Tenho ouvido minha irmã dizer isso umas quarenta vezes, quando ela foi extravagante ao comprar mais do que ela queria, ou descuidada em retalhá-la”.
“Bath é um lugar encantador, senhor. Há tantas lojas boas aqui. Infelizmente, estamos afastadas no campo. Não que não haja boas lojas em Salisbury, mas ficam muito longe. Quase 13 quilômetros é muito caminho. O senhor Allen diz que são quase 15 quilômetros, porém estou certa de que não pode ser mais que treze. Mas é um castigo. Volto extremamente cansada. Agora, aqui, pode-se sair de casa e comprar algo em cinco minutos”.
O senhor Tilney foi educado o suficiente para parecer interessado no que ela disse, e ela o manteve no assunto de seda até que as danças recomeçaram. Catherine temeu, enquanto ouvia a conversa, que ele fosse por demais indulgente consigo mesmo, quanto aos pontos fracos dos outros. “O que você está pensando tão seriamente?”, disse ele, enquanto voltavam para o salão de baile; “não de seu parceiro, espero, pois, pelo balançar de sua cabeça, suas meditações não são satisfatórias”.
Catherine se ruborizou e disse, “Eu não pensava em nada”.
“Isso é astucioso e profundo, estou certo; mas preferia que dissesse que não iria me contar”.
“Está bem, não contarei”.
“Obrigado; pois agora seremos amigos em breve, já que estou autorizado a lhe provocar com este assunto sempre que nos encontrarmos, e nada no mundo apressa tanto a intimidade”.
Dançaram e, quando o grupo fechou, separaram-se. No entanto, do lado da dama, pelo menos, houve uma forte inclinação para continuar a amizade. Se ela pensava nele enquanto bebia seu vinho com água, ou enquanto se preparava para dormir, a ponto de sonhar com ele, isso não se podia garantir. Mas espero que não mais do que em um sono leve, ou em um cochilo matinal, no máximo. Pois, se for verdade, como um celebrado escritor tem afirmado, que nenhuma jovem dama pode se apaixonar antes que o amor do cavalheiro seja declarado[2]*, deve ser muito impróprio que uma jovem dama venha a sonhar com um cavalheiro antes que se saiba se o cavalheiro sonhou com ela primeiro. Como o senhor Tilney – seja um sonhador, seja um enamorado – não foi apresentado ao senhor Allen, este se convenceu, ao perguntar sobre o jovem rapaz, de que ele era uma amizade comum para o jovem encargo dele. Então, logo no início da noite, o senhor Allen quis saber quem era o parceiro de Catherine, e lhe foi assegurado que o senhor Tilney era um clérigo e de uma respeitável família em Gloucestershire.
CAPÍTULO 4
Com mais do que a ansiedade habitual, Catherine se apressou à casa de bombas no dia seguinte, certa de que veria o senhor Tilney lá, antes da manhã terminar, e pronta para encontrá-lo com um sorriso. Mas nenhum sorriso foi necessário, pois o senhor Tilney não apareceu. Todas as criaturas em Bath, menos ele, foram vistas no salão em diferentes períodos. Multidões de pessoas entravam e saíam a cada momento, subindo e descendo as escadas. Pessoas com quem ninguém se importava e que ninguém queria ver, e apenas ele estava ausente. “Que lugar delicioso é Bath”, disse a Senhora Allen, enquanto se sentavam próximo ao grande relógio, depois de desfilarem pelo salão até se cansarem; “e como seria agradável se conhecêssemos alguém aqui”.
Este sentimento fora expresso tão frequentemente em vão, que a senhora Allen não tinha nenhuma razão em particular que fosse seguida com proveito, agora. Mas dizem-nos para “não nos desesperarmos por nada, pois poderemos obter”, já que “a incansável diligência nos faz ganhar o que queremos”. E a incansável diligência com que ela desejara todos os dias estava, por fim, a recompensá-la, pois passaram-se no máximo dez minutos, desde que se sentara e uma dama, com quase a mesma idade, sentara-se ao seu lado e a olhara com atenção por muitos minutos, até que se dirigiu a ela com grande gentileza nestas palavras: “Acho, madame, que não posso estar enganada. Já há um bom tempo tive o prazer de vê-la, mas não seria seu nome Allen?” Prontamente respondida esta questão, a estranha se declarou como sendo uma Thorpe. Imediatamente a senhora Allen reconheceu os traços de uma antiga companheira de escola, e amiga íntima, a quem ela viu apenas uma vez desde os respectivos casamentos, há muitos anos. A alegria delas com este encontro foi muito grande, como poderia se imaginar, já que nada souberam uma da outra pelos últimos quinze anos. Seguiram-se os elogios pelas boas aparências. Depois de observar quanto tempo passou desde que estiveram juntas pela última vez, e o quão pouco pensaram em se encontrar em Bath, e o prazer que era rever uma velha amiga; perguntaram e responderam sobre suas famílias, irmãs e primas, falando ao mesmo tempo, muito mais dispostas a dar do que receber informações, e cada uma ouvindo muito pouco do que a outra dizia. A senhora Thorpe, porém, tinha uma grande vantagem ao falar de sua família e dos filhos do que a senhora Allen.
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