Vida de artista

HENRY JAMES
Vida de artista — Quatro contos sobre pintores
Tradução CLÁUDIO FIGUEIREDO
JOSÉ OLYMPIO EDITORA
Rio de Janeiro, 2012
Título dos originais em língua inglesa “The story of a masterpiece”, “The Madonna of the future”, “The liar” e “The Beldonald Holbein”: Reservam-se os direitos desta edição à EDITORA JOSÉ OLYMPIO LTDA.
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ISBN 978-85-03-01132-7
Capa: FOLIO DESIGN
Foto de capa: FRATELLI ALINARI/ALINARI (VIA GETTY IMAGES)
Livro revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
James, Henry, 1843-1916 J29v Vida de artista: quatro contos sobre pintores / Henry James; [seleção, introdução e tradução de Cláudio Figueiredo]. — Rio de Janeiro: José Olympio, 2012. 208p.
Tradução dos originais em inglês ISBN 978-85-03-01132-7
1. Conto americano. I. Figueiredo, Cláudio. II. Título.
CDD: 813 12-4709
CDU: 821.111(73)-3
Orelhas
Considerado um dos fundadores do realismo americano e um dos melhores escritores na passagem do século XIX para o XX, Henry James (1843-1916) produziu ao longo de sua carreira vinte romances, mais de cem contos, além de peças teatrais, críticas de arte, relatórios de viagens e uma autobiografia.
Nascido em Nova York e descendente de abastada família irlandesa, desde cedo pôde se dedicar à literatura sem se preocupar com a sobrevivência. Talvez por sua origem, o escritor sempre teve forte ligação com a Europa e lá concluiu boa parte dos estudos. Morou na Itália, na França — convivendo com grandes nomes como Zola, Maupassant, Flaubert e Turgueniev — e na Inglaterra, onde obteve cidadania.
Sua obra pode ser dividida em três fases. Do período conhecido como realismo social, destacam-se Daisy Miller, Retrato de uma senhora e A herdeira, romances de costumes publicados em folhetins muito populares. Na segunda fase, Henry James produziu inúmeros contos e novelas e dedicou-se também à dramaturgia. Por fim, a chegada do século XX marca o que ele mesmo considera suas melhores obras: nesta época escreveu Os embaixadores e o intrigante romance psicológico A volta do parafuso.
Apesar da diversidade experimentada pelo escritor, um tema que permeia sua obra é o artista: as agruras, as aflições no mundo das artes. Quando jovem, com o irmão William James — um dos precursores da psicologia e consagrado pensador —, teve aulas de pintura, frequentava ateliês e visitava grandes museus. Essas primeiras experiências se mantiveram no escritor, que declarou certa vez que sempre alimentara o desejo de traçar "um quadro dramático da vida de artista".
Vida de artista: quatro contos sobre pintores, pequena compilação de histórias escritas em fases distintas ao longo da carreira, num intervalo de 35 anos — a primeira data de 1868 e a última, de 1903 —, retrata bem essa verdade.
Sumário
Introdução
A história de uma obra-prima
A madona do futuro
O mentiroso
O Holbein de Beldonald
CLÁUDIO FIGUEIREDO
No fim da vida, já aos 70 anos, numa de suas últimas obras — um livro de reminiscências intitulado A small boy and others — Henry James transmitiu a seus leitores a descrição de um sonho particularmente vívido, considerado pelo escritor "o mais assustador e, apesar disso, o mais admirável pesadelo da minha vida". Tomando como matéria-prima uma recordação de infância, o sonho o assombrou já no período adulto, para ser, enfim, registrado quando o romancista era um septuagenário — uma experiência, portanto, suficientemente marcante para atravessar uma existência inteira. No pesadelo, depois de ser aterrorizado por um perseguidor, é ele quem passa a seguir no encalço do personagem misterioso, que foge por corredores intermináveis: "Meu visitante já não passava agora de uma mancha diminuta no fim de uma longa perspectiva, o magnífico, glorioso salão, com seu piso brilhante [...] enquanto uma tempestade de trovões e raios podia ser vista através das altas janelas à direita."
Especialmente relevante era o cenário do sonho: "Pois que outro lugar no mundo exibiria janelas profundas e um piso tão lustroso a não ser a Galerie d'Apollon da minha infância?" A galeria, decorada com afrescos retratando temas mitológicos pintados por artistas famosos, era um dos espaços imponentes do Museu do Louvre, visitado por James pela primeira vez aos 12 anos. Muito tempo depois, o escritor evocaria com emoção a visita que levou a criança a se ver em meio àquela profusão de pinturas: "Diante delas, fiquei como que subjugado e perplexo. Era como se tivessem se reunido ali num coro vasto e ensurdecedor."
O que gritavam essas pinturas no ouvido de um escritor que ao longo de tantos anos manteve uma relação especial com o universo das artes visuais? De "The Landscape Painter" (1866), conto do início de sua carreira, até The Outcry (1911), novela de seus últimos anos de vida, passando por romances como Roderick Hudson e The Tragic Muse, o tema da pintura e dos artistas perpassa sua obra ao longo de décadas. Amigo de pintores, o escritor incorporou ao seu arsenal de crítico literário parte da terminologia empregada pelos artistas. Intitulou um de seus romances Retrato de uma senhora, chamava de portraits seus relatos de viagem de determinados lugares e deu a uma coleção de ensaios o título de Partial Portraits. Todos esses indícios, com maior ou menor ênfase, apontam para a afinidade que percebia entre sua função de escritor e o papel do artista, em particular o pintor de retratos, tema dos quatro contos reunidos nesta coletânea.
Considerado o grande nome fundador do realismo americano, Henry James nasceu em Nova York, em 1843, e morreu em Londres, em 1916, um ano depois de se ter naturalizado cidadão britânico. Viveu sua juventude num país, os Estados Unidos, mergulhado na Guerra Civil, e morreu na Inglaterra, quando a Europa se via dilacerada pela Primeira Guerra Mundial. Ao contrário de dois de seus irmãos mais novos, que lutaram na Guerra da Secessão, o escritor não foi diretamente afetado por nenhuma dessas catástrofes, levando uma vida pacata, desprovida de quaisquer acontecimentos dramáticos, ou mesmo dos elementos mais simples que costumam marcar uma vida prosaica, como casamento e filhos.
Sua existência foi animada apenas por intensa atividade social. Cinquenta e três anos de sua vida adulta passaram-se em Londres, onde, depois de cada período de ausência, costumava encontrar sobre a cômoda uma pilha de convites para jantares e recepções. Mais que social, seu interesse aqui era profissional: nessas ocasiões, o escritor assumia a condição de observador atento, que saía em busca de matéria-prima para seus contos, romances e novelas. Apesar de passar a infância em Manhattan, desde criança alternou a vida nos Estados Unidos com viagens cada vez mais frequentes à Europa, onde acabaria por se instalar definitivamente em 1876, em Londres, cidade na qual escreveu a maior parte de sua obra. O confronto entre o Novo e o Velho Mundo, entre uma suposta inocência americana e a experiência e os complexos códigos sociais da Europa, seria um de seus principais temas.
Famoso por seus períodos tortuosos e frases labirínticas, o estilo rebuscado de James reflete a sutileza da análise psicológica a que o escritor submetia de forma implacável seus personagens, procurando examinar à exaustão seus sentimentos e opiniões, assim como seus motivos, fossem manifestos ou dissimulados. Autor altamente intelectualizado, Henry James distinguiu-se também pelo empenho em refletir e discutir todos os aspectos de seu ofício de escritor.
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