O almoço foi extraordinário: esturjão, beluga, esturjão seco, abetarda, aspargos, codornas, perdizes e cogumelos demonstravam que o cozinheiro desde a véspera ainda não tivera tempo de colocar nada na boca. Além disso, quatro soldados, facas em mãos, ajudavam a noite inteira na preparação de fricassês e geleias. Garrafas de montão: as compridas com Lafite, as mais bojudas com Madeira. Era um magnífico dia de verão, todas as janelas abertas, pratos com gelo nas mesas, o peitilho amarrotado por debaixo do fraque bem feito, a conversa cruzada dominada pela voz do general e regada a champanhe — enfim, tudo às mil maravilhas. Depois do almoço, todos se levantaram com um agradável peso no estômago, acenderam cachimbos de tubos longos, outros curtos e saíram para o terraço com uma xícara de café nas mãos.

— Bem, é chegado o momento de vê-la — disse o general. — Por favor, meu caro — ordenou, dirigindo-se ao seu ajudante, um jovem bem esperto e de boa aparência. — Peça que tragam aqui a égua baia! Os senhores verão com os próprios olhos. — Então o general sorveu o cachimbo e soltou a fumaça. — Ela ainda não está bem cuidada: nesta maldita cidade não há uma estrebaria que preste. É um cavalo, puf, puf, muito bom mesmo!

— E já faz tempo, Excelência, puf, puf, que o senhor a tem? — disse Tchertokútski.

Puf, puf, puf, bem... puf, não muito tempo. Eu a trouxe há uns dois anos.

— E foi Vossa Excelência que a adestrou aqui, ou ela já veio adestrada?

Puf, puf, pu, pu, pu... u... u... f aqui. — Ao dizer isto o general desapareceu em meio à fumaça.

Enquanto isso, um soldado saltou da estrebaria, ouviu-se o ruído de cascos e apareceu um outro soldado vestido de casacão branco, com enormes bigodes pretos, conduzindo pelas rédeas um cavalo trêmulo e assustado, que, de súbito, ergueu a cabeça e por pouco não arremessou aos ares o soldado junto com seus bigodes.

— Eia! Eia! Agrafiena Ivánovna! — disse ele, conduzindo o cavalo sob o terraço.

A égua se chamava Agrafiena Ivánovna: robusta e arisca como uma beldade do sul. Ela bateu com força os cascos no terraço de madeira e de repente parou.

O general colocou de lado o cachimbo e passou a observar Agrafiena Ivánovna com ar satisfeito. O coronel em pessoa desceu do terraço e a conduziu pelo focinho. O major deu então umas palmadas nas pernas de Agrafiena Ivánovna e os demais estalaram a língua.

Tchertokútski desceu do terraço e se aproximou dela por detrás. O soldado, sem deixar de manter as rédeas bem seguras, encarou os visitantes como se quisesse enfrentá-los.

— Excelente, excelente mesmo! — disse Tchertokútski —, é um belo cavalo! Permite-me, Excelência, ver como ela anda?

— Ela tem um passo muito bom, mas agora só o diabo sabe que pílulas aquele idiota do doutor lhe deu, pois já faz dois dias que ela não para de espirrar.

— Muito bom, cavalo muito bom! Certamente Vossa Excelência possui uma carruagem à altura.

— Uma carruagem?... Mas trata-se de um cavalo de montar!

— Eu sei disso, mas perguntei apenas para saber se Vossa Excelência possui carruagens adequadas para os outros cavalos.

— Bem, não tenho mesmo carruagens suficientes. Para ser franco, há muito tempo gostaria de ter uma carruagem como as atuais. Escrevi a propósito ao meu irmão, que agora está em Petersburgo, mas na verdade não sei se ele vai me enviar ou não.

— Para mim, Excelência — observou o coronel —, não existem melhores carruagens do que as de Viena.

— O senhor tem razão, puf, puf, puf.

— Tenho, Excelência, uma carruagem magnífica de genuína fabricação vienense.

— Qual? Aquela com a qual chegou?

— Ah, não! Esta é própria apenas para minhas viagenzinhas, mas a outra... é um espetáculo, leve como uma pena, e quando a gente se senta nela, então, Excelência, se me permite, é como se uma aia o embalasse em um berço!

— Então é bem confortável?

— Muito, muito confortável; as almofadas, as molas... tudo parece uma pintura.

— Que beleza!

— E as acomodações, então? Eu nunca vi coisa igual, Excelência. Quando eu ainda estava em serviço, cabiam no seu maleiro dez garrafas de rum e umas vinte libras de tabaco, sem contar, Excelência, que ainda levava comigo uns seis uniformes, roupa-branca, dois cachimbos dos mais compridos, e nos bolsos ainda dava para colocar um boi inteiro.

— Que beleza!

— Paguei por ela quatro mil rublos, Excelência.

— A julgar pelo preço, deve ser boa mesmo. E foi o senhor mesmo que a comprou?

— Não, Excelência, a consegui, assim, de ocasião. Meu amigo a comprou, pessoa muito rara, amigo meu de infância, com o qual o senhor se daria muito bem. O que era de um era do outro, tanto fazia. Ganhei-a dele no jogo de cartas.