Reconhecendo-o, falam da decadência das virtudes políticas e civis de Florença. Chegam, depois à orla de outro precipício, onde a um sinal de Virgílio, sobe, voando pelos ares, uma figura estranhíssima.

Già era in loco onde s’udia ’l rimbombo

de l’acqua che cadea ne l’altro giro,

simile a quel che l’arnie fanno rombo,

EM lugar stava já donde se ouvia

Rumor, igual de abelhas ao zumbido,

De água, que noutro círculo caía:

quando tre ombre insieme si partiro,

correndo, d’una torma che passava

sotto la pioggia de l’aspro martiro.

Eis três sombras partir vi comovido,

Correndo, de uma turba que passava

Debaixo do martírio desmedido.

Venian ver’ noi, e ciascuna gridava:

“Sòstati tu ch’a l’abito ne sembri

essere alcun di nostra terra prava”.

Vinham a nós, e cada qual gritava:

“Detém-te; por teus trajos se afigura

Seres alguém da nossa terra prava”. —

Ahimè, che piaghe vidi ne’ lor membri,

ricenti e vecchie, da le fiamme incese!

Ancor men duol pur ch’i’ me ne rimembri.

Ah! que chagas nos membros, na figura

O fogo lhes abria, novas e antigas!

Só recordando, eu sinto mágoa pura.

A le lor grida il mio dottor s’attese;

volse ’l viso ver’ me, e “Or aspetta”,

disse, “a costor si vuole esser cortese.

O mestre, que escutara — “Não prossigas!

Cumpre-te” — disse, o rosto me voltando, —

“Aguardando, lhes dar mostras amigas.

E se non fosse il foco che saetta

la natura del loco, i’ dicerei

che meglio stesse a te che a lor la fretta”.

“Não estivesse o fogo dardejando,

Como o lugar requer, te caberia

Mais pressa do que estão manifestando”. —

Ricominciar, come noi restammo, ei

l’antico verso; e quando a noi fuor giunti,

fenno una rota di sé tutti e trei.

Paramos. Renovando a vozeria

Um círc’lo junto a nós os três formaram,

Em que as mãos cada qual dos três unia.

Qual sogliono i campion far nudi e unti,

avvisando lor presa e lor vantaggio,

prima che sien tra lor battuti e punti,

Como atletas, que, nus, de óleo se untaram,

Mas, antes de lutar, dos adversários

No fraco atentam, no seu prol reparam:

così rotando, ciascuno il visaggio

drizzava a me, sì che ’n contraro il collo

faceva ai piè continüo vïaggio.

Eles, se revolvendo em giros vários,

Olhavam-me em tal modo colocados,

Que os colos aos seus pés stavam contrários.

E “Se miseria d’esto loco sollo

rende in dispetto noi e nostri prieghi”,

cominciò l’uno, “e ’l tinto aspetto e brollo,

“Se a miséria, em que somos trateados,

Se o triste aspecto da tostada face

Te move a desdenhar súplices brados,

la fama nostra il tuo animo pieghi

a dirne chi tu se’, che i vivi piedi

così sicuro per lo ’nferno freghi.

“Nossa fama o teu ânimo traspasse;

E pois, dize quem és que, ufano, o inferno

Calcas antes que a vida se finasse.

Questi, l’orme di cui pestar mi vedi,

tutto che nudo e dipelato vada,

fu di grado maggior che tu non credi:

“Este, por quem os passos meus governo,

Escoriado e nu, que ora estás vendo,

Mais do que o crês no mundo foi superno.

nepote fu de la buona Gualdrada;

Guido Guerra ebbe nome, e in sua vita

fece col senno assai e con la spada.

“Da famosa Gualdrada o neto sendo,

Chamou-se Guido Guerra[1], e foi na vida

Por esforço e prudência reverendo.

L’altro, ch’appresso me la rena trita,

è Tegghiaio Aldobrandi, la cui voce

nel mondo sù dovria esser gradita.

A Tegghiaio Aldobrandi[2], que em seguida

Me vai, por sua voz, por seus bons feitos

Devera ser a pátria agradecida.

E io, che posto son con loro in croce,

Iacopo Rusticucci fui, e certo

la fiera moglie più ch’altro mi nuoce”.

Eu que também da pena sofro efeitos

Jacopo Rusticucci[3] fui: da esposa

O maior mal causaram-me os defeitos”. —

S’i’ fossi stato dal foco coperto,

gittato mi sarei tra lor di sotto,

e credo che ’l dottor l’avria sofferto;

Se houvesse amparo à chuva pavorosa

(Virgílio o consentira), eu me lançara

Entre eles, da alma na expansão piedosa;

ma perch’io mi sarei brusciato e cotto,

vinse paura la mia buona voglia

che di loro abbracciar mi facea ghiotto.

Porém naqueles fogos me abrasara,

Sobrepujou temor vivo desejo,

Que de abraçá-los súbito me entrara.

Poi cominciai: “Non dispetto, ma doglia

la vostra condizion dentro mi fisse,

tanta che tardi tutta si dispoglia,

“Não desdém, mas piedade neste ensejo,

Que não se extinguira, me tem movido”

Lhes disse — “o padecer em que vos vejo,

tosto che questo mio segnor mi disse

parole per le quali i’ mi pensai

che qual voi siete, tal gente venisse.

“Tanto que o Senhor meu há proferido

Palavras, que a presença me indicaram

De almas quais sois neste lugar temido.

Di vostra terra sono, e sempre mai

l’ovra di voi e li onorati nomi

con affezion ritrassi e ascoltai.

“Da vossa terra sou: sempre exaltaram

Meu apreço e o dos que vos conheceram

Ações que os nomes vossos tanto honraram.

Lascio lo fele e vo per dolci pomi

promessi a me per lo verace duca;

ma ’nfino al centro pria convien ch’i’ tomi”.

“Por meu Guia veraz esperançado,

Deixo o fel por doçura permanente

Tendo primeiro o centro visitado”. —

“Se lungamente l’anima conduca

le membra tue”, rispuose quelli ancora,

“e se la fama tua dopo te luca,

“Que no teu corpo a vida longamente

Persista!” — a sombra disse. — “Dure a fama

Do nome teu com lume resplendente!

cortesia e valor dì se dimora

ne la nostra città sì come suole,

o se del tutto se n’è gita fora;

“Na pátria nossa inda revive a flama

Da honra, do valor, que ali brilhara,

Ou de todo a expeliu ódio que infama?

ché Guiglielmo Borsiere, il qual si duole

con noi per poco e va là coi compagni,

assai ne cruccia con le sue parole”.

“Pois Guilherme Borsiere[4], que baixara,

Há pouco, e vai chorando nesta ardência,

Cruciou-nos contando o que notara”. —

“La gente nuova e i sùbiti guadagni

orgoglio e dismisura han generata,

Fiorenza, in te, sì che tu già ten piagni”.

“Íncolas novos, súbita opulência,

— Florença, orgulho e vícios te acenderam,

De que tu própria temes a influência!” —

Così gridai con la faccia levata;

e i tre, che ciò inteser per risposta,

guardar l’un l’altro com’al ver si guata.

Gritei alçando a fronte: e os três, que me eram

Atentos, à resposta se encararam,

Como se essas verdades lhes prouveram.

“Se l’altre volte sì poco ti costa”,

rispuoser tutti, “il satisfare altrui,

felice te se sì parli a tua posta!

“Se tão pouco te custa” — me tornaram —

“Sempre aos outros expor teu pensamento,

Feliz tu! Vozes tais assaz te honraram.

Però, se campi d’esti luoghi bui

e torni a riveder le belle stelle,

quando ti gioverà dicere “I’ fui”,

“E, pois, voltando a luz do firmamento,

Se alfim saíres desta estância horrente,

Quando — “Lá fui!” — disseres, de contente,

fa che di noi a la gente favelle”.

Indi rupper la rota, e a fuggirsi

ali sembiar le gambe loro isnelle.

“Nos olvidar não deixa a humana gente”. —

Então, rompendo o círculo, fugiram,

Como se asas tiveram, velozmente.

Un amen non saria possuto dirsi

tosto così com’e’ fuoro spariti;

per ch’al maestro parve di partirsi.

Em menos tempo aos olhos se esvaíram

Do que proferir amen se gasta.

Logo aos passos do Mestre os meus seguiram.

Io lo seguiva, e poco eravam iti,

che ’l suon de l’acqua n’era sì vicino,

che per parlar saremmo a pena uditi.

Dali distância curta nos afasta,

Eis da água os sons ouvimos, tão de perto,

Que a voz forçar para se ouvir não basta.

Come quel fiume c’ ha proprio cammino

prima dal Monte Viso ’nver’ levante,

da la sinistra costa d’Apennino,

Como o rio que, no álveo próprio aberto,

Em Veso nasce e vai para o oriente,

Ao lado esquerdo do Apenino, e ao certo

che si chiama Acquacheta suso, avante

che si divalli giù nel basso letto,

e a Forlì di quel nome è vacante,

Aquaqueta se chama, da eminente

Parte enquanto não desce, mas, tomando

Nome diverso em Forli de repente,

rimbomba là sovra San Benedetto

de l’Alpe per cadere ad una scesa

ove dovea per mille esser recetto;

Rebomba e cai pela quebrada, quando

Acerca-se a S. Bento, o grão mosteiro

Que dar a mil pudera asilo brando:

così, giù d’una ripa discoscesa,

trovammo risonar quell’acqua tinta,

sì che ’n poc’ora avria l’orecchia offesa.

Assim desde um penhasco sobranceiro

Da água rubra troava alto estampido,

Que fora de surdez risco certeiro.

Io avea una corda intorno cinta,

e con essa pensai alcuna volta

prender la lonza a la pelle dipinta.

De uma corda eu me achava então cingido

Com que outrora prender quis a pantera,

De pêlo em malhas várias repartido.

Poscia ch’io l’ebbi tutta da me sciolta,

sì come ’l duca m’avea comandato,

porsila a lui aggroppata e ravvolta.

Que a tirasse Virgílio me dissera:

Eu descingi-me presto, lha entregando

Enrolada, como ele prescrevera.

Ond’ei si volse inver’ lo destro lato,

e alquanto di lunge da la sponda

la gittò giuso in quell’alto burrato.

Então ele à direita se voltando,

A distância da borda alcantilada

Lançou-a longe para o abismo infando.

’E’ pur convien che novità risponda’,

dicea fra me medesmo, ’al novo cenno

che ’l maestro con l’occhio sì seconda’.

— “Àquela ação não de antes praticada,”

— Pensei — “há de seguir-se estranho efeito,

Que do Mestre a atenção tem despertada”. —

Ahi quanto cauti li uomini esser dienno

presso a color che non veggion pur l'ovra,

ma per entro i pensier miran col senno!

Quanta cautela deve haver e jeito,

Tratando-se com quem vê não somente

Os atos, mas também o que há no peito!

El disse a me: “Tosto verrà di sovra

ciò ch’io attendo e che il tuo pensier sogna;

tosto convien ch’al tuo viso si scovra”.

— “Surgirá” — disse o Mestre — “brevemente

O que espero: o que tens no pensamento

Logo aos teus olhos ficará patente.”

Sempre a quel ver c' ha faccia di menzogna

de' l'uom chiuder le labbra fin ch'el puote,

però che sanza colpa fa vergogna;

Verdade, que pareça fingimento,

Evita proferir homem discreto:

Sofre desar, de culpa estando isento.

ma qui tacer nol posso; e per le note

di questa comedìa, lettor, ti giuro,

s’elle non sien di lunga grazia vòte,

Nada posso omitir, leitor dileto:

Desta comédia pelos cantos juro

(Sejam assim de longo aplauso objeto!)

ch’i’ vidi per quell’ aere grosso e scuro

venir notando una figura in suso,

maravigliosa ad ogne cor sicuro,

Que subir por aquele ar grosso, escuro

Nadando vi figura temerosa

Ao peito mais intrépido e seguro:

sì come torna colui che va giuso

talora a solver l’àncora ch’aggrappa

o scoglio o altro che nel mare è chiuso,

Tal quem desceu pela onda perigosa

A desprender de ocultos embaraços,

Lá no fundo, a fateixa[5] vagarosa,

che ’n sù si stende e da piè si rattrappa.

Subindo, encolhe as pernas, tende os braços.

Canto XVII

Canto XVII, nel quale si tratta del discendimento nel luogo detto Malebolge, che è l’ottavo cerchio de l’inferno; ancora fa proemio alquanto di quelli che sono nel settimo circulo; e quivi si truova il demonio Gerione sopra ’1 quale passaro il fiume; e quivi parlò Dante ad alcuni prestatori e usurai del settimo cerchio.

Enquanto Virgílio fala com Gerion, para convencer essa horrível fera a levá-los ao fundo do abismo, Dante se aproxima das almas dos violentos contra a arte. Dante reconhece alguns deles. A cada um pende do peito uma bolsa na qual são desenhadas as armas da sua família. Volta depois o Poeta para o lugar onde está Virgílio, que assentado já sobre o dorso de Gerion, põe-no diante de si, e assim descem ao oitavo círculo.

“Ecco la fiera con la coda aguzza,

che passa i monti e rompe i muri e l'armi!

Ecco colei che tutto 'l mondo appuzza!”.

"EIS a fera, que a horrenda cauda enresta,

Que arneses, montes, muros atravessa

E com seu bafo impuro o mundo empesta!”

Sì cominciò lo mio duca a parlarmi;

e accennolle che venisse a proda,

vicino al fin d’i passeggiati marmi.

Assim Virgílio a me falar começa.

Para acercar-se logo lhe acenava

Ao marmóreo anteparo que ali cessa.

E quella sozza imagine di froda

sen venne, e arrivò la testa e ’l busto,

ma ’n su la riva non trasse la coda.

Da fraude o vulto imundo aproximava!

A cabeça avançou e o torpe busto,

Porém pendente a cauda lhe ficava

La faccia sua era faccia d’uom giusto,

tanto benigna avea di fuor la pelle,

e d’un serpente tutto l’altro fusto;

A cara assomos tinha de homem justo,

Tanto era o parecer beni’no e brando!

No mais serpe, movia horror e susto.

due branche avea pilose insin l’ascelle;

lo dosso e ’l petto e ambedue le coste

dipinti avea di nodi e di rotelle.

Grandes, hirsutos braços dilatando,

Alçava peito, ilhais, dorso malhados,

Mil rodelas e nós se entrelaçando.

Con più color, sommesse e sovraposte

non fer mai drappi Tartari né Turchi,

né fuor tai tele per Aragne imposte.

Mais cores nos estofos recamados

Tártaros, Turcos nunca misturaram,

Nem Aracne[1] em tecidos variegados.

Come talvolta stanno a riva i burchi,

che parte sono in acqua e parte in terra,

e come là tra li Tedeschi lurchi

Como os batéis, que à praia se amarram,

No mar a popa têm, a proa em terra;

E, como em regiões, que se deparam

lo bivero s’assetta a far sua guerra,

così la fiera pessima si stava

su l’orlo ch’è di pietra e ’l sabbion serra.

Sob o voraz Tudesco, a fazer guerra

Embosca-se o castor: assim se via

O monstro à orla, que as areias cerra.

Nel vano tutta sua coda guizzava,

torcendo in sù la venenosa forca

ch’a guisa di scorpion la punta armava.

No ar a extensa cauda revolvia;

E a venenosa ponta bipartida,

Do escorpião qual dardo, se erigia

Lo duca disse: “Or convien che si torca

la nostra via un poco insino a quella

bestia malvagia che colà si corca”.

“Té onde a fera atroz jaz estendida.

Convém seja o caminho desviado

Da senda” — disse o Vate — “prosseguida” —

Però scendemmo a la destra mammella,

e diece passi femmo in su lo stremo,

per ben cessar la rena e la fiammella.

Descendo, pois, pelo direito lado

Para o fogo fugir e a areia ardente

Passos dez pela borda hemos andado.

E quando noi a lei venuti semo,

poco più oltre veggio in su la rena

gente seder propinqua al loco scemo.

Chegados nós de Gerião em frente,

Um tanto além sentado um bando achamos

Na areia, perto desse abismo ingente.

Quivi ’l maestro “Acciò che tutta piena

esperïenza d’esto giron porti”,

mi disse, “va, e vedi la lor mena.

— “Do recinto por teres, em que estamos” —

Virgílio disse — “a experiência inteira

A sorte vai saber dos que avistamos.

Li tuoi ragionamenti sian là corti;

mentre che torni, parlerò con questa,

che ne conceda i suoi omeri forti”.

“Os discursos, porém, filho aligeira.

Entanto impetrarei da fera infanda

Que prestar-nos seus ombros fortes queira”. —

Così ancor su per la strema testa

di quel settimo cerchio tutto solo

andai, dove sedea la gente mesta.

Só pela borda, como o Vate manda,

Vou do círculo sétimo seguindo,

Dos mestos pecadores em demanda.

Per li occhi fora scoppiava lor duolo;

di qua, di là soccorrien con le mani

quando a’ vapori, e quando al caldo suolo:

A dor, que brota em lágrimas, sentindo,

Socorre-se das mãos a aflita gente

Contra o solo e o vapor, que está caindo.

non altrimenti fan di state i cani

or col ceffo or col piè, quando son morsi

o da pulci o da mosche o da tafani.

Assim lebréus, durante a calma ardente

Dos dentes e unhas valem-se, mordidos

De tavões por enxame impertinente.

Poi che nel viso a certi li occhi porsi,

ne’ quali ’l doloroso foco casca,

non ne conobbi alcun; ma io m’accorsi

Quando encarei nos rostos doloridos

De alguns, que os fogos tanto cruciavam,

Que eram todos achei desconhecidos.

che dal collo a ciascun pendea una tasca

ch’avea certo colore e certo segno,

e quindi par che ’l loro occhio si pasca.

Bolsas pendentes dos seus colos stavam,

Pelos sinais distintas, pelas cores:

Contemplando-as, seus olhos se enlevavam.

E com’io riguardando tra lor vegno,

in una borsa gialla vidi azzurro

che d’un leone avea faccia e contegno.

E vi já me acercando aos pecadores

Bolsa, na qual em campo de ouro havia

Azul, que era leão nos seus lavores,

Poi, procedendo di mio sguardo il curro,

vidine un’altra come sangue rossa,

mostrando un’oca bianca più che burro.

A vista, que já noutra se embebia,

Em sangüíneo rubor ganso eu notava,

Que a brancura do leite escurecia.

E un che d’una scrofa azzurra e grossa

segnato avea lo suo sacchetto bianco,

mi disse: “Che fai tu in questa fossa?

Grávida, azul jardava um, que ostentava,

Broslada sobre cândida escarcela,

— “Que buscas neste abismo?” perguntava.

Or te ne va; e perché se’ vivo anco,

sappi che ’l mio vicin Vitalïano

sederà qui dal mio sinistro fianco.

“Retira-te! Se a vida gozas bela,

Sabe que à sestra mão Vitaliano[2],

Vizinho meu terá condigna sela.

Con questi Fiorentin son padoano:

spesse fïate mi ’ntronan li orecchi

gridando: “Vegna ’l cavalier sovrano,

“Entre estes Florentinos sou Paduano;

A todo instante aturdem-me os ouvidos,

Bradando: — O nobre venha[3], o soberano,

che recherà la tasca con tre becchi!”“.

Qui distorse la bocca e di fuor trasse

la lingua, come bue che ’l naso lecchi.

“Que os três bicos na bolsa traz sculpidos”. —

Depois, torcendo a boca, a língua tira,

Qual boi, que os beiços lambe, ressequidos.

E io, temendo no ’l più star crucciasse

lui che di poco star m’avea ’mmonito,

torna’ mi in dietro da l’anime lasse.

Não querendo mover desgosto ou ira

Em quem mor brevidade me ordenara,

Os mesquinhos deixei: assaz ouvira.

Trova’ il duca mio ch’era salito

già su la groppa del fiero animale,

e disse a me: “Or sie forte e ardito.

Disse-me o Guia então, que cavalgara

O dorso do animal fero e possante:

“Sê forte, a tudo o ânimo prepara!

Omai si scende per sì fatte scale;

monta dinanzi, ch’i’ voglio esser mezzo,

sì che la coda non possa far male”.

“Se desce em tal escada de ora avante;

Sobe-te ao colo; ao meio irei sentado:

Que não te ofenda a cauda penetrante.”

Qual è colui che sì presso ha ’l riprezzo

de la quartana, c’ ha già l’unghie smorte,

e triema tutto pur guardando ’l rezzo,

De quartã qual doente, que, chegado

Supondo o acesso, lívido estremece

Somente ao ver lugar fresco, assombrado

tal divenn’io a le parole porte;

ma vergogna mi fé le sue minacce,

che innanzi a buon segnor fa servo forte.

Tal quando ouvi, meu peito, desfalece.

Ante o Mestre dá-me o pejo alento:

Bom amo o servo esforça que esmorece.

I’ m’assettai in su quelle spallacce;

sì volli dir, ma la voce non venne

com’io credetti: ’Fa che tu m’abbracce’.

Já sobre a espalda do animal cruento,

Quero ao vate gritar: “Senhor, me abraça!”

A voz, porém, não corresponde ao intento.

Ma esso, ch’altra volta mi sovvenne

ad altro forse, tosto ch’i’ montai

con le braccia m’avvinse e mi sostenne;

Ele, que a mente espavorida e lassa

Em circuito mais alto me animara,

Sustendo-me, nos braços seus me enlaça,

e disse: “Gerïon, moviti omai:

le rote larghe, e lo scender sia poco;

pensa la nova soma che tu hai”.

E disse a Gerião: “Vai, mais não pára.

Em circuitos largos sem ter pressa:

Na carga, que ora tens, nova repara!” —

Come la navicella esce di loco

in dietro in dietro, sì quindi si tolse;

e poi ch’al tutto si sentì a gioco,

Bem como esquife, que voar começa,

Manso e manso recua: assim moveu-se.

Quando ao largo sentiu-se, eis endereça

là ’v’era ’l petto, la coda rivolse,

e quella tesa, come anguilla, mosse,

e con le branche l’aere a sé raccolse.

A cauda aonde o peito seu tendeu-se.

Meneando-a, a retesa como enguia;

Das patas agitado o ar fendeu-se.

Maggior paura non credo che fosse

quando Fetonte abbandonò li freni,

per che ’l ciel, come pare ancor, si cosse;

Feton[4], quando as rédeas já perdia,

Ao ver do céu o incêndio, ainda aparente;

Ícaro[5], quando lhe cair sentia

né quando Icaro misero le reni

sentì spennar per la scaldata cera,

gridando il padre a lui “Mala via tieni!”,

Da cera cada pluma ao sol ardente,

Gritando o pai; — “Ai! filho! Erraste a strada!”

De pavor não se entraram mais veemente,

che fu la mia, quando vidi ch’i’ era

ne l’aere d’ogne parte, e vidi spenta

ogne veduta fuor che de la fera.

Do que eu nessa viagem desusada,

No ar quando me vi, quando enxergava

Só a cerviz da fera maculada:

Ella sen va notando lenta lenta;

rota e discende, ma non me n’accorgo

se non che al viso e di sotto mi venta.

Com tardo movimento ela nadava,

Que gira e baixa pelo vento eu sinto

Que em torno ao rosto e abaixo se agitava.

Io sentia già da la man destra il gorgo

far sotto noi un orribile scroscio,

per che con li occhi ’n giù la testa sporgo.

Já ouvia à direita bem distinto,

Troar da catadupa fragorosa:

Olhos inclino ao fundo do recinto.

Allor fu’ io più timido a lo stoscio,

però ch’i’ vidi fuochi e senti’ pianti;

ond’io tremando tutto mi raccoscio.

A mente estremeceu mais temerosa

Ao chamejar de fogo, ao som de pranto:

Encolhi-me ante a cena pavorosa.

E vidi poi, ché nol vedea davanti,

lo scendere e ’l girar per li gran mali

che s’appressavan da diversi canti.

De que descia então, com mor espanto,

Pelos males, que via, fiquei certo,

A mim se avizinhar a cada canto.

Come ’l falcon ch’è stato assai su l’ali,

che sanza veder logoro o uccello

fa dire al falconiere “Omè, tu cali!”,

Qual falcão que no ar pairava incerto,

Sem ver reclamo ou cobiçada presa

Perdida a esp’rança ao caçador esperto,

discende lasso onde si move isnello,

per cento rote, e da lunge si pone

dal suo maestro, disdegnoso e fello;

Descamba, fatigado e sem presteza,

Em voltas mil por onde se arrojara,

E longe pousa, ou de ira, ou de tristeza:

così ne puose al fondo Gerïone

al piè al piè de la stagliata rocca,

e, discarcate le nostre persone,

Tal Gerião, enfim, no fundo pára

Ao pé da penedia alcantilada,

Livre do peso já que carregara,

si dileguò come da corda cocca.

Sumiu-se como seta disparada.

Canto XVIII

Canto XVIII, ove si descrive come è fatto il luogo di Malebolge e tratta de’ ruffiani e ingannatori e lusinghieri, ove dinomina in questa setta messer Venedico Caccianemico da Bologna e Giasone greco e Alessio de li Interminelli da Lucca, e tratta come sono state loro pene.

Encontram-se os Poetas no oitavo círculo, chamado Malebolge, o qual é dividido em dez compartimentos concêntricos. Em cada um deles é punida uma espécie de pecadores, condenados por malícia ou fraude. No primeiro compartimento são punidos com açoites pela mão de demônios os alcoviteiros; e entre eles Dante reconhece Venedico Caccianemico e Jasão. No segundo jazem em esterco os aduladores e as mulheres lisonjeiras, entre outros, Alessio Interminelli, de Lucca e Taís.

Luogo è in inferno detto Malebolge,

tutto di pietra di color ferrigno,

come la cerchia che dintorno il volge.

TEM o inferno, de rocha construído,

De férrea cor, de muro igual cercado

Um lugar: Malebolge o nome havido.

Nel dritto mezzo del campo maligno

vaneggia un pozzo assai largo e profondo,

di cui suo loco dicerò l’ordigno.

Lá no centro do plaino inficionado

Se escancara grão poço, amplo e profundo:

Direi a compostura em tempo asado.

Quel cinghio che rimane adunque è tondo

tra ’l pozzo e ’l piè de l’alta ripa dura,

e ha distinto in dieci valli il fondo.

Espaço em torno estende-se rotundo

Entre o poço e o penhasco pavoroso:

Reparte-se em dez cavas o seu fundo.

Quale, dove per guardia de le mura

più e più fossi cingon li castelli,

la parte dove son rende figura,

Qual de fossos dobrados, cauteloso,

Se apercebendo, o alcáçar se assegura

Dos assaltos de imigo poderoso:

tale imagine quivi facean quelli;

e come a tai fortezze da’ lor sogli

a la ripa di fuor son ponticelli,

De abismos tais o aspecto se afigura.

Como da levadiça ponte entrada,

Aos de fora, do mundo na cintura,

così da imo de la roccia scogli

movien che ricidien li argini e ’ fossi

infino al pozzo che i tronca e raccogli.

Assim, do val no fundo começada,

Cada cava uma rocha atravessava

Em arco, para o poço concentrada.

In questo luogo, de la schiena scossi

di Gerïon, trovammoci; e ’l poeta

tenne a sinistra, e io dietro mi mossi.

De nós o monstro aqui se descargava:

À sestra mão seguiu logo o poeta,

E eu de perto fiel o acompanhava.

A la man destra vidi nova pieta,

novo tormento e novi frustatori,

di che la prima bolgia era repleta.

Novo tormento à destra me inquieta,

Novos algozes vejo, novas dores,

De que a primeira cava era repleta.

Nel fondo erano ignudi i peccatori;

dal mezzo in qua ci venien verso ’l volto,

di là con noi, ma con passi maggiori,

Stão lá no fundo nus os pecadores:

Do meio contra nós muitos caminham,

Outros conosco, em passos já maiores.

come i Roman per l’essercito molto,

l’anno del giubileo, su per lo ponte

hanno a passar la gente modo colto,

Em Roma, assim, às turbas, que se apinham

Do jubileu no tempo, sobre a ponte

Se abriu aos que iam trânsito e aos que vinham:

che da l’un lato tutti hanno la fronte

verso ’l castello e vanno a Santo Pietro,

da l’altra sponda vanno verso ’l monte.

De um lado andavam, os que tendo em fronte

O castelo, a S. Pedro se endereçam,

E do outro lado os que iam para o monte.

Di qua, di là, su per lo sasso tetro

vidi demon cornuti con gran ferze,

che li battien crudelmente di retro.

Daqui, dali nas bordas, os apressam

Cornígeros demônios, açoitando

Com grandes azorragues, que não cessam,

Ahi come facean lor levar le berze

a le prime percosse! già nessuno

le seconde aspettava né le terze.

Como aos golpes primeiros cada bando

Se apressa! Como cada qual evita

Que se repita o estímulo execrando!

Mentr’io andava, li occhi miei in uno

furo scontrati; e io sì tosto dissi:

“Già di veder costui non son digiuno”.

Nesse andar minha vista num se fita,

Da parte oposta vindo, e logo eu disse:

— “Hei conhecido esta figura aflita”. —

Per ch’ïo a figurarlo i piedi affissi;

e ’l dolce duca meco si ristette,

e assentio ch’alquanto in dietro gissi.

Atentei mais, por que melhor o visse;

Deteve-se comigo o doce Guia

E deu que atrás o passo eu dirigisse.

E quel frustato celar si credette

bassando ’l viso; ma poco li valse,

ch’io dissi: “O tu che l’occhio a terra gette,

Aos olhos esquivar-se-me queria,

Os seus baixando; mas foi vão o intento.

—“Tu, que te curvas, já te hei visto um dia.

se le fazion che porti non son false,

Venedico se’ tu Caccianemico.

Ma che ti mena a sì pungenti salse?”.

“Se as feições não mudou-te o passamento

Venedico tu és Caccianemico[1].

Por que trato padeces tão cruento?” —

Ed elli a me: “Mal volontier lo dico;

ma sforzami la tua chiara favella,

che mi fa sovvenir del mondo antico.

— “De mau grado o que exiges significo;

Mas cedo ao claro som dessa loquela,

Que à memória me traz o mundo inico.

I’ fui colui che la Ghisolabella

condussi a far la voglia del marchese,

come che suoni la sconcia novella.

“Eu fui aquele, que Ghisola bela

Do Marquês entreguei ao vil desejo:

Ora a verdade a minha voz revela.

E non pur io qui piango bolognese;

anzi n’è questo loco tanto pieno,

che tante lingue non son ora apprese

“Comigo de Bolonha muitos vejo;

Com tantos nesta cava choro e peno,

Que a menos lá no mundo dá-se ensejo.

a dicer ’sipa’ tra Sàvena e Reno;

e se di ciò vuoi fede o testimonio,

rècati a mente il nostro avaro seno”.

“De dizer sipa[2] entre o Savena e o Reno,

Se a prova queres, lembra-te somente

De que em nós da avareza influi veneno”. —

Così parlando il percosse un demonio

de la sua scurïada, e disse: “Via,

ruffian! qui non son femmine da conio”.

Mas um demônio o atalhou. Furente,

Disse tangendo: — “Ó rufião, avante!

Mulher não há que vendas impudente!” —

I’ mi raggiunsi con la scorta mia;

poscia con pochi passi divenimmo

là ’v’uno scoglio de la ripa uscia.

Ao Mestre me tornei; — pouco distante

Era um rochedo, a que nos acercamos;

Da riba se elevava pra diante.

Assai leggeramente quel salimmo;

e vòlti a destra su per la sua scheggia,

da quelle cerchie etterne ci partimmo.

Assaz ligeiramente nos alçamos;

Fomos pela fragura à mão direita

E o eterno recinto assim deixamos.

Quando noi fummo là dov’el vaneggia

di sotto per dar passo a li sferzati,

lo duca disse: “Attienti, e fa che feggia

Chegados onde a curva estava feita

Para passagem dar aos fustigados,

O sábio Guia disse: — “A face espreita

lo viso in te di quest’altri mal nati,

ai quali ancor non vedesti la faccia

però che son con noi insieme andati”.

“Agora desses outros malfadados,

Em que ainda atender não conseguiste,

Porque não stavam para nós voltados”. —

Del vecchio ponte guardavam la traccia

che venìa verso noi da l’altra banda,

e che la ferza similmente scaccia.

Da antiga ponte divisamos triste,

Longa fileira: contra nós andava.

Cruel açoite em flagelar persiste.

E ’l buon maestro, sanza mia dimanda,

mi disse: “Guarda quel grande che vene,

e per dolor non par lagrime spanda:

Virgílio, quando eu nada perguntava,

— “Repara bem” — me diz — “na sombra altiva,

A quem pranto de dor faces não lava.

quanto aspetto reale ancor ritene!

Quelli è Iasón, che per cuore e per senno

li Colchi del monton privati féne.

“De Rei conserva a majestade viva!

É Jasão[3]: conquistou por força e manha

O velocino em Colcos fera e esquiva.

Ello passò per l’isola di Lenno

poi che l’ardite femmine spietate

tutti li maschi loro a morte dienno.

“A Lenos foi, depois que horrenda sanha

Feminil aos varões cortara a vida,

Nenhum poupando aquela fúria estranha.

Ivi con segni e con parole ornate

Isifile ingannò, la giovinetta

che prima avea tutte l’altre ingannate.

“Ali, de amor no enlevo embevecida,

Hipsífile[4] enganou, que já iludira

Suas irmãs, de compaixão movida.

Lasciolla quivi, gravida, soletta;

tal colpa a tal martiro lui condanna;

e anche di Medea si fa vendetta.

“Grávida e só deixou-a: atroz mentira

Mereceu-lhe dos tratos a amargura.

Vingada está Medéia, a quem traíra.

Con lui sen va chi da tal parte inganna;

e questo basti de la prima valle

sapere e di color che ’n sé assanna”.

“Quem perjurou como ele, há pena dura.

Do val primeiro baste o que sabemos

E de quantos aqui sofrem tortura”. —

Già eravam là ’ve lo stretto calle

con l’argine secondo s’incrocicchia,

e fa di quello ad un altr’arco spalle.

Numa estreita vereda já nos vemos,

Que co’a borda segunda se cruzava,

Sustentando outra ponte, a que tendemos.

Quindi sentimmo gente che si nicchia

ne l’altra bolgia e che col muso scuffa,

e sé medesma con le palme picchia.

Turba dali ouvimos, que chorava

De outra cava no encerro e que, assoprando,

Com suas próprias mãos se arrepelava.

Le ripe eran grommate d’una muffa,

per l’alito di giù che vi s’appasta,

che con li occhi e col naso facea zuffa.

Estava-lhe as paredes incrustando

A exalação que sobe e ali se prende.

Ferindo o olfato e a vista horrorizando.

Lo fondo è cupo sì, che non ci basta

loco a veder sanza montare al dosso

de l’arco, ove lo scoglio più sovrasta.

E tanto pelo abismo a cava estende,

Que só divisa quando está no fundo

Quem lá do cimo, perscrutando, atende.

Quivi venimmo; e quindi giù nel fosso

vidi gente attuffata in uno sterco

che da li uman privadi parea mosso.

Subimo-nos: então no fosso imundo

Vi gente em tal cloaca mergulhada,

Que a sentina figura ser do mundo.

E mentre ch’io là giù con l’occhio cerco,

vidi un col capo sì di merda lordo,

che non parëa s’era laico o cherco.

Enquanto olhava ali tão conspurcada

Cara notei, que distinguir não pude,

Se padre ou leigo fora a alma danada.

Quei mi sgridò: “Perché se’ tu sì gordo

di riguardar più me che li altri brutti?”.

E io a lui: “Perché, se ben ricordo,

— “Dizei por que tua vista não se mude

De mim, a imundos tantos desatenta!” —

Gritou-me. — E eu: — “Se a mente não me ilude,

già t’ ho veduto coi capelli asciutti,

e se’ Alessio Interminei da Lucca:

però t’adocchio più che li altri tutti”.

“Te vi sem cabeleira tão nojenta.

Alessio Interminei[5] de Lucca hás sido:

Em ti por isso a vista é mais atenta”. —

Ed elli allor, battendosi la zucca:

“Qua giù m’ hanno sommerso le lusinghe

ond’io non ebbi mai la lingua stucca”.

Ferindo a face, disse-me o descrido:

— “Aqui lisonjas vis me submergiram;

Língua indefessa em bajular hei tido”. —

Appresso ciò lo duca “Fa che pinghe”,

mi disse, “il viso un poco più avante,

sì che la faccia ben con l’occhio attinghe

Logo depois que vozes tais se ouviram,

Meu Guia: — “Olhos dirige um pouco avante,

E as feições me declara se atingiram

di quella sozza e scapigliata fante

che là si graffia con l’unghie merdose,

e or s’accoscia e ora è in piedi stante.

“De mulher desgrenhada e petulante

Que de unhas asquerosas se lacera,

Mudando de postura a cada instante.

Taïde è, la puttana che rispuose

al drudo suo quando disse “Ho io grazie

grandi apo te?”: “Anzi maravigliose!”.

“É Taís[6], a meretriz, que respondera

Ao namorado seu, quando dizia:

— “Te devo gratidão?” — “Muita e sincera!” —

E quinci sian le nostre viste sazie”.

Mas vamos: temos visto em demasia”. —

Canto XIX

Canto XIX, nel quale sgrida contra li simoniachi in persona di Simone Mago, che fu al tempo di san Pietro e di santo Paulo, e contra tutti coloro che simonia seguitano, e qui pone le pene che sono concedute a coloro che seguitano il sopradetto vizio, e dinomaci entro papa Niccola de li Orsini di Roma perché seguitò simonia; e pone de la terza bolgia de l’inferno.

No terceiro compartimento, onde os Poetas chegam, são punidos os simoníacos.