Contei-lhe sobre o meu problema com as mulheres. Uma só não me bastava, nem mesmo muitas. Queria-as todas! Pelas ruas, minha agitação era enorme: à medida que passavam, as mulheres eram minhas. Olhava-as com insolência pela necessidade de sentir-me brutal. No pensamento despia-as todas, deixando-as apenas de sapatos, tomava-as nos braços e só as soltava quando tinha certeza de conhecê-las bem. Sinceridade e fôlego desperdiçados! O doutor resfolegava:

— Espero que as aplicações elétricas não o venham curar desse mal. Era o que faltava! Jamais empregaria estas ondas se pudesse temer semelhante efeito.

Contou-me uma anedota que achava saborosíssima. Um doente, que se queixava da mesma moléstia que eu, consultou um médico famoso para pedir que o curasse; o médico, tendo conseguido fazê-lo perfeitamente, foi obrigado a mudar de consultório senão o outro o teria esfolado vivo.

— A minha excitação não é normal — gritava eu. — Vem do veneno que arde em minhas veias!

O doutor murmurava com expressão amargurada:

— Ninguém está feliz com sua sorte.

Foi para convencê-lo que fiz o que ele não se dispunha a fazer: estudei minha enfermidade através de todos os seus sintomas. Minha distração! Até esta me impedia de estudar. Quando me preparava em Graz para o primeiro exame de direito, anotei cuidadosamente todos os testes de que necessitava até a prova final. Acontece que, poucos dias antes do exame, percebi que estudava só as matérias de que iria precisar alguns anos mais tarde. Por isso tive de trancar matrícula. É bem verdade que mesmo as outras matérias eu pouco havia estudado por causa de uma vizinha que, de resto, só me brindava com sua descarada provocação. Quando chegava à janela, eu não via mais o texto. Só um imbecil se comportaria assim. Recordo a carinha pequenina e clara da moça na janela: oval, circundada de airosos cachinhos louros. Eu a contemplava, sonhando esmagar contra o meu travesseiro aquela brancura emoldurada de ouro.

O esculápio murmurou:

— Sempre há na excitação alguma coisa de bom. Verá que na minha idade é inútil excitar-se.

Hoje sei com certeza que ele não entendia nada do assunto. Tenho cinqüenta e sete anos e estou certo de que, se não deixar de fumar ou se não for curado pela psicanálise, em meu leito de morte meu último olhar será de desejo pela minha enfermeira, se esta não for minha mulher e se minha mulher tiver permitido que ela seja bela!

Fui sincero como se me confessasse: a mulher não me atraía como um todo, mas... fragmentariamente. Em todas apreciava os pezinhos bem calçados; em muitas o colo delicado ou mesmo portentoso; e sempre os seios pequenos, pequeninos. E continuava enumerando as partes anatômicas femininas, quando o doutor me interrompeu:

— Estas partes formam uma mulher inteira.

Disse então algo importante:

— O amor saudável é aquele que se resume numa mulher apenas, íntegra, inclusive de caráter e inteligência.

Até então não conhecera tal amor e, quando este me sobreveio, nem mesmo ele conseguiu restaurar-me a saúde, embora para mim seja importante recordar que detectava a doença ali onde os doutos só viam saúde, acabando assim por confirmar o meu diagnóstico.

Na pessoa de um amigo leigo encontrei quem melhor entendeu a meu respeito e de minha doença. Não tive com isso grande vantagem, mas em minha vida vibrou uma nota nova que ecoa ainda hoje.

Meu amigo era um senhor rico que ornava seus ócios com estudos e trabalhos literários. Falava muito melhor do que escrevia e por isso o mundo não poderá avaliar o bom literato que perdeu. Era grande e gordo e quando o conheci estava empenhado num regime de emagrecimento. Em poucos dias chegara a tão excelentes resultados que os conhecidos se aproximavam dele na rua para comparar sua própria gordura com a progressiva magreza deste amigo. Tinha-lhe inveja porque conseguia fazer tudo quanto desejava, e por isso não o larguei enquanto durou seu tratamento. Fazia-me tocar-lhe a barriga que a cada dia diminuía mais, e eu, roído de despeito, para enfraquecer-lhe a determinação, dizia:

— Mas, concluída a dieta, o que fará você com toda esta pelanca?

Com grande calma, que tornava cômico seu rosto emaciado, respondia:

— Daqui a dois dias começarei as massagens.

Seu tratamento fora preparado em todos os detalhes e não tenho dúvida de que ele os cumpria com estrita regularidade.

Acabou por inspirar-me grande confiança e um dia descrevi-lhe a minha enfermidade. Recordo-me perfeitamente a minha descrição.