Não havia ruído que indicasse trabalho. Não os vejo tecendo nem fiando. No entanto detectei, quando o vento amainou e os ruídos cessaram, a mais doce e sutil das músicas, entoada com os lábios fechados — como um zumbido de colmeia distante em maio —, que era talvez o som dos pensamentos deles. Eles não tinham pensamentos ociosos, e ninguém de fora podia ver o trabalho da família, pois sua atividade não era do tipo que deixa arestas e nós à mostra.

Mas, para mim, é difícil recordá-los. Eles se dissipam irrevogavelmente na minha mente mesmo agora enquanto falo e tento evocá-los, organizando as ideias. É só depois de um longo e árduo esforço para recompor meus melhores pensamentos que me torno novamente consciente de sua presença aqui perto. Se não fosse por famílias como essa, acho que eu iria embora de Concord.

 

 

Na Nova Inglaterra temos o costume de dizer que cada vez menos pombos nos visitam a cada ano. Nossas matas já não fornecem castanhas para sua alimentação. Do mesmo modo, parece que cada vez menos pensamentos visitam um homem com o passar dos anos, pois o bosque de nossas mentes vai se exaurindo — vendido a fogueiras desnecessárias de ambição, ou vendido às fábricas, de modo que mal sobra um galho onde os pensamentos possam pousar. Eles não mais se aninham nem dão cria junto a nós. Numa estação mais amena e fecunda, talvez, uma leve sombra atravessa esvoaçando a paisagem da mente, projetada pelas asas de algum pensamento em sua migração primaveril ou outonal, mas, ao olhar para cima, não somos capazes de captar a substância do pensamento em si. Nossos pensamentos alados se converteram em aves de galinheiro. Não voam mais a grandes alturas, limitam-se a uma grandiosidade de Xangai ou da Cochinchina. São esses os graaandes pensamentos, os graaandes homens de que os senhores ouvem falar!

 

 

Ficamos sempre grudados à terra; raramente nos elevamos. Penso que deveríamos subir um pouco mais. Poderíamos pelo menos trepar numa árvore. Fiz minha parte certa vez escalando uma. Era um grande pinheiro branco, no topo de uma colina; e, embora eu tenha ficado coberto de resina, fui bem recompensado por isso, pois descobri no horizonte novas montanhas que nunca tinha visto — um pedaço bem maior de terra e de céu. Eu poderia ter passado setenta anos caminhando ao pé da árvore sem jamais ver nada daquilo. Mas, acima de tudo, descobri ao meu redor — era quase final de junho —, nas pontas dos galhos mais altos, delicadas e miúdas flores vermelhas em forma de cone, a fértil flor do pinheiro branco olhando para o céu. Carreguei direto para o vilarejo os brotos mais elevados e mostrei-os a jurados vindos de fora — pois era semana de julgamento na cidade — e a fazendeiros, comerciantes de madeira, lenhadores e caçadores, e nenhum deles havia visto algo semelhante até então; ficaram tão espantados como se estivessem diante de um asteroide caído. Isso lembra os arquitetos da antiguidade que davam ao topo de suas colunas um acabamento tão perfeito quanto o das suas partes mais baixas e visíveis. A Natureza desde o início estendeu as minúsculas flores da mata exclusivamente para os céus, acima da cabeça do homem e invisíveis a ele. Vemos apenas as flores que estão sob nossos pés na campina. Os pinheiros desenvolveram suas delicadas flores nos ramos mais altos da mata a cada verão ao longo de eras inteiras, sobre a cabeça dos filhos da Natureza de pele vermelha e de pele branca; no entanto, raro foi o lavrador ou o caçador que as viu.

 

 

Acima de tudo, não podemos nos dar ao luxo de deixar de viver no presente. É abençoado entre todos os mortais aquele que não perde nem um instante da vida efêmera remoendo o passado. A menos que nossa filosofia ouça o galo cantar em cada curral ao nosso redor, ela perderá a hora. Esse som sempre nos lembra que estamos ficando enferrujados e obsoletos em nossas ocupações e hábitos de pensamento. A filosofia do galo tem os pés fincados num tempo mais atual que o nosso. Há algo sugerido por ela que é um testamento ainda mais novo — o evangelho segundo o atual momento.