Tens irmãos e primos por cem léguas em redor. Vê que maldição havia de cair sobre a tua formosura.
YERMA — Uma maldição. Um charco de veneno sobre as espigas.
VELHA — Mas tu tens pés para abandonares a casa.
YERMA — Abandoná-la?
VELHA — Quando te vi na romaria, o coração deu-me um baque. Aqui vêm as mulheres conhecer homens novos. E o Santo faz o milagre. Meu filho está sentado atrás da ermida, esperando-me. A minha casa precisa de uma mulher. Vai ter com ele, e viveremos os três juntos. Meu filho, sim, é de bom sangue. Como eu. Se entras em minha casa, verás que ainda cheira a berços. A cinza da tua colcha se mudará em pão e sal para as crias. Anda. Não te importes com o povo. E quanto a teu marido, há na minha casa entranhas e ferramentas para que não chegue nem a atravessar a rua.
YERMA — Cala-te, cala-te, que não é isso! Nunca o faria. Eu não posso ir buscar. Achas que posso conhecer outro homem? Onde pões a minha honra? A água não pode correr para trás, nem a lua cheia sai ao meio-dia. Vai-te embora. Seguirei meu caminho. Pensaste a sério que eu me poderia dobrar a outro homem? Que eu fosse pedir-lhe o que é meu, como uma escrava? Conhece-me, para que nunca mais me fales: eu não busco.
VELHA — Quando se tem sede, agradece-se a água.
YERMA — Eu sou como um campo seco onde cabem, arando, mil juntas de bois. E o que tu me dás é um pequeno copo de água de poço. A minha é uma dor que já não cabe na carne.
VELHA — (Forte) — Pois continua assim. É do teu gosto. Como os cardos das terras secas, espinhosa, murcha.
YERMA — (Forte) — Murcha, sim, já sei. Murcha! Não é preciso que me esfregues isso na boca. Não venhas divertir-te como as crianças pequenas com a agonia de um animalzinho. Desde que me casei, estou dando voltas a essa palavra, mas é a primeira vez que a ouço, a primeira vez que me atiram com ela na cara. A primeira vez que vejo que é verdade.
VELHA — Não me dás pena nenhuma. Nenhuma. Buscarei outra mulher para meu filho.
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