..
ALACKSEN — Não deve haver publicação sem assentimento do prefeito.
STOCKMAN — E que será o primeiro a querer publicar. E de antemão agradeço muito a todos o interesse e apoio que manifestaram. Na. da melhor para um homem que sentir-se apoiado pela imprensa, pela maioria compacta, enfim, por seus amigos e concidadãos.
ALACKSEN — Brindo ao povo de Molendal, que tem a ventura de contar com homens como o Dr. Stockman velando incansavelmente por sua segurança. Viva o Povo de Molendal! (Todos brindam.)
CATARINA — Então é para a América que o senhor vai, Capitão?
CAPITÃO — Sim, pelo menos é o que está programado.
BILING — Mas então o senhor não vai tomar parte nas eleições municipais?
CAPITÃO — Vão haver novas eleições?
BILING — Não sabia?
CAPITÃO — Para falar a verdade, não entendo dessas coisas.
BILING — Mas mesmo assim deve votar!
CAPITÃO — Mesmo sem entender da coisa?
BILING — Mas como assim, Capitão? O que o senhor quer dizer? A sociedade, ela é como um navio. Todos devem estar no leme.
CAPITÃO — É possível que em terra firme seja assim. No mar seria naufrágio na certa.
CENA 2 | Gabinete do Prefeito
S rocKMAN (entrando) — Peter, ô rapaz, passei na tua casa, você já 6tinha saído...
PREFEITO — Senta, Tomas.
STOCKMAN — Então leu?
PREFEITO — Li e reli várias vezes. Para ser exato, passei a noite inteira lendo e relendo.
STOCKMAN — É terrível, não? Então. como vamos fazer?
PREFEITO — Você precisava mesmo ter feito todas essas investigações? E nas minhas costas?
STOCKMAN — Não pretendi fazer nada nas tuas costas. Eu precisava ter certeza...
PREFEITO — E conseguiu essa certeza?
STOCKMAN — Infelizmente. Por quê? Você não?
PREFEITO — Você tenciona mandar o relatório à direção do estabelecimento em caráter oficial?
STOCKMAN — Desculpe, não entendo. Você é o diretor do estabelecimento.
PREFEITO — Você emprega termos violentos. Como sempre aliás, em teus relatórios. Aqui por exemplo: “O que ofereceremos aos nossos hóspedes é um jato contínuo de veneno”.
STOCKMAN — Ê verdade. Pessoas podem adoecer e até morrer se não forem tratadas a tempo. Pessoas doentes que vêm a nós em confiança e que nos pagam bom dinheiro para recuperar a saúde!
PREFEITO — E depois, de dedução em dedução, você conclui que precisamos construir um esgoto para as supostas imundícies dos pântanos, além do que, trocar para o outro lado o sistema de canalizações.
STOCKMAN — Você imagina outro meio de resolver o problema? Eu não consegui imaginar...
PREFEITO — Saí cedo de casa e dei um pulo na casa do nosso engenheiro de obras.
STOCKMAN — Ótimo!
'PREFEITO — Inventei um pretexto qualquer e meio a sério, meio brincando, aventei a hipótese de um dia realizar essa mudança que você cita no relatório...
STOCKMAN — Ura dia?
PREFEITO — Ele sorriu, o engenheiro. Senti que tinha dito uma extravagância. Num primeiro orçamento, as obras custariam, pelo menos, 10 milhões de coroas.
STOCKMAN — É tão caro assim?
Prefeito — E O tempo das obras, isso te interessa?
STOCKMAN — Peter...
PREFEITO — Dois anos no mínimo, com o estabelecimento fechado.
STOCKMAN — Mas talvez haja um meio técnico, de abreviar e baratear...
PREFEITO — Dois anos e dez milhões de coroas, se não houver imprevistos.
STOCKMAN — Meu Deus!
PREFEITO — E quando o estabelecimento fosse finalmente reaberto, que doente viria a Molendal? Depois das águas terem sido publicamente consideradas nocivas à saúde?
STOCKMAN — Mas elas são, elas são! É uma crise que juntos teremos de...
PREFEITO — Crise! Você usa cada termo... (Explodindo.) É o fim, a ruína, o desastre! No exato momento cm que nossa cidade começa a prosperar! Porque as cidades vizinhas, meu caro, também podem transformar-se em estações de águas, e não hesitarão em fazê-lo, eu conheço as prefeituras! Lançarão mão imediatamsnte de (odos os recursos para atrair os turistas de Molendal. Esse teu relatório é inadmissível, é um tiro nas costas do nosso povo!!!
STOCKMAN — Peter, você está nervoso, eu compreendo, embora não goste que gritem comigo. Não sou burro, já compreendi que estamos todos numa situação muito difícil. O que não impede das águas estarem poluídas, os exames provam. Eu estou confuso mas sei que não é para brigas. É preciso que nos unamos...
PREFEITO — Teu relatório não me convence. As condições do balneário não podem ser tão precárias.
STOCKMAN — Meu relatório é otimista. A situação é má e tornar-se-á insustentável com o calor do verão!
PREFEITO — Além do que, os encanamentos que estão aí, estão aí, as providências terão de ser tomadas a partir deste fato consumado, para isso existem os médicos.
STOCKMAN — Continua, conclui...
PREFEITO — Isto não quer dizer que a Prefeitura não vá examinar a situação. Vai. imediatamente, porém no tempo devido. Realizando os reparos dentro de uma programação paulatina, sem alarmes.
STOCKMAN — Com a minha ajuda, naturalmente.
1 comment