E então, de algum modo, imaginei que você também fosse um artista! 

— Não sou um artista, lamento dizer, no sentido que você dá à palavra. Mas não há por que se desculpar. Também me encontro sob a ação do mesmo encanto, e suas observações eloquentes apenas aprofundaram seu efeito. 

— Se não é um artista, poderia muito bem ser um! — continuou, com um sorriso expressivo. — Um jovem que chega a Florença tarde da noite e, em vez de prosaicamente recolher-se a sua cama, ou se debruçar sobre seu guia turístico no hotel, sai caminhando sem perda de tempo para render homenagem ao belo, é um jovem com um espírito semelhante ao meu! 

O mistério subitamente foi esclarecido; meu amigo era americano! Só podia ser, para se deixar empolgar de tal forma pelo pitoresco. 

— Mais ainda, acredito — respondi —, quando se trata de um sórdido nova-iorquino. 

— Nova-iorquinos têm sido generosos patronos da arte! — respondeu, com cortesia. 

Por um momento fiquei preocupado. Seria esse devaneio noturno um mero empreendimento ianque e ele simplesmente um artista desesperado, ali instalado para extrair a "contribuição" de um turista caminhando ao acaso? 

Mas não foi necessário que me defendesse. Uma grandiosa nota ressoou repentinamente vinda do sino de bronze no alto do campanário, dando a primeira batida da meia-noite. Meu interlocutor estremeceu, desculpou-se por me importunar, e preparou-se para se retirar. Mas ele parecia representar de tal modo uma promessa de diversão que não me senti inclinado a me separar dele, e sugeri que caminhássemos de volta juntos. Ele concordou, de forma cordial. Desse modo, deixamos a piazza e passamos sob as arcadas cheias de estátuas da Galeria Uffizi, e fomos dar nas margens do Arno. 

Qual caminho tomamos mal consigo me lembrar, mas vagamos lentamente por uma hora, enquanto meu acompanhante me oferecia aos poucos, à luz da lua, trechos de uma palestra sobre estética. Ouvi tomado por um fascínio e com certa perplexidade, e me pus a imaginar quem diabos seria ele. Com um aceno de cabeça a um só tempo melancólico e respeitoso, confessou sua origem americana. 

— Somos os deserdados pela arte! — gritou. — Estamos condenados a ser superficiais! Estamos excluídos do círculo mágico. O solo da sensibilidade americana é uma camada estéril de sedimentos artificiais. Sim! Estamos fadados à imperfeição. Para se sobressair, um americano precisa aprender dez vezes mais do que um europeu. Falta-nos a capacidade de sentir mais profundamente. Não temos nem gosto, nem tato, nem força. E como haveríamos de ter? Nosso ambiente grosseiro e vulgar, nosso passado silencioso, nosso presente ensurdecedor, a pressão constante dessas circunstâncias desagradáveis estão tão desprovidos de tudo que alimenta e anima e inspira o artista quanto meu coração está desprovido de amargura ao afirmar isso! Nós, pobres aspirantes, somos forçados a viver no exílio perpétuo. 

— Você parece se sentir em casa no exílio — respondi — e Florença parece uma Sibéria muito bonita. Mas sabe o que eu mesmo penso? Nada é mais inútil do que falar da falta de nutrientes do nosso solo, de oportunidades, de inspiração e tudo mais. O que importa é fazer algo de valor! Não há nenhuma lei na nossa gloriosa constituição contra isso. Invente, crie, realize! Pouco importa se precisa estudar cinquenta vezes mais do que um deles! Para que, afinal, servem os artistas? Seja você mesmo um Moisés — acrescentei, rindo, e, pondo minha mão em seu ombro — e nos mostre o caminho para deixar a servidão! 

— Palavras de ouro... palavras de ouro, meu jovem! — gritou, sorrindo com brandura. — "Invente, crie, realize!" Sim, esse é o nosso ofício, eu sei bem disso. Não me tome, que Deus me perdoe, por um desses resmungões estéreis, cínicos impotentes que não dispõem nem de talento nem de fé! Eu trabalho! — E olhou ao redor, abaixando a voz, como se tratasse de algum tipo peculiar de segredo. — Trabalho dia e noite. Estou às voltas com uma criação! Não sou nenhum Moisés, apenas um pobre artista paciente, mas seria maravilhoso se pudesse fazer brotar para correr em nosso solo seco um pequeno córrego de beleza! Não me tome por um monstro de presunção — continuou, ao me ver sorrir diante da avidez com que se apropriou da minha imagem. — Confesso que estou num desses estados de espírito em que coisas grandiosas parecem possíveis! Essa é uma das minhas noites em que me deixo levar pelos nervos e eu sonho acordado! Quando o vento sul sopra sobre Florença à meia-noite, parece atrair a alma de todas as belas coisas trancadas em igrejas e galerias; elas entram no meu pequeno estúdio com a luz da lua, fazem meu coração bater mais forte, forte demais para que eu consiga descansar. Você vê que estou sempre acrescentando um pensamento à minha concepção! Nesta noite, senti que não podia dormir sem antes comungar com o espírito do Buonarotti! 

Parecia profundamente versado na história e na tradição locais e estendeu-se con amore sobre os encantos de Florença. Disso concluí que era um antigo residente, e que acolhera no seu coração aquela cidade adorável. 

— Devo tudo a ela — declarou.