A loja teve de fechar em meio a uma expansão urbana que prossegue até hoje.
Durante sua formação, Wells passou por um período de orientação com Thomas Huxley, grande cientista e humanista. Huxley, por sua vigorosa defesa da teoria evolutiva de Darwin, ficou conhecido como o “Buldogue de Darwin”. Entre seus netos estão Julian e Aldous Huxley. Depois de conquistar penosamente sua liberdade, Wells não parou de se desenvolver; ao longo de mais de cem livros, ele debateu questões como a evolução, a superpopulação, a educação e o aperfeiçoamento da humanidade.
Wells foi um dos principais colaboradores da Declaração dos Direitos do Homem de Sankey, que mais tarde integrou o estatuto das Nações Unidas. Quando a Assembleia Geral das Nações Unidas realizou sua primeira sessão em Londres, em janeiro de 1946, Wells estava em seus últimos meses de vida. Morreu serenamente em 13 de agosto do mesmo ano.
Sua energia criativa diminuiu à medida que sua força como polemista crescia. Em seus primeiros livros, esses aspectos estão equilibrados, e nunca de modo tão notável como em A guerra dos mundos. O tema eletrizante e assustador do romance pretende minar a arrogância humana. Ao longo da década de 1930, os romances deram lugar a tratados como The Way to World Peace (1930) [O caminho para a paz mundial], The Work, Wealth and Happiness of Mankind (1932) [O trabalho, a riqueza e a felicidade da humanidade], World Brain (1938) [Cérebro mundial], e The Fate of Homo Sapiens (1939) [O destino do Homo sapiens].
Parte da genialidade de Wells estava em inventar coisas nunca antes imaginadas. Um personagem de uma peça de Tchékhov diz: “Devemos mostrar a vida não como ela é nem como deveria ser, mas como a vemos em nossos sonhos”. É a receita dos surrealistas; no que Wells era muito bom, até começar a querer mudar o mundo — à força, se necessário. Nota-se um prenúncio desse desejo na conclusão do presente volume, quando o narrador diz que os marcianos fizeram muito para “promover o conceito de bem comum da humanidade”.
Mas dizer isso é começar pelo final. Vamos começar pelo começo, no magnífico parágrafo que abre A guerra dos mundos, que faz menção a alguém “munido de um microscópio”, que “examina as efêmeras criaturas que fervilham e se multiplicam numa gota d’água”. Essa primeira referência não muito cordial à humanidade como um todo será seguida por muitas outras descrições nada lisonjeiras.
Li o livro pela primeira vez quando era muito novo e já conhecia os romances mais convencionais aos quais o termo “clássico” era aplicado. Entre eles estão Robinson Crusoé, Oliver Twist e Jane Eyre. Mas nenhuma frase exerceu um impacto tão forte sobre mim quanto a que consta do primeiro parágrafo de A guerra dos mundos: “No entanto, através do abismo do espaço, mentes que em relação à nossa são como a nossa em relação às dos animais que perecem, intelectos vastos, frios e insensíveis, lançavam sobre este planeta olhares invejosos e, lenta e inexoravelmente, traçavam planos contra nós”. Quando antes alguém escrevera tal parágrafo de abertura, labiríntico e ainda sim translúcido? Não há aqui longas palavras, destinadas a impressionar; todas são moderadas e facilmente compreensíveis.
Assim Wells descortina o drama, já plantando as sementes de seu engenhoso desenlace.
O livro foi publicado em um só volume em 1898 depois de aparecer em capítulos numa popular revista de 1897, o ano do segundo jubileu vitoriano e de muita autocongratulação britânica.
Nas últimas décadas do século XIX, cresceu a popularidade dos chamados “romances-sensação”, “lidos tanto na sala de estar como na cozinha”. Esses romances podiam tratar de adultério ou bigamia — exemplos famosos de ambos são Lady Audley’s Secret [O segredo de Lady Audley] e East Lynne (onde aparece a famosa frase, “Morto... e nunca me chamou de mãe!”). Em parte, o sucesso desses romances foi resultado do projeto de lei de 1871 que estipulava ensino básico público para todos. Era a primeira vez que o Estado assumia responsabilidade direta pela educação do povo. Nascia um novo público leitor, pronto para as maravilhas do sr. H. G. Wells.
Há emoções mais avassaladoras do que o adultério, mais terríveis do que a bigamia. A emoção da guerra e das mudanças sociais que Wells oferecia também emergiu nas últimas décadas do século XIX. Só no ano de 1871 apareceram The Coming Race [A corrida futura], de Bulwer Lytton, Erewhon, de Samuel Butler, e The Battle of Dorking [A batalha de Dorking], do coronel George Chesney. O último descreve uma invasão alemã na Inglaterra, que, despreparada, é derrotada.
A história de Chesney produziu efeito imediato, popular e político. O tema de guerras futuras e invasões súbitas que levam a nação despreparada à derrota inevitável suscitou temores e imitações por toda parte. Como o professor I.
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