em cheque.

BILING — Eu já vi. (Entra Stockman com a carta na mão.)

STOCKMAN — Podem estar certos, amigos, que vamos ter novidades aqui na terrinha. ah, isso vamos. Pena que Peter já tenha ido embora.

ALACKSEN — Novidades?

CATARINA — De que se trata?

STOCKMAN — Uma grande descoberta, Catarina! Eu sabia, eu desconfiava, depois acham que sou louco...

HOVSTAD — O que O senhor quer dizer, doutor? Assim, o senhor nos assusta!

PETRA — Conta, pai.

STOCKMAN — Não é opinião geral que nossa cidade é um lugar saudável?

BILING — Certamente.

STOCKMAN — Tanto que recomendamos nossas águas, tanto aos doentes quanto aos sãos?

CATARINA — Claro, Tomas, claro...

STOCKMAN — Pois bem, nosso estabelecimento termal, a que chamamos a grande artéria, o nervo motor, não sei mais o que...

ALACKSEN — “O coração palpitante de nossa cidade”, tomei a liberdade de dizer num momento solene, lembram-se?

STOCKMAN — Pois bem. Sr. Alacksen. O coração está infectado, os banhos, as águas, tudo infectado!

ALACKSEN — Não pede ser!

BILING — Doutor!

HOVSTAD — É incrível!

STOCKMAN — Nosso estabelecimento é, nesse momento, perigosíssimo para a saúde pública! Terá de ser fechado por algum tempo.

ALACKSEN — Doutor Stockman!

CAPITÃO — Calma, senhores, calma. Tomas vai explicar.

STOCKMAN — Todas as imundícies do pântano das montanhas, todas as podridões que descem lá de cima, infectam a água da canalização, que vai ao reservatório. E esse lixo maldito destila seu veneno até a praia...

PETRA — Até os banhos de mar?

STOCKMAN — Exatamente.

CAPITÃO — E como o senhor teve certeza de tudo isso?

STOCKMAN — Através de pesquisas, meu caro, as mais detalhadas e conscienciosas possíveis! Há muito que eu já ando desconfiado da coisa. No verão passado, entre visitantes e banhistas encontrei vários casos de afecções tifoides e gástricas... sem nenhuma explicação aparente.

CATARINA — Eu me lembro.

STOCKMAN — No princípio achei que a infecção era trazida pelos banhistas. Mas no inverno a coisa persistiu. .. eu fiquei preocupadíssimo e mandei examinar as águas! Mandei amostras para a Universidade da Capital, requisitando um exame químico completo. E aqui está o resultado: presença de substâncias orgânicas em decomposição, a água está cheia de infusórios. Qualquer uso, interno ou externo, é totalmente desaconselhável... e talvez perigosamente prejudicial à saúde!

CATARINA — Louvado seja Deus, Tomás, que você descobriu isso há tempo, antes que muita gente seja prejudicada!

STOCKMAN — Louvado seja, é isso, Catarina. (Beija a filha.)

ALACKSEN (levantando-se pálido) — Mas então, Doutor, desculpe dizer não, eu não quero dizer... o estabelecimento não pode ser fechado, nossa economia depende do estabelecimento, estamos perdidos... Deve haver um meio, é claro, não, Doutor, que há um meio?

STOCKMAN — Sim, claro que há! O estabelecimento terá que fechar temporariamente! Um período curto, apenas o suficiente para trocar os encanamentos.

CAPITÃO — Todos os encanamentos?

Stockman — É, vão ser todos, quer dizer, aproveita-se os canos. Porque a captação das águas foi feita muito embaixo, vai ter que ser feita muito mais acima, alem dos pântanos, é o único jeito, não há discussão. (Explodindo.) Você se lembra, Petra, eu sabia disso todo o tempo. Fui contra o projeto deles desde o início, claro que tinha de ser captado em cima na nascente.

PETRA — Claro que lembro.

ALACKSEN — Então, graças a Deus a situação tem jeito!!!

STOCKMAN — Eu já estudei muito, um primeiro estudo para apresentar à administração das termas caso os exames confirmassem minhas suspeitas. Pega lá, querida, é a pasta cinza que está embaixo na mesinha de cabeceira. (Petra vai.) Estou com o relatório pronto desde a semana passada. Catarina, pede a Maria para levar imediatamente a Peter, ele precisa ser o primeiro a saber, que ele leia, eu vou lá na primeira hora amanhã. Peter, talvez fique aborrecido de ter sido eu e não ele quem fez a descoberta.

CATARINA — E isso te preocupa muito.

STOCKMAN — É claro que no íntimo ficará contente, mas tem um medo horrível que outra pessoa preste serviço à comunidade...

PETRA — Quem sabe, pai, você não pode dar um jeito dele acreditar que a descoberta foi dele...

CATARINA — Petra!

STOCKMAN — Ah, meu Deus, de qualquer modo é um problema!

HOVSTAD (levantando-se) — Dr. Stockman, permite que eu publique uma nota sobre a descoberta, no “Mensageiro do Povo”?

STOCKMAN — Sua obrigação é publicar. O fato é de interesse público, infelizmente todos têm de saber o quanto antes.

. BILING — Na minha modesta opinião, a cidade deveria fazer uma homenagem oficial, uma moção de agradecimento ao Dr.