Mas eu por causa das dúvidas vou admirá-la de longe.

JÚLIA - Já tomou passagem, papai; vai amanhã.

TEIXEIRA (a ERNESTO) - Pois não! Julgas que consinto nessa loucura! Em falta de meu irmão, teu pai, eu faço as suas vezes. Proíbo-te expressamente...

ERNESTO - Meu tio, é impossível, moralmente impossível...

TEIXEIRA - Tá, tá, tá! Não me entendo com os teus palavrões de Academia. Eu cá sou homem do pão, pão, queijo, queijo: disse que não irás e está dito.

JÚLIA - Muito bem, papai. (A ERNESTO) Não tem remédio senão ficar.

D. MARIANA - E não se há de arrepender.

ERNESTO Meu tio, previno-lhe que se me obriga a ficar nesta terra, suicido-me.

JÚLIA - Ah! Ernesto!

D. MARIANA - Que rapaz cabeçudo!

TEIXEIRA - Fumaças! Não façam caso.

ERNESTO - Ou me suicido, ou mato o primeiro maçante que vier importunar-me.

TEIXEIRA - Lá isto é negócio entre ti e a polícia. (Tira o relógio.) Quase três horas! Vamos D. Mariana, Júlia. . . Ande, Sr. recalcitrante, há de jantar hoje conosco.

JÚLIA (a ERNESTO) - Bravo! Estou contente, vou vingar-me.

ERNESTO [Enquanto os outros se dirigem à porta] - Três meses nesta terra! Meus três meses de férias do quinto ano, que eu contava fossem três dias de prazer! Vão ser três séculos de aborrecimento.

JÚLIA (da porta) - Ernesto, venha.

ERNESTO - Lá vou, prima! (Vai sair e encontra CUSTÓDIO que entra.)

CENA XIX

ERNESTO, CUSTÓDIO

CUSTÓDIO (cumprimentando) - Como tem passado? Que há de novo?

ERNESTO (ao ouvido) - Que não estou disposto a aturá-lo. (Sai.)

[CUSTÓDIO fica pasmo no meio da cena; cai o pano.]

ATO SEGUNDO

Uma sala elegante em casa de Teixeira, nas Laranjeiras,

[abrindo sobre um jardim]

CENA PRIMEIRA

JÚLIA, D. MARIANA

(D. MARIANA lê os jornais junto à mesa)

JÚLIA (entrando) - Ernesto ainda não acordou?

D. MARIANA - Creio que não.

JÚLIA - Que preguiçoso! Nem por ser o último dia que tem de passar conosco. Às onze horas deve embarcar. (Olhando a pêndula) Ah! meu Deus já são nove! Vou acordá-lo!... Sim; ele disse-me ontem que era um dos seus maiores prazeres acordar ao som do meu piano, quando eu estudava minha lição.

D. MARIANA - Não tem mau gosto.

JÚLIA - Obrigada!... Mas qual é a música de que ele é mais apaixonado? Ah! a ária da

Sonâmbula! (Abre o piano e toca.)

CENA II

Os mesmos, ERNESTO

ERNESTO [aparecendo à direita] - Sinto não ser poeta, minha prima, para responder dignamente a um tão amável bom dia. Como passou, D. Mariana?

D. MARIANA - Bem; e o Sr.?

JÚLIA [levantando-se] - Ah! já estava acordado! [Apertam as mãos].

ERNESTO - Há muito tempo; aproveitei a manhã para fazer uma porção de despedidas que me faltavam. Não se lembra que hoje é sábado?

JÚLIA [entristecendo] - É verdade; daqui a pouco... ERNESTO - Quis ficar livre para gozar dessas duas últimas horas que devemos passar juntos. Fui a Botafogo, a S. Clemente, e ainda voltei à cidade.

JÚLIA - Tudo esta manhã?

ERNESTO - Sim; admira-se? Oh! no Rio de Janeiro pode-se fazer isto. Com essa infinidade de carros sempre às ordens!..

JÚLIA (sorrindo) - E que atropelam a gente que anda nas ruas.

ERNESTO - Aqueles que andam a pé; mas os que vão dentro, vão depressa e comodamente.

D. MARIANA [erguendo-se] - Estimo muito ouvir isto do Sr. (JÚLIA faz à D.