Se eu tivesse alguma dúvida sobre se vale ou não a pena repetir o caso, bastaria me lembrar de como aquela mulher encantadora, a esposa de nosso anfitrião, que havia deixado a mesa, aventurou-se a voltar, murmurando meio ruborizada uma acusação contra nossa falta de cavalheirismo e, ao nos encontrar dispostos em círculo, prontos para escutar, ela afundou em sua poltrona, a despeito de nossos charutos, e ouviu a história de tão boa vontade que, quando o relato chegou à catástrofe, seu olhar cruzou com o meu, mostrando uma lágrima em cada um de seus belíssimos olhos.
— Diz respeito a minha juventude e à Itália: duas coisas maravilhosas! — começou H. — Tinha chegado tarde da noite em Florença e, enquanto terminava minha garrafa de vinho no jantar, imaginei que, por mais que fosse um viajante experiente, deveria prestar à cidade um tributo melhor do que ir, da forma mais banal, para a cama. Uma passagem estreita enveredava pelas sombras, partindo da pequena praça diante do meu hotel, e parecia abrir caminho até o coração de Florença. Eu a percorri e, ao cabo de dez minutos, emergi numa grande piazza, repleta apenas do suave luar do outono. Em frente, erguia-se o Palazzo Vecchio, como uma enorme fortaleza urbana, com o grande campanário destacando-se de sua extremidade fortificada, como um pinheiro do cume de um penhasco. Em sua base, na sombra por ele projetada, reluziam certas esculturas indistintas, das quais me aproximei, admirado. Uma das imagens, à esquerda das portas do palácio, era um magnífico colosso, brilhando em meio à penumbra da noite como uma sentinela após ouvir um alarme. No mesmo instante, reconheci o Davi, de Michelangelo. Com certo alívio, desviei minha atenção de sua energia sinistra para uma figura esguia de bronze, instalada sob a arcada aberta e delicada, que contrapõe a elegante e livre extensão de seus arcos à alvenaria pesada do palácio; uma figura supremamente bem proporcionada e graciosa; quase dócil, apesar de segurar com o braço um pouco nervoso a cabeça cheia de serpentes da górgona trucidada. Seu nome é Perseu, e vocês podem ler sua história, não na mitologia grega, mas nas memórias de Bevenuto Cellini. Olhando ora para uma, ora para outra dessas belas figuras, provavelmente murmurei algum inevitável lugar-comum elogioso, pois, como se provocado pela minha voz, um homem levantou-se dos degraus da loggia, onde estivera sentado nas sombras, e se dirigiu a mim num inglês fluente: um personagem pequeno e esguio, vestindo uma espécie de túnica de veludo preto (ao que me pareceu), e com um punhado de cabelos castanho-avermelhados, que brilhavam ao luar, saindo por baixo de uma birreta medieval. Num tom de insinuante cortesia, perguntou sobre as minhas "impressões". Sua aparência tinha algo de pitoresco, fantástico, ligeiramente irreal. Pairando ali, naquelas imediações célebres, poderia ter passado por um gênio da hospitalidade estética, se o gênio da hospitalidade estética pudesse ser um zelador maltrapilho, fazendo brotar do bolso um lenço branco grosseiro. Essa analogia, contudo, tornou-se ainda mais completa com a fala brilhante com que saudou meu silêncio constrangido.
— Conheço Florença há muito tempo, senhor, mas nunca a vi tão adorável como esta noite. É como se os fantasmas do seu passado estivessem soltos pelas ruas desertas. O presente está dormindo; o passado paira sobre nós como um sonho tornado visível. Imagine os antigos florentinos passeando aos pares para oferecer suas opiniões sobre a mais recente performance de Michelangelo, de Bevenuto! Poderíamos desfrutar de uma lição preciosa se pudéssemos entreouvir o que dizem. O mais simplório burguês entre eles, metido em seu gorro e sua camisola, tinha gosto pelo assunto! Esse foi o ápice da arte, senhor. O sol brilhava alto no céu, e sua luz intensa, ampla e uniforme iluminava os cantos mais sombrios e tornava claros os olhos mais obtusos. Vivemos no entardecer dos tempos! Andamos tateando na penumbra cinzenta, segurando cada um sua pobre e mesquinha vela de sabedoria egoísta e dolorosa diante dos grandes modelos e da ideia obscura, e não conseguindo enxergar nada a não ser uma grandeza e escuridão esmagadoras. A era das luzes ficou para trás! Mas sabe que fico imaginando... imaginando... — E de repente tornou-se quase familiar ao ser tomado por esse fervor visionário. — Imagino a luz daquele tempo caindo sobre nós por uma hora! Nunca vi o Davi tão imponente, e Perseu tão belo! Mesmo as obras de qualidade inferior de Gianbologna e de Baccio Bandinelli parecem realizar o sonho do artista. Tenho a sensação de que o ar banhado pela luz da lua está carregado com os segredos dos mestres; é como se, parados aqui numa atitude de atenção religiosa, pudéssemos... pudéssemos presenciar uma revelação!
Percebendo nesse momento — suponho — minha compreensão hesitante expressa na perplexidade estampada em meu rosto, esse curioso declamador calou-se, ruborizado. Então, com um sorriso melancólico, disse:
— Suponho que deva estar me tomando por um charlatão excitado pela ação do luar. Não costumo ficar rondando a piazza, saltando sobre turistas inocentes. Mas esta noite, confesso, pareço estar sob algum encanto.
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