Se Vossa Excelência me der a honra de vir almoçar comigo amanhã, então poderá vê-la também.

— Não sei bem o que lhe dizer. Eu assim sozinho, não sei bem... A não ser que o senhor me permita ir acompanhado por dois oficiais.

— Claro, por favor, os senhores oficiais também. Senhores, será para mim uma grande honra ter o prazer de recebê-los em minha casa!

O coronel, o major e os demais oficiais agradeceram com cortesia e fizeram uma reverência.

— Eu mesmo, Excelência, também penso que, quando compramos alguma coisa, tem que ser boa, caso contrário, é melhor não comprar nada. Amanhã, em minha casa, por exemplo, quando me derem a honra de me visitar, lhes mostrarei algumas aquisições minhas de uso doméstico.

O general observou-o e deixou a fumaça escapar da boca.

Tchertokútski ficou muito satisfeito de ter convidado os senhores oficiais, e mentalmente começou desde logo a encomendar os patês e molhos, olhando alegremente para os senhores oficiais, que, de sua parte, também pareciam agora redobrar a simpatia para com ele, o que podia ser notado pelos seus olhos e pelos pequenos movimentos do corpo na forma de ligeiras saudações.

Tchertokútski passou a se conduzir de modo mais desenvolto, a voz tornou-se então mais relaxada, com uma entonação plena de contentamento.

— Vossa Excelência conhecerá também a dona da casa.

— Com muito prazer — disse o general, acariciando o bigode.

Depois disso, Tchertokútski quis voltar para casa imediatamente a fim de preparar com antecedência a recepção para o almoço do dia seguinte. Ele já segurava o chapéu, mas ocorreu qualquer coisa estranha, e ele se demorou ainda mais alguns instantes. Enquanto isso, as mesas de jogo já estavam postas e logo todos se dividiram em grupos de quatro para jogar whist, instalando-se em diferentes cantos da casa do general.

Trouxeram as velas. Tchertokútski hesitou um bom tempo se ficaria ou não para o whist. Mas como os senhores oficiais insistiam, pareceu-lhe que recusar o convite estaria muito em desacordo com as regras da vida em sociedade. Sentou-se. E logo viu diante dele um copo de ponche e, sem se dar conta, sorveu-o de um só gole. Após duas rodadas, Tchertokútski viu-se novamente com um copo de ponche na mão, que de novo bebeu sem se dar conta, depois de dizer:

— Senhores, é tempo de eu ir para casa, é mesmo tempo. — Mas de novo sentou-se para mais uma partida. Enquanto isso, nos diferentes cantos da casa a conversa tomava rumos completamente distintos. Aqueles que jogavam whist ficavam bem calados, mas os que não jogavam e que estavam sentados ao lado nos sofás, mantinham uma boa conversa. Ali, um capitão de cavalaria, apoiado em uma almofada, com um cachimbo entre os dentes, contava com eloquência e muito à vontade suas aventuras amorosas e retinha a atenção do grupinho ao seu redor. Um proprietário de terras extraordinariamente gordo, cujos braços curtos mais pareciam duas batatas degeneradas, escutava-o com uma expressão adocicada e às vezes se esforçava para passar sua mão curtinha pelas amplas costas para puxar a tabaqueira. Acolá, entabulou-se uma polêmica bem calorosa a propósito do treinamento do batalhão, e Tchertokútski, que a essa altura por duas vezes já tinha jogado fora um valete ao invés de uma dama, de repente se meteu em uma conversa alheia e gritou do seu canto:

— Em que ano isso? — ou — Em qual regimento? — sem se dar conta de que a pergunta não tinha nada a ver com o assunto.

Finalmente, alguns minutos antes do jantar, o whist terminou, mas prosseguiu ainda na conversação. Parecia que a cabeça de todos estava povoada de whist. Tchertokútski lembrava-se muito bem de haver ganhado bastante no jogo, no entanto, não tinha nada nas mãos e, ao se levantar da mesa, permaneceu de pé por muito tempo, como alguém que não encontra o lenço no bolso. Enquanto isso, o jantar foi servido. É evidente que vinho não faltava e que Tchertokútski, que tinha sempre uma garrafa à sua direita ou à sua esquerda, se via forçado de quando em quando a encher o seu copo.

A conversa à mesa ainda se prolongou bastante, e aliás, de forma um tanto estranha. Um proprietário de terras que participara da campanha de 1812 falou de uma batalha jamais ocorrida e depois, não se sabe bem por que motivo, pegou a rolha de uma garrafa e enfiou no bolo. Enfim, quando começaram a se retirar já eram lá pelas três horas, e os cocheiros tiveram que carregar alguns deles nos braços como se fossem embrulhos com compras. Tchertokútski, apesar de todo o seu ar aristocrático, ao se sentar na carruagem, saudava a todos com tamanha mesura, inclinando tanto a cabeça, que ao chegar em casa trazia duas bardanas nos bigodes.

Em casa todos dormiam profundamente. Custou muito ao cocheiro encontrar o camareiro, que conduziu o seu senhor pela sala de estar, entregou-o à criada de quarto, com a qual Tchertokútski alcançou cambaleante o quarto de dormir e se aninhou ao lado da jovem e bela esposa, que estava deitada de forma encantadora em seu traje de dormir, branco como a neve. Ela despertou com o movimento produzido pela queda do marido na cama. Estirou-se, ergueu as pálpebras e, depois de semicerrar rapidamente os olhos três vezes seguidas, abriu-os com um sorriso algo amuado, mas ao se certificar de que desta vez ele não lhe dispensaria a menor carícia, virou-se para o outro lado com certo desgosto e, apoiando a bochecha fresca na mão, pegou no sono.

A manhã já ia bem adiantada, o que para o campo não é nada cedo, quando a jovem acordou ao lado do marido, que roncava. Ao se lembrar que ele voltara para casa às quatro horas da manhã, teve pena de despertá-lo. Calçou então as pantufas que o marido mandara vir de Petersburgo e, vestida em uma camisola branca cujas pregas ondulavam ao longo de seu corpo como cascata, entrou em seu toucador, lavou-se com água tão fresca quanto sua tez e se aproximou do espelho.