As ruas se tornaram mais coloridas, mais vivas, quer dizer, adquiriram um aspecto bem diferente. As casinhas baixas veem passar com frequência um garboso e esbelto oficial com um penacho na cabeça, caminhando em direção a um camarada qualquer para conversar sobre a promoção na carreira, sobre o melhor tabaco, ou às vezes apenas para apostar no jogo, às escondidas do general, uma drojki, que se poderia chamar “a drojki do regimento”, pois, sem sair do regimento, passava o tempo todo de mão em mão: hoje um major vai passear nela, amanhã ela vai aparecer na estrebaria do tenente, uma semana depois, lá está ela nas mãos do ordenança do major, que de novo a besunta com sebo. A cerca de madeira entre as casas despontava toda coberta com bonés de soldados, pendurados sob o sol; em algum lugar nos portões nunca deixava de pender também um capote cinza e nas ruelas sempre se tropeçava com soldados munidos de bigodes tão rijos, que mais pareciam escovas de limpar sapatos.
Tais bigodes podiam ser vistos por toda parte. Era só algumas mercadoras com baldes se reunirem no mercado, e os bigodes logo surgiam atrás de seus ombros. Os oficiais deram vida à sociedade, que até então consistia apenas no juiz, que vivia em uma casa com certa diaconisa, e no prefeito, homem sensato, mas que dormia categoricamente o dia inteiro: do almoço até a noite e da noite até o almoço. A sociedade se tornou ainda mais populosa e mais divertida quando o general da brigada transferiu para lá o seu quartel-general. Os proprietários de terra dos arredores, de que ninguém até então poderia supor a existência, se tornaram mais frequentes naquela cidadezinha provinciana, com o fim de se encontrar com os senhores oficiais e, quem sabe, jogar a banca, jogo com o qual apenas haviam sonhado vagamente, assoberbados que estavam com semeaduras, coelhos e as incumbências de suas mulheres.
É uma pena que não me recorde exatamente por qual motivo aconteceu de o general da brigada oferecer um grande almoço. Os preparativos foram imensos: o barulho das facas dos cozinheiros na cozinha do general podia ser ouvido até próximo das fronteiras da cidade. O mercado todo foi reservado para o almoço, de modo que o juiz e sua diaconisa tiveram que comer tão somente uma panqueca de farinha de trigo e creme de fécula. O pequeno pátio da casa do general estava repleto de carruagens e drojkis. Os convidados se compunham apenas de homens: oficiais e alguns proprietários de terras dos arredores. Entre os proprietários de terra, o mais digno de nota era Pifagór Pifagóritch Tchertokútski, um dos mais importantes aristocratas do distrito de B..., que fizera mais barulho do que todos os outros nas eleições e costumava chegar ali em uma elegante carruagem. Havia servido em um dos regimentos de cavalaria, tendo sido um dos mais destacados e notáveis oficiais. Pelo menos, por onde passava o seu regimento, ele podia ser visto em todos os bailes e assembleias. A propósito, pode-se muito bem perguntar sobre isto às donzelas das províncias de Tambov e Simbirski. É bem provável que ele houvesse granjeado boa reputação também nas demais províncias, se não tivesse se demitido por causa de um acontecimento a que geralmente se referem como uma “história desagradável”: não me lembro bem se foi ele que deu um tabefe em alguém ou se foi ele que levou o tabefe, mas o fato é que pediram para ele se retirar. Apesar disso, ele não perdera nada-nada de sua dignidade: usava um fraque de cintura alta, à moda dos uniformes militares, botas com esporas e bigodes embaixo do nariz, de maneira que os nobres não pensassem que ele servira na infantaria a qual desprezara e que com desdém às vezes chamava de regimento de infantagem ou de regimento de infantice. Ele frequentava as feiras mais concorridas, para onde toda a província russa acorria com suas mãezinhas, filhos, filhas e os seus gorduchos proprietários de terra, que lá chegavam para se divertir nas britchkas, charretes, caleches e umas carruagens que não se podem ver nem mesmo em sonhos. Ele tinha bom faro para saber onde encontrar um regimento de cavalaria e para lá se dirigir com o intuito de conhecer os senhores oficiais. Muito ágil, saltava de sua leve carruagem ou de uma drojki e de modo extraordinário logo travava conhecimento com eles. Por ocasião das últimas eleições, ofereceu um grande banquete à nobreza, no qual anunciou que, se o elegessem dirigente, ganhariam as melhores posições. De modo geral, conduzia-se “à la grão-senhor”, como se diz nas províncias e distritos. Casara-se com uma jovenzinha bastante bonita, que lhe trouxera um dote de duzentas almas e alguns milhares de rublos de capital. O capital foi imediatamente empregado para a aquisição de seis cavalos realmente soberbos, fechaduras douradas para as portas, um macaco domesticado e um mordomo francês. As duzentas almas e mais umas duzentas de sua propriedade foram penhoradas para certos investimentos comerciais. Em uma palavra, era um proprietário de terras como se deve... um verdadeiro proprietário de terras.
Além dele, estiveram também presentes no almoço na casa do general outros proprietários de terra, mas deles não há nada que dizer. Os demais eram todos militares daquele mesmo regimento e dois oficiais do estado-maior: um coronel e um major bem gordo. O general era gordão e corpulento, mas um bom chefe, segundo os oficiais. Ele falava com voz muito expressiva de um baixo profundo.
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