Sou velha e sei o que digo.

YERMA — Então, que Deus me ampare!

1ª VELHA — Deus, não. A mim nunca me agradou Deus. Quando chegarás a entender que não existe? Os homens é que te devem amparar.

YERMA — Mas, por que me dizes isso? Por quê?

1ª VELHA — (Retirando-se) — Mas devia haver Deus, nem que fosse pequenino, para desfechar raios contra os homens de semente podre que encharcam a alegria dos campos.

YERMA — Não sei o que me queres dizer.

1ª VELHA — Bem, eu cá me entendo. Não te entristeças. Espera firme. Ainda és muito moça. Que queres que eu faça? (Retira-se. Aparecem duas raparigas)

1ª RAPARIGA — Por toda parte vamos encontrando gente.

YERMA — Com as fainas, os homens andam pelos olivais. É preciso levar-lhes de comer. Não ficam em casa senão os velhos.

2ª RAPARIGA — Vais voltar para a aldeia?

YERMA — Para lá vou.

1ª RAPARIGA — Tenho muita pressa. Deixei o menino dormindo e não está ninguém em casa.

YERMA — Pois avia-te, mulher. Os meninos não podem ficar sozinhos. Há porcos, em tua casa?

1ª RAPARIGA — Não. Mas tens razão. Vou depressa.

YERMA — Anda. É assim que acontecem as coisas. Com certeza o deixaste fechado?

1ª RAPARIGA — Claro.

YERMA — Sim, mas é que não percebes o que é uma criança pequena. A coisa que nos parece mais inofensiva pode dar cabo dela. Uma agulhinha, um gole de água.

1ª RAPARIGA — Tens razão. Vou correndo. É que não entendo bem dessas coisas.

YERMA — Anda.

2ª RAPARIGA — Se tivesses quatro ou cinco, não falarias assim.

YERMA — Por quê? Mesmo que tivesse quarenta.

2ª RAPARIGA — Seja como for, tu e eu, sem eles, vivemos mais tranquilas.

YERMA — Eu, não.

2ª RAPARIGA — Eu, sim. Que canseira! E minha mãe não faz outra coisa senão dar-me mezinhas para que os tenha; e em outubro iremos ao Santo que dizem que os dá a quem os pede com fervor. Minha mãe pedirá. Eu, não.

YERMA — Por que te casaste?

2ª RAPARIGA — Porque me casaram. Todas nos casamos. A continuar assim, não sobram solteiras senão as meninas. Bem, e além disso... Na verdade a gente se casa muito antes de ir à igreja. Mas as velhas se empenham em todas essas coisas. Eu tenho dezenove anos e não gosto de cozinhar nem de lavar.