Não sou idiota a este ponto. Seria muito melhor que eu fosse, não há dúvida.

– É alguma coisa que você tenha apenas que sofrer?

– Bem, alguma coisa que eu tenho que esperar. Tenho que encontrar, que enfrentar, ver de repente irromper na minha vida. Provavelmente destruindo qualquer consciência posterior, provavelmente me aniquilando. Provavelmente, por outro lado, apenas alterando tudo, atingindo a raiz do meu ser e me deixando entregue às consequências, seja qual for a forma que elas assumirem.

Ela ouviu o que ele disse sem que o brilho de seus olhos revelasse a menor zombaria:

– Não será talvez isso que você descreveu a expectativa… ou, de qualquer maneira, o senso do perigo, familiar para tanta gente, de vir a amar alguém?

John Marcher ficou pensativo:

– Você me perguntou isso antes?

– Não. Eu não era tão descontraída naquela época. Mas é o que me ocorre agora.

– Claro – ele disse, ao fim de um momento. – Ocorre a você. É claro que me ocorre também. É claro que talvez não me esteja reservado nada mais do que isso. Acontece apenas que se fosse isso, acho que eu já estaria em tempo de saber.

– Você diz pelo fato de já ter amado alguém? – E como ele a olhasse em silêncio. – Você amou alguém e não significou esse cataclismo, não foi o grande acontecimento. Não é isso?

– Eu estou aqui, você pode ver. Não foi assim tão arrasador.

– Então não foi amor – concluiu May Bartram.

– Bem, pelo menos achei que era. Senti como se fosse. E tenho sentido até agora. Foi agradável, foi delicioso, foi infeliz – ele explicou. – Mas não foi estranho. Não foi como meu acontecimento deve ser.

– Você quer que aconteça alguma coisa só para você… Alguma coisa que ninguém mais saiba ou jamais tenha sabido?

– Não se trata do que eu queira. Deus sabe que não quero nada. Trata-se apenas da apreensão que me persegue… Com a qual eu vivo dia após dia.

Ele falou com tanta lucidez e coerência que podia sentir suas palavras se impondo por si mesmas. Se ela não estivesse interessada antes, estaria agora:

– É uma sensação de alguma violência iminente?

Era evidente que agora também ele estava de novo gostando de falar naquilo:

– Não penso que seja como… quando de fato vier… como necessariamente violento. Penso como alguma coisa natural e é claro que inconfundível, acima de tudo. Penso simplesmente como sendo a coisa. A coisa, em si, vai parecer natural.

– Então como é que vai parecer estranho?

Marcher refletiu um instante:

– Não vai… para mim.

– Para quem, então?

– Bem – ele respondeu, sorrindo afinal. – Digamos para você.

– Ah, então eu vou estar presente?

– Mas você está presente… desde que ficou sabendo.

– Entendo – ela retrucou. – Mas estou dizendo presente à catástrofe.

A este ponto, por um minuto, a leveza da conversa deu lugar à gravidade; foi como se o longo olhar que trocaram os mantivesse juntos:

– Depende somente de você… Se for esperar comigo.

– Você tem medo? – ela perguntou.

– Não me deixe agora – ele prosseguiu.

– Você tem medo? – repetiu ela.

– Acha que simplesmente não estou no meu juízo perfeito? – ele insistiu em vez de responder. – Dou a impressão de não passar de um doido inofensivo?

– Não – disse May Bartram. – Eu entendo você. Acredito em você.

– Quer dizer que você sente que minha obsessão, pobre coisa!, pode corresponder a uma possível realidade?

– A uma possível realidade.

– Você vai esperar comigo?

Ela hesitou, e então, pela terceira vez repetiu sua pergunta:

– Você tem medo?

– Eu lhe disse que tinha? Em Nápoles?

– Não, não disse nada a esse respeito.

– Então não sei.